Aquele domingo à tarde no Maracanã prometia.
Vasco e Flamengo vinham entre acertos e tropeços lado a lado na tabela de classificação para saber quem levaria o segundo turno (Taça Rio) e se qualificaria para disputar a decisão contra o Fluminense, campeão da Taça Guanabara.
O Flamengo perdera dois pontos até aquela rodada, a oitava do certame, contra o Americano, em Campos (chegou a estar vencendo por 2 x 0), e Bangu em Caio Martins (virou para 2 x 1, mas cedeu o empate). Ambos os jogos terminaram empatados por 2 x 2. Já o Vasco, que seguia 100% até a 5ª rodada, perdeu de forma surpreendente para o Bangu no Maracanã, com um gol marcado aos 47 minutos do segundo tempo, por intermédio de Robinho, em contra-ataque, após a rebatida de um chute do vascaíno Cássio na trave. Contava na oportunidade a equipe cruzmaltina com apenas 9 homens em campo, frente a 11 do adversário.
No meio de semana anterior, quatro dias antes do clássico, as duas equipes atuaram na semifinal da Copa do Brasil. O Flamengo derrotou o Grêmio no Maracanã por 4 x 3, enquanto o Vasco perdeu para o Cruzeiro no Mineirão por 3 x 1. Os resultados deram um certo favoritismo ao time da Gávea no jogo, que naquele ano havia caído na Libertadores para o São Paulo, já nas quartas-de-final. Com isso sua torcida se faria presente em maior número no clássico, entre os mais de 50.000 pagantes que testemunhariam uma peleja das mais disputadas.
A partida começa em ritmo quente e entre o segundo e o terceiro minuto o grito de gol ficou entalado na garganta dos torcedores.
Primeiro foi o Flamengo quem chegou perto, após Gaúcho receber próximo ao círculo central, passar pelo volante Leandro e tocar nas costas da marcação para Nélio, que avançou pela meia esquerda e já dentro da área bateu de canhota para defesa firme de Carlos Germano.
No lance seguinte veio a resposta do Vasco, com Luisinho atirando de fora da área, o goleiro Gilmar defendendo parcialmente e Júnior Baiano afastando o perigo no rebote. Mas logo a seguir voltou a atacar o Flamengo, após Júnior lançar Djalminha e este tocar macio para Nélio na direita, já dentro da área, que chutou forte, mas para fora, à direita da meta vascaína.
Aos 8 minutos, em falta da intermediária, Djalminha soltou a bomba e Carlos Germano espalmou para escanteio de forma sensacional.
Aos 17 a primeira pontada perigosa do artilheiro Valdir ao gol rubro-negro. O jovem talento chegou próximo à entrada da área e desferiu tiro colocado, mas Gilmar caiu bem para fazer a defesa no canto esquerdo, encaixando a bola.
Aos 27 Leandro lançou do seu próprio campo para Valdir. A bola foi longa demais, mas Júnior Baiano preferiu deixar Gilmar agarrá-la ao invés de interceptar o passe. Valdir, muito veloz, acreditou no lance e chegaria na frente do zagueiro adversário antes de a pelota chegar às mãos de Gilmar. Pressentindo o perigo Júnior Baiano meteu a mão no rosto do atacante, a um passo da área, mas José Roberto Wright ignorou o lance.
O Flamengo buscava atacar em bloco, mas o Vasco nos contragolpes era bastante perigoso, embora não tivesse em Carlos Alberto Dias qualquer inspiração para ajudar nas manobras ofensivas. As duas defesas atuavam muito bem na última linha, principalmente em bolas alçadas nas duas áreas.
Aos 41 boa jogada do Vasco pelo lado esquerdo. Cássio invadiu por aquele setor, passou por Marquinho e quase na linha da área tocou para trás, procurando Bismarck. O meia atirou com capricho, colocado, mas Gilmar defendeu com os pés e se levantou em seguida para pegar o rebote e segurar firme.
Aos 44 a última boa oportunidade da etapa inicial. Gottardo curtindo uma de ala pela esquerda rolou para Júnior, que de primeira serviu a Marquinho. O rubro-negro ganhou de Luisinho, ajeitou e chutou por baixo numa bola venenosíssima, defendida com a ponta dos dedos por Carlos Germano.
A segunda etapa se inicia e logo aos dois minutos ocorre o lance do jogo. Geovani recolhe na meia e entrega ao lateral Pimentel na direita. Este avança, dá a Valdir, que toca de volta. No meio do caminho há a tentativa de interceptação de Piá, mas o resvalo da bola apenas a amortece para Pimentel avançar um pouco mais e quase do bico da pequena área fuzilar para as redes. Vasco 1 x 0.
O gol desequilibra momentaneamente o time rubro-negro, mas a experiência conta e o time começa novamente a mandar no jogo e se aproximar da meta adversária.
Aos 11 minutos Djalminha se livra da marcação de Pimentel e rola para Piá na esquerda. O lateral, dentro da área, bate de primeira, mas erra o alvo por pouco. A bola sai à direita da meta.
Aos 16 Bismarck recebe de Valdir na esquerda, parte em diagonal por aquele setor, dribla Júnior Baiano e é derrubado pelo beque a dois passos da área. Jorge Luís cobra a falta direto e obriga Gilmar a mandar a bola para córner.
No minuto seguinte, Renato Gaúcho, substituto de outro Gaúcho, o centroavante, aproveita a bobeada de Jorge Luís para ganhar o lance e abrir na direita onde se encontra Nélio. O meia manda na área, Pimentel rebate fraco de cabeça e a pelota sobra nos pés de Piá, que atira em direção do gol, mas tem no desvio de Cássio o impeditivo para empatar o clássico. A bola sai em escanteio apenas.
A pressão rubro-negra aumenta. Aos 18 Júnior lança Piá na esquerda, que cruza. A bola atravessa a área e sobra para Djalminha na direita. O meia chama a marcação, abre para o chute e bate forte. Carlos Germano, com a ponta dos dedos, manda à córner.
Aos 23 um erro grosseiro da arbitragem põe o Vasco em maus lençóis. Uidemar lança Júnior na direita, que, de peito, manda na área, buscando Djalminha. Torres estica o pé e evita o perigo iminente. A bola vai saindo pela linha de fundo, mas Carlos Germano mergulha para evitar o escanteio. José Roberto Wright interpreta o lance como bola recuada e pune o Vasco com uma falta em dois lances ao lado da linha divisória da pequena área. Muita reclamação dos jogadores cruzmaltinos. Passados quase quatro minutos de catimba das duas equipes, Júnior cobra o tiro indireto para Renato Gaúcho, mas o atacante pega muito embaixo da bola e isola. Alívio para a massa vascaína.
O rubro-negro volta a chegar perto do empate aos 32 e 33 minutos, respectivamente. A primeira chance surge após Uidemar cobrar falta próxima ao meio campo no lado esquerdo, lançando Marquinho. O meia passa duas vezes por Luisinho, invade a área e bate de esquerda. A bola toca do lado de fora da trave e sai. Logo em seguida o Fla insiste. Djalminha, da esquerda, cruza para bonito voleio de Marquinho, mas a bola passa muito próximo à trave direita de Germano, saindo, entretanto, pela linha de fundo. O goleiro do Vasco ficou só torcendo no lance, pois nada mais poderia fazer.
A fim de melhorar a marcação, Joel Santana põe França no lugar de Carlos Alberto Dias, mas o Flamengo ainda cria uma oportunidade aos 35. Em bola alçada na área, Renato Gaúcho briga com a zaga vascaína e a pelota sobra para Nélio, próximo ao tumulto. O meia toca a Junior na meia lua, mas o capitão rubro-negro tem de bater com a perna esquerda e ainda apertado pela marcação. Com isso manda por cima, longe do gol de Carlos Germano.
A substituição feita por Joel dá resultado, o Vasco sai da pressão e começa a melhor prender a bola. Sidnei entra no lugar de Luisinho aos 43 e um minuto depois centra para a área. Valdir domina, se livra do lateral Fabinho e chuta para fora, com Gilmar vendido no lance.
O Flamengo vai para a blitz final e o Vasco cede um córner aos 45. Na cobrança há a bobeada da zaga que permite a Renato Gáucho bater curto para Júnior, que recebe, levanta a cabeça e cruza com perfeição para Nélio. O cabeceio é preciso mas toca de raspão em Cássio, posicionado próximo à linha fatal, e vai para fora.
O árbitro ainda levaria o jogo até os 49 minutos, mas a equipe cruzmaltina soube segurar o resultado, com sua retaguarda firme no jogo aéreo já desesperado do adversário, que acabaria por fim batido num jogo eletrizante, definido por um chute explosivo e inesquecível de Pimentel.
O Globo (24/05/1993)
O Globo (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Outros jogos do Vasco em 23 de maio:
VASCO 3 X 1 BANGU (TORNEIO MUNICIPAL 1948)
RACING PARIS-FRA 1 X 4 VASCO (AMISTOSO 1956)
VASCO 3 X 0 AMÉRICA (TORNEIO RIO-SÃO PAULO 1957)
ATLÉTICO-MG 1 X 3 VASCO (AMISTOSO 1962)
VASCO 1 X 0 BANGU (TAÇA GUANABARA 1970)
VASCO 5 X 0 AMERICANO (CARIOCA 1979)
VASCO 3 X 0 BOTAFOGO (CARIOCA 1988)
VASCO 1 X 0 VOLTA REDONDA (CARIOCA 1996)
BANGU 1 X 3 VASCO (CARIOCA 2002)
VASCO 3 X 0 ATLÉTICO-GO (BRASILEIRO – 2ª DIVISÃO 2009)