Naquela que seria a mais importante partida do Campeonato Carioca até ali, Vasco e América se defrontariam em São Januário, num clássico imprevisível.
A equipe de São Januário fora derrotada dentro de casa pelo Fluminense e computava com este revés inesperado (o tricolor até aquele jogo já havia perdido três vezes no campeonato), mais um empate diante do São Cristovão em 2 x 2, a perda de três pontos. Somara até ali 11, em 14 disputados.
Já os rubros, em busca do bicampeonato, vinham atropelando seus adversários e mantinham 100% de aproveitamento. A equipe de Campos Sales goleara o SC Brasil, da Urca, por 5 x 1; o Andarahy (6 x 0); o Bonsucesso, fora de casa (7 x 0), vencera dois clássicos, contra Botafogo (3 x 2) e Flamengo (3 x 1) e vinha ainda de uma vitória frente ao Syrio e Libanez, no campo do adversário, pelo placar de 3 x 2.
Adversários esmagados pelo América deram mais trabalho ao Vasco. O Andarahy tomou de 2 x 0 e o Bonsucesso caiu por um escore apertado: 2 x 1. Ambas as partidas realizadas longe de São Januário. Já o Syrio e Libanez dera trabalho aos dois clubes, tendo sucumbido diante do Vasco por 4 x 3.
Mas os camisas negras haviam aplicado também duas retumbantes goleadas. O SC Brasil, espécie de saco de pancadas da época, apanhou de 5 x 0. Já contra o Bangu um escore abusado. O Vasco meteu 9 x 1 no adversário.
Pela distância em termos de pontos perdidos caberia ao Vasco embrenhar-se ao máximo para vencer, reduzindo o prejuízo, ainda mais por atuar em casa na ocasião.
A diretoria cruzmaltina fez circular antes do início da partida um boletim aconselhando moderação nas manifestações, o que na prática não adiantou nada, pois vaias foram ouvidas de quando em quando durante o espetáculo. O estádio estava repleto de torcedores.
A partida começa com o América em cima e o arqueiro vascaíno Valdemar é obrigado a praticar duas defesas quase consecutivas. Primeiro num chute de Sobral, e após nova carga do adversário novamente teve de trabalhar num tiro mais próximo ainda de sua meta, desferido por Oswaldinho.
O Vasco se refaz do susto e logo em seguida ameaça. Primeiro numa conclusão fraca, defendida por Joel e depois com Russinho, que atirou por cima da trave uma oportunidade para marcar.
Pouco depois a meta americana quase caiu pela primeira vez. Em potente petardo desferido por Mário Matos a bola explodiu na trave, para sorte dos rubros.
Aos 11 minutos surge o primeiro tento da tarde. Numa blitz cruzmaltina à área adversária Fausto pegou o rebote e bateu em gol. A bola chegou ainda a tocar em Hildegardo antes de entrar. Vasco 1 x 0.
Jornal do Brasil (03/06/1929)
A partida se torna mais renhida, porém é mesmo o Vasco quem volta ao ataque. Desta vez Mário Matos acerta o alvo, mas Joel mergulha para defender e evitar mais um.
Outra vez os camisas negras no ataque. Santana centrou, Joel fez defesa parcial, mas o gol ficou aberto. Pepico aproveitou o rebote e mandou na direção certa, mas no meio do caminho a pelota encontrou a cabeça de Hildegardo. Quase o segundo
Aos 30 minutos bela combinação do ataque vascaíno. Pepico avançou, passou a Santana que balançou as redes num arremate preciso. Vasco 2 x 0.
A primeira etapa termina com total domínio da equipe anfitriã em campo. Parecia ter sido escolhido a dedo o dia de uma grande atuação do onze comandado por Harry Welfare.
O segundo tempo começa mais equilibrado. Os dois times chegam à frente, trazendo perigo às respectivas metas.
Substituição no plantel americano. Sai Gilberto e entra Mário Pinto no meio, trocando de posição no campo com Sobral, que cai para a extrema.
O Vasco volta a ameaçar o arco de Joel. Santana escapa e serve a Russinho, que dispara para a meta, mas Joel executa linda defesa. O guarda metas rubro faria outra logo em seguida.
Mas o América está vivo. Em cobrança de falta Valdemar é chamado a intervir a fim de impedir a mexida no marcador.
Nos últimos 10 minutos o time visitante parte com tudo para descontar. Após um tento bem anulado, consignado por Oswaldinho, surge a oportunidade de os rubros marcarem quando Fausto põe a mão na bola dentro da área e comete pênalti. Oswaldinho bate bem e diminui, aos 33 minutos.
O Vasco promove uma alteração. Entra João Mello no lugar de Santana.
As duas equipes não conseguem criar novas chances cristalinas de gol até o fim do espetáculo, que termina com um merecido triunfo do quadro cruzmaltino.
A vitória alcançada pelo Vasco reduzia a distância entre ele e o líder, que acabara de derrotar. O São Cristovão, com quatro pontos perdidos mostrava-se também disposto a chegar ao topo da tabela, mas conforme o campeonato foi seguindo era nítido para o público carioca quem de fato poderia se sagrar campeão: América ou Vasco.
A Noite (03/06/1929)
O Globo (03/06/1929)
O Globo (03/06/1929)
Outros jogos do Vasco em 02 de junho:
Vasco 2 x 0 Carioca (Amistoso 1935)
Celta-ESP 0 x 1 Vasco (Amistoso 1955)
Bonsucesso 1 x 9 Vasco (Torneio Municipal 1946)
Vasco 1 x 0 Madureira (Carioca 1968)
Palmares-RO 1 x 3 Vasco (Amistoso 1994)
Vasco 1 x 0 Olaria (Carioca 1973)
Vasco 5 x 1 Madureira (Carioca 1996)
Casaca!
A história é a maior riqueza de um povo, de um clube.
Torço para que a nova geração, pouco chegada a leitura e a análise de fatos, de entendimento do viés político que por toda a história fez sermos enxergados como o intruso, pobre, soberbo que se meteu onde nao devia e que só se impôs pela União e pelo amor a sua propria causa.
Sugiro ao Casaca que construa uma outra seção de informações históricas, esta falando e mostrando as ações mais politizadas e de cunho social que somente o CRVG pode fazer: acolhimento de negros, carta histórica, construção de Sao Januário, desfile de escola de samba em Sao Januário, CLT assinada por Getúlio em São Januário, doação dos aviões para a FAB etc
Fatos históricos não nos faltam e este povo novinho que acha que tudo é o que a midia enfia pela goela, precisa ter a noção e assim criar o orgulho que irá nos defender.
Abraços