Vasco hoje (27/05/1944) – Vitória vascaína a 15 segundos do fim

Vasco e América marchavam quase lado a lado na disputa pela conquista do Torneio Municipal daquele ano.

Os cruzmaltinos permaneciam com aproveitamento de 100% na competição, após derrotarem o Fluminense (3 x 1), Canto do Rio (2 x 1), Madureira (5 x 3) e Bonsucesso (3 x 0).

Já os rubros haviam estreado contra o Flamengo e empatado por 2 x 2, após estarem perdendo por 2 x 0 até os 40 minutos do 2º tempo. Em seguida golearam o Bangu, marcando 6 x 2, derrotaram o Fluminense por 3 x 1 e venceram o Madureira pelo placar de 3 x 1.

Na noite de sábado se enfrentariam o então Campeão Invicto do Torneio Relâmpago daquele ano, líder do certame municipal, e seu principal concorrente.

O América, do goleiro Osni, do craque Danilo Alvim, do estiloso Maneco, o “Saci de Irajá”, dos mortais ponteiros, China e Jorginho, teria ainda de volta aquele que era considerado por vários da imprensa o principal zagueiro em atividade no Brasil: o argentino Gritta.

O Vasco também contava com um argentino para comandar a zaga, Rafanelli, AlfredoII na linha média, mas os grandes destaques do time, além do bravo ponteiro esquerdo Chico, eram o trio apelidado de “Os três patetas”, trazido junto ao Madureira e que brilhara na Seleção Brasileira em dois amistosos recentes diante do Uruguai (6 x 1 e 4 x 0), responsáveis pela feitura de 5 dos 10 gols anotados pelo escrete nacional. Lelé, Jair Rosa Pinto e Isaías eram as grandes esperanças de gols e títulos para o clube naquele momento.

De fato, no Torneio Relâmpago disputado em março o trio assinalara 7 dos 14 gols marcados pelo time e no próprio Torneio Municipal os três juntos faturaram 10 dos 13 tentos da equipe até ali.

No sábado à noite o campo neutro das Laranjeiras abrigou excelente público (recorde de renda na temporada até ali) e um espetáculo dos mais emocionantes, conforme se comprova pela descrição do jogo.

A primeira grande chance do clássico cabe ao Vasco. Berascochea estica para Jair, que investe pela meia e dá no buraco da zaga para Isaías. O atacante se precipita e frente ao goleiro Osni atira por cima, desperdiçando grande oportunidade para inaugurar o marcador.

Logo em seguida o América responde. Em jogada organizada por Maneco, César recebe e entrega a China, que manda um pelotaço, defendido otimamente por Oncinha.

Os vascaínos voltam a pressionar. Lelé tabela com Isaías e dá a Chico, que invade mas chuta para fora, com Osni praticamente fora da jogada.

Num lance até certo ponto surpreendente surge o gol do Vasco aos 14 minutos. Lelé recebe de Isaías, avança desde o centro do campo, passa por dois marcadores e quando se esperava uma aproximação do jogador à área, este desfere um petardo de longe, violento, surpreendendo Osni e abrindo o placar.

Logo após ser reiniciada a partida  Chico teve um gol seu anulado pela arbitragem, após centro de Jair. Nenhum jornal contestou a marcação do árbitro.

O Vasco quer o segundo. Djalma entrega a Lelé que de primeira arremata para gol, mas Osni pratica linda defesa.

O América reage e Oncinha é chamado a fazer uma defesa espetacular em cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro se contunde no lance, mas se recupera em seguida e permanece em campo.

Bem no jogo, o Vasco volta à carga e Jair, aproveitando-se de uma confusão na área adversária, cabeceia para as redes, aumentando a contagem aos 23 minutos. Vasco 2 x 0.

Três minutos depois , entretanto, o América diminuiu com Maneco, aproveitando-se de uma indecisão da zaga cruzmaltina, após cobrança de falta efetuada por Benedito. No lance, o centroavante César empurrou Rafanelli, cometendo falta ignorada pela arbitragem, segundo pontuou o jornal “ A Noite”. Nenhum outro diário fez qualquer alusão à suposta infração.

Próximo ao fim do período inicial os rubros atacam e Maneco atira para o arco vascaíno, mas Oncinha defende parcialmente. No rebote novo tiro à boca da meta, mas Oncinha, mesmo caído, consegue defender milagrosamente, evitando o tento de empate.

O panorama na segunda etapa não muda. O América ataca e o Vasco responde. Mas a primeira chance real de gol é desperdiçada por Maneco, que após tabela com César fica frente a frente com Oncinha, mas bate nas mãos do goleiro cruzmaltino.

O gol de empate americano surge aos 18 minutos, em cobrança de falta efetuada por China, próxima à área. A infração fora cometida por Rubens em Lima. O chute foi certeiro, violento, sem chance de defesa para Oncinha. Tudo igual no clássico.

O jogo fica empolgante, com as duas equipes em busca do tento da vitória. Lelé é derrubado na área, mas o árbitro nada marca (a “Gazeta de Notícias” e o “Jornal do Brasil” pontuaram o lance e o erro do árbitro).

Jorginho e Rubens disputam a bola pelo alto e ela sobra para Maneco em condições de marcar, mas o juiz paralisa, marcando falta para o Vasco. Para os jornais “A Noite”, “Diário da “Noite”, “Jornal dos Sports” e “O Globo” não ocorrera falta no lance.

Animada a equipe de Campos Sales parte para cima, mas tem um gol anulado pelo árbitro aos 42 minutos por impedimento. A marcação enfureceu o centroavante César, que xingou o juiz e acabou expulso. Os jornais “Correio da Manhã”, “Gazeta de Notícias”, “Jornal do Brasil” e “O Globo” entenderam como errada a invalidação do tento, enquanto o “Diário Carioca”, “Diário da Noite”, “Diário de Notícias” e “Jornal dos Sports” deram crédito ao árbitro pela decisão tomada.

O jornal “A Noite” misturou os dois lances como se fossem um só. Para ele a expulsão de César se dera pela falta marcada sobre Rubens, supostamente cometida por Jorginho, quando na verdade ela ocorreu pela reclamação do centroavante após a anulação do gol assinalado por Maneco, em razão de impedimento.

Faltando 15 segundos para o fim, Chico passou por Benedito, Oscar e Gritta e assinalou o gol da vitória cruzmaltina, levando ao delírio sua torcida.

Na equipe vascaína destacaram-se o goleiro Oncinha, Rafanelli, Alfredo II, Argemiro, Lelé e Jair, enquanto pelo lado americano os melhores em campo foram Gritta, Amaro, Danilo Alvim, China, Maneco e Lima.

Chico mostrava sua predestinação para decidir jogos difíceis, algo repetido por diversas vezes em sua carreira, e o Vasco abria importante vantagem sobre seus adversários na tabela. A conquista de seu primeiro título do Torneio Municipal se aproximava.

Jornal dos Sports (28/05/1944)

O Globo (29/05/1944)

A Noite (29/05/1944)

Outros jogos do Vasco em 27 de maio:

27/05 – Icarahy 2 x 4 Vasco (Carioca – 2ª divisão 1917)

27/05 – Vasco 2 x 1 Canto do Rio (Torneio Municipal 1945)

27/05 – Vitória-ES 4 x 8 Vasco (Amistoso 1951)

27/05 – St Pauli-ALE 0 x 2 Vasco (Amistoso 1961)

27/05 – Vasco 2 x 0 Juventus-SP (Amistoso 1962)

27/05 – Dom Bosco-MT 1 x 2 Vasco (Taça Governador Pedro Pedrossian 1972)

27/05 – Vasco 4 x 1 Fluminense (Carioca 1979)

27/05 – Vasco 2 x 0 Campo Grande (Carioca 1987)

27/05 – Combinado da Costa Oeste-EUA 0 x 5 Vasco (Amistoso 1990)

27/05 – CRB 1 x 3 Vasco (Amistoso 1992)

27/05 – Vasco 3 x 1 Santa Cruz (Copa do Brasil 1994)

27/05 – Vasco 3 x 2 Internacional-RS (Brasileiro 2010)

Casaca!

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