Esperando por uma derrota do Vasco na partida de ontem, um esquecido compositor publicou um texto no jornal O Globo intitulado Charutos do Mal. Neste, destilou rancor e ódio não por alguém, mas pelo clube com o qual alega simpatizar. O desejo pela derrota era nítido pelo seu indisfarçável hábito de torcer contra a depender de quem está à frente da Instituição e, também, pela esperança de que o seu texto pudesse se tornar um hino ao caos, quem sabe fazendo com que alguém se lembrasse de sua existência.
O ostracismo excita as vísceras, mas, neste caso, deu em água. Quer dizer: não exatamente em água. Como destilar é com ele mesmo, não se sabe ao certo em que dimensão estava quando foi baforado pela inspiração idiota. A ressaca veio com mais uma vitória do Vasco sobre o Flamengo no final do dia.
O desfile de rancor parvo começou com o seguinte: “Hoje (…) vou falar do Vasco. Não que o clube tenha atualmente alguma importância…”. Deve ser trágico iniciar um artigo que precisa preencher um espaço com 4 mil caracteres e ali pelo vigésimo descobrir que tudo já foi dito. Sim, pois o que veio depois apenas reforçou a ideia de que o autor tinha apenas a intenção de latir.
Nada como o ódio para cegar e, por vezes, colocar por terra uma trajetória quase respeitável. Ou seria uma farsa?
Em um destes latidos proferidos pelo poeta esquecido, pode-se pinçar uma provável contradição: ao passo em que se fez notar por composições em que ressalta a raça negra, esqueceu-se de si e cravou que Celso Roth, quando treinador do Internacional de Porto Alegre, perdeu um Mundial sendo derrotado por “um time de africanos que entrou de arco e alijava de flechas em campo” e cujo goleiro se valia de “uma zarabatana para furar as bolas”. Seria esta uma alusão ao atraso do continente negro? Pode ser que estes africanos atrasados sejam os mesmos que renderam ao compositor algumas boladas por versos bem escritos homenageando-os, mas, definitivamente, rancor e criação não deveriam andar juntos, sob pena de se confundirem em mentes que podem ser tão brilhantes quanto patéticas ao mesmo tempo.
O mestre-sala dos mares aponta as paranoias de seus desafetos, mas tem a sua própria: chama-se Eurico Miranda. Por isso, resolveu atacar Roth. Por isso, diz que seu pai faleceu no dia seguinte de uma conquista do Vasco e que teve sorte por não ver o que veio depois com Eurico. Deve ter morrido jovem, talvez em 1977, último título antes da paranoia particular de seu filho passar a resolver tudo no clube.
Entre latidos e babadas, enquanto vai mofando entre o torresmo e a moela, a tarde de domingo cai como um viaduto e traz as agruras de um resultado inesperado pelo Kid Cavaquinho, fora de seus planos, fora de seus prognósticos de agouro. O tempo bate na porta da frente para avisar que torcedores e simpatizantes deste naipe devem passar longe do Vasco. Ou melhor, se manter longe. Não pelo bem do Vasco, que tem uma História incapaz de ser modificada ao bel prazer de paspalhos magoados, História que resiste ao rancor de meretrício exposto em textos sem pé, cabeça e uma pitada, sequer, de verdade. Mas pelo bem do próprio autor, que deveria procurar canais mais apropriados para vazar suas paranoias e pesadelos causados pelo titular da Charutos & Suspensórios, enquanto aguarda a próxima dose.
CASACA!