Determinados termos, adotados à guisa de conceitos na ciência de botequim do jornalismo de ocasião, atraem inexplicável atenção ante ao respeitável público. Um deles é a transparência. Diz-se que é legal ser transparente, posto que se vê através. Enxerga-se a paisagem à frente, ainda que esta não passe de um cenário ao deleite dos incautos. Para além do cenário, a transparência esconde, torna invisíveis fatos, personagens, números, atitudes. Não há esconderijo mais adequado do que esse, posto que se apresenta como algo de extrema beleza, mas que não se vê. À moda do conto de Andersen, A Roupa Nova do Rei, a transparência desnuda a incapacidade, a vaidade, o ridículo e não enseja – nem tampouco encerra – explicações. Procurado pela reportagem, não foi encontrado… É invisível, transparente.
A teatralidade da missiva do Rei nu, certo de sua veste magnífica, prenunciou um balanço confuso, omisso em vários aspectos e apócrifo – o perfeito Evangelho da Transparência Cênica. Não cínica, muito embora pudesse, eventualmente, ser. Mas, em se considerando a expertise e esperteza dos verdadeiros autores, bem como a escola teatral… O importante é fomentar, o fomento é o fermento do negócio. E o fermento cresce a massa, cujas migalhas alimentam a miséria dos beneficiários em tese, de prontidão eterna. Mas esse é outro assunto, na qual a esfera do contribuinte é tênue bolha em meio a um turbilhão.
O Rei nu foi o arauto de si próprio, anunciando-se à plebe com pompas e circunstâncias. Agora deve à arraia-miúda a materialização da transparência. De transparente, a invisível. De Rei invisível a bobo. De bobo a um arremedo de louco, na medida em que alheio está às consequências de seus desatinos. Talvez seja assim, de médico e louco… Não é o que se diz por aí?
No mais, a transparência virou delicada vidraça e a pedra de si mesma. O Vasco, como sempre, um mero coadjuvante, o transparente infeliz e involuntário de um discurso que nada tem a mostrar, além da covarde terceirização de responsabilidades daquele que se mostra irremediavelmente despreparado a assumi-las.
No fim das contas, é a tal da opacidade que dá as caras, que se apresenta, que possui densidade e fibra para o enfrentamento da falsa e etérea ética que, de tão “sublime”, abomina sua própria prática…
Bem aventurados os opacos de coração!