Da última vez, deu Vasco

 

Na próxima quarta-feira, o Vasco irá decidir sua sorte na Copa do Brasil diante do Santos, num jogo com garantia de estádio lotado e emoções fortes.

Da última vez que ambas se enfrentaram num confronto decisivo com jogos de ida e volta, deu Vasco, na final do título do Torneio Rio-SP de 1999. Na primeira partida, no Maracanã, vitória cruzmaltina por 3×1. E nova vitória no segundo jogo, dessa vez por 2×1.

Foi uma noite inesquecível para um esquadrão que fez história no futebol brasileiro.

O Vasco podia até perder a final por um gol de diferença, mas foi ao Morumbi, templo do futebol paulista, e derrotou o Santos. No primeiro gol, Zé Maria executou uma venenosa cobrança de falta. A equipe santista empatou com Alessandro e cometeu o erro de ir para a frente. Num contra-ataque mortal, Juninho assinalou o gol da vitória, que premiou  a equipe que naquele momento era a melhor do Brasil e da América.

Recordar é viver!

“Ao Vasco bastava o empate, mas o campeão sul-americano mostrou ontem no Morumbi por que é considerado um dos melhores times do Brasil. Jogou com personalidade, não se assustou com a pressão do Santos e venceu por 2 a 1 com autoridade, conquistando o Rio-São Paulo com justiça. Pelo tricampeonato do torneio (o Vasco fora campeão em 58 e 66), os jogadores ganharam o ótimo prêmio de R$ 50 mil pelo título. Pelo segundo ano consecutivo, o futebol carioca conquistou o torneio: o Botafogo foi o campeão em 1998.

O jogo foi eletrizante como se espera de uma final. O Santos, naturalmente empurrado pela necessidade de fazer pelo menos dois gols, foi à frente. Mas quem esperava um Vasco atrás, em busca do empate que garantiria o título, se enganou. A primeira oportunidade, porém, foi do Santos. Logo aos dois minutos, Jorginho chutou com efeito, da entrada da área, e a bola passou raspando a trave direita. A resposta veio no ataque seguinte. Luizão recebeu na entrada da área e foi derrubado por Claudiomiro. O juiz Cláudio Cerdeira, porém, ignorou a falta.

Cerdeira marcaria, no entanto, uma aos nove, sobre Donizete. Juninho bateu com força e a bola foi na trave de Zetti. Em jogo aberto, logo o Santos estava em cima do Vasco. Aos 19 minutos, Anderson cobrou córner da direita e Claudiomiro cabeceou com grande perigo. Três minutos depois, Alessandro, novamente de cabeça, quase marcou. Do lado de fora, o técnico Leão se desesperava. Com a arbitragem, como de costume, e com Alessandro.

— O Alessandro precisa ir para esquerda e aproveitar o medo que eles estão dele. É preciso inteligência — disse o treinador.

Mas as jogadas não aconteciam. O Santos, aos poucos imprensou o Vasco, porém, não conseguiu criar muitas chances. Tinha o maior volume e não transformava isso em vantagem. Faltava ao Santos exatamente o que sobrava ao Vasco: uma boa estratégia para decidir.

Recuados, os cariocas esperavam o momento de contra-atacar. Ele surgiu aos 42 minutos, quando Juninho lançou Ramon livre. Ramon demorou a chutar e foi desarmado por Marcos Bazílio.

O Vasco já parecia satisfeito com o empate no primeiro tempo quando conseguiu uma inesperada vantagem. Zé Maria cobrou falta do lado esquerdo, a barreira abriu e Zetti foi surpreendido.

— O professor (Leão) pediu para a gente abrir o jogo. Vamos ver se no segundo tempo o obedecemos — disse Alessandro

Ele mesmo se encarregou de cumprir a promessa. Logo aos 30 segundos, Alessandro cortou dois vascaínos, chutou cruzado, empatou o jogo e incendiou o Morumbi. Melhor do que Leão planejara. Era hora de pressionar.

O Santos poderia ter virado o jogo aos seis, mas quando Camanducaia ia chutar, Viola o atrapalhou e bateu de pé direito, fraco, nas mãos de Carlos Germano. Aos 10, o goleiro fez difícil defesa em cruzamento de Alessandro. Muito mais do que no primeiro tempo, o Santos dominava.

O técnico Antônio Lopes percebeu que era hora de tomar uma atitude e pôs Vágner no lugar de Donizete. O titular saiu de cara feia, mas a mudança surtiu efeito. Aos poucos, o controle que o Santos tinha do jogo se transformou em descontrole emocional. Vágner, com seus dribles, irritava os santistas que apelavam mais do que de hábito para as faltas.

Leão cansou de Viola e, quando o substituía por Rodrigão, sofreu o golpe decisivo. Juninho escapou pela direita e deslocou Zetti, aos 29 minutos. Alessandro quase empatou aos 36, mas, mesmo que conseguisse, dificilmente o Santos conseguiria virar o jogo.

O título já tinha um dono. Era do Vasco.”

Jornal O Globo (04/03/1999)

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