Vitória contra o circo

A superioridade do Vasco incomodava a chamada “turma do arco-íris”.

Flamengo, Fluminense e Botafogo faziam patética campanha nos gramados do Rio de Janeiro pelo Estadual e papelões fora deles.

Inconformados com o adiantamento e atrasos de alguns jogos do Vasco na competição (o clube estava disputando três competições ao mesmo tempo, Carioca, Copa do Brasil e Libertadores) o trio de lata tentou de todas as formas esvaziar o estadual.

O rubro-negro da Gávea tentara ainda superar o Vasco na Taça Guanabara, mas com o empate na decisão, que favorecia o Vasco e sua pífia performance no início do returno optou mesmo por sabotar a competição.

O campeonato naquele ano era disputado por apenas oito equipes e já na segunda rodada do returno apenas o Vasco mantinha 100% de aproveitamento, tendo derrotado o Americano, em Campos, por 1 x 0 e o Friburguense no estádio de São Januário por 3 x 1. Flamengo e Botafogo, que se enfrentaram na segunda rodada já haviam perdido quatro pontos cada, enquanto o Fluminense deixara dois pontos em Campos diante do Americano.

Com a partida de volta das oitavas-de-final marcada contra o Cruzeiro para o dia 02/05 o clube se viu impossibilitado de enfrentar o Fluminense no clássico do dia 03 e aproveitou o meio de semana para solicitar a antecipação de uma das suas partidas naquele certame contra o Madureira. Isso antes da disputa da segunda rodada. Os tropeços dos outros três cariocas trouxeram questionamentos posteriores à rodada sobre a antecipação da partida diante do Madureira. Começava aí a tentativa do trio de lata de sabotar a competição.

Na quarta-feira, 29 de abril, tranquila vitória do Vasco sobre o Madureira por 2 x 0.

Enquanto no sábado o Gigante da Colina despachava o Cruzeiro, classificando-se às quartas-de-final da Libertadores, no domingo o trio de lata tinha uma baixa definitiva. O Botafogo fora derrotado pelo Bangu por 2 x 1, que, àquela altura já se encontrava à frente de Flamengo e do próprio Botafogo, mas o alvinegro se via em posição desesperadora. Somara apenas 2 pontos em três jogos, contra 9 do Vasco no mesmo número de partidas.

Faltando quatro rodadas para o fim seria fundamental uma vitória sobre o Vasco duas rodadas após e principalmente bater o Fluminense no meio de semana.

Temendo prejuízos pelas fases dos dois clubes os dirigentes de Flu e Bota resolveram tirar a partida do Maracanã e jogá-la em Olaria, mas a mudança não trouxe um bom futebol entre ambos e o empate pelo placar de 1 x 1 foi péssimo para a dupla.

Na mesma rodada o Flamengo passou pelo Friburguense fora de casa e passou a depender de um tropeço do Vasco para permanecer com chances de conquistar o turno e com isso ter o direito de enfrentar o adversário na final do estadual.

Já o jogo do Vasco teve que ser adiado para a semana seguinte pelo fato de o Gigante da Colina ter marcado para si jogos da Copa do Brasil no dia 07 e 12 diante do São Paulo, na capital paulista e no Rio, respectivamente. A partida diante do Bangu, inicialmente marcada para o dia 06, passaria para 14/05. Vale ressaltar que o trio de lata estava todo ele eliminado da Copa do Brasil àquela altura.

O Vasco viveria uma autêntica maratona. Atuaria contra o São Paulo no dia 07, Botafogo (10/05), São Paulo (12/05), Bangu (14/05) e Flamengo (17/05).

Com 3 pontos em 4 jogos e podendo chegar no máximo a 12 a equipe de General Severiano dependeria de uma vitória sobre o Vasco, mais outras duas no certame e ainda torcer para que os cruzmaltinos não fizessem mais de três pontos nos outros três jogos contra Flamengo, Bangu e Fluminense, mas também tinha de torcer para tropeços de Flamengo e Bangu, equipes que não enfrentaria mais, nos três jogos restantes. Cada um deles poderia fazer no máximo quatro pontos nos últimos três jogos a serem disputados e ainda teria de torcer para o Fluminense, até ali com cinco pontos ganhos, perder mais cinco pontos nos últimos quatro jogos, lembrando que haveria vários confrontos diretos entre os envolvidos.

Foi aí que o circo começou. Praticamente eliminado do campeonato o Botafogo afirmou não aceitar entrar em campo para disputar seu último clássico contra o Vasco que disputaria apenas o seu primeiro no returno. Com isso o alvinegro não foi a campo no domingo ficando passível de sofrer um W.O.

Na mesma rodada, a quinta das sete, o Fluminense foi derrotado pelo Madureira por 1 x 0, ficando distante do título, com 7 pontos perdidos, enquanto o Bangu ao empatar diante do Americano na terça-feira, 12 de maio chegaria ao sexto ponto perdido no returno.

No dia 13/05, véspera de Bangu x Vasco era, portanto, esta a situação do campeonato:

Vasco – 3 jogos – 0 ponto perdido e na expectativa pela confirmação do W.O. a seu favor na partida contra o Botafogo

Flamengo – 5 jogos – 4 pontos perdidos

Bangu – 5 jogos – 6 pontos perdidos

Fluminense – 4 jogos – 7 pontos perdidos.

Com a confirmação do W.O. favorável ao Vasco estariam eliminados matematicamente Americano, Botafogo, Friburguense e Madureira.

Na mesma data, entretanto, um confronto direto poderia eliminar o Fluminense da competição, caso fosse derrotado ou empatasse com o Flamengo no clássico Fla x Flu, considerando a adjudicação dos pontos ao Vasco referente ao jogo diante do Botafogo não disputado por ausência do alvinegro no gramado.

O rubro-negro, por sua vez, mesmo derrotando o adversário, teria de esperar pela perda de mais um ponto do Vasco nos últimos três jogos.

A dupla, entretanto, não foi a campo a 13/05, protagonizando (pela ausência) um duplo W.O. para ambos. O motivo foi a mudança de local da partida. Do Maracanã para o estádio do Bangu. Vale lembrar que isso ocorreu uma semana após Fluminense e Botafogo preferirem Olaria ao Maracanã para a realização do clássico entre ambos.

Com isso bataria ao Vasco, no dia seguinte, vencer o Bangu e ter confirmada a adjudicação dos pontos para si, concernentes ao jogo contra o Botafogo, não realizado diante do fato de o alvinegro não ter comparecido a campo quatro dias antes, o que foi confirmado em julgamento ocorrido no dia seguinte.

Posteriormente o W.O duplo foi confirmado para a dupla Fla x Flu, o Flamengo ainda tomou outro por não ter comparecido para enfrentar o Vasco no Maracanã, a 17 de maio e na última rodada o Vasco, já campeão e na festa das faixas, foi derrotado pelo Fluminense por 2 x 0.

A equipe campeã estadual no ano do centenário

O jogo

Na primeira etapa o Bangu conseguiu ainda equilibrar as ações e até ameaçou mais a meta contrária que o adversário.

Logo aos cinco minutos Donizete cabeceou para o gol, mas o lateral banguense Flavinho estava no caminho e desviou a bola, impedindo a inauguração do placar.

A equipe de Moça Bonita quase abriu a contagem com um chute de André Biquinho rente à trave e o mesmo jogador atirou mais duas vezes em gol na primeira etapa, proporcionando ao goleiro Márcio praticar boas defesas.

O Vasco voltou para o segundo tempo já sabendo da adjudicação dos pontos da partida do Botafogo, confirmada no TJD e partiu concentrado para a obtenção do título por antecipação.

Logo no início, Nasa chutou forte e no rebote do goleiro Donizete desperdiçou a chance. Aos 12 minutos o mesmo Nasa foi derrubado na entrada da área. Juninho cobrou a falta, que bateu na barreira e quase foi morrer no ângulo de Alex. Passou muito perto.

O jogo ganhava contornos de dramaticidade para o Vasco e o nervosismo em campo foi evidenciado com o desentendimento entre o lateral Felipe e o banguense Edilson, aos 18 minutos. O árbitro Ubiraci Damázio mandou os dois mais cedo para o chuveiro. Pouco depois, aos 26, Marcão, do Bangu, também foi expulso pelo juiz, após agarrar Pedrinho, cometendo falta grosseira.

A equipe cruzmaltina seguia na pressão. Alex ainda praticou duas grandes defesas, mas o gol teimava em não sair.

A essa altura não havia mais gandulas para repor em jogo as bolas atiradas para fora e a um minuto do fim, faltaria também luz no estádio de Moça Bonita.

Os banguenses queriam o fim da partida daquela forma mesmo, sem acréscimos quaisquer, enquanto o Vasco, através de seu treinador Antônio Lopes, brigava pelo contrário, mas apenas com a chegada de Eurico Miranda ao campo de jogo e após conversa com o árbitro da partida naquele local houve uma decisão de bom senso. Cercado por imprensa e alguns atletas, Ubiraci Damázio definiu que haveria a disputa de três minutos após o retorno de energia.

Logo depois, Eurico Miranda, questionado a respeito dos protestos do trio de lata do estadual (Flamengo, Fluminense e Botafogo, os qualificou todos como quadrilheiros e disse não saber apenas quem era o chefe da quadrilha.

Quase 30 minutos se passaram mas a luz enfim voltou e a partida foi reiniciada. O Vasco subiu para o ataque em busca do gol que lhe daria o título e o Bangu entrincheirado fazia tudo para não tomá-lo.

No segundo dos três minutos de acréscimo previstos, entretanto, Odvan lançou para a área, a zaga banguense rebateu, Juninho tocou por cobertura para o meio e Mauro Galvão, vindo por trás da defesa alvirrubra, tocou por cima de Alex, marcando o gol do título vascaíno.

Os jogadores do Bangu reclamaram impedimento (inexistente), como se num “choro” representassem o trio de lata do estadual, frustrado com o título cruzmaltino iminente no ano do centenário do clube.

Mais uma minuto quase foi jogado sem qualquer mudança no placar e o Vasco, passando por cima de seus adversários, disputando três competições ao mesmo tempo, com o melhor elenco do Rio de Janeiro e sem adversário (literalmente) em alguns jogos pôde erguer a Taça Rio, segundo turno do estadual, e, por conseguinte, ter ratificada a conquista do Campeonato Carioca.

O sonho de muitos num ano tão emblemático foi, de fato, conseguido por poucos, afinal fazer história depende muitas vezes de não se deixar levar por “barrigadas” do destino.

Gonçalvez diz que dirigentes de Botafogo (seu clube na época), Flamengo e Fluminense prejudicaram o campeonato, pois sabiam que o Vasco era o melhor time.

Jornal O Globo (15/05/1998)

Outras vitórias do Vasco em 14 de maio:
CRB 0X2 VASCO (BRASILEIRO 1978)

VASCO 2 X 0 AMÉRICA (CARIOCA 1988)

VASCO 2X0 CEARÁ (COPA DO BRASIL 1993)

VOLTA REDONDA 0X3 VASCO (1995)

CORINTHIANS-AL 1X3 VASCO (COPA DO BRASIL 2008)

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