Dois fatos ocorridos recentemente devem fazer com que reflitamos a respeito do papel absolutamente decisivo da imprensa esportiva, inclusive em condutas de partidas (abstraindo). Em ambos, aprendizados importantes para o próximo ano do Vasco: ano eleitoral e de volta à primeira divisão, enquanto a política de recuperação financeira permanecerá, comprometendo ainda investimentos mais profundos no time de futebol.
Domingo, 18 de setembro de 2016. A Portuguesa de Desportos cai para a quarta divisão do futebol brasileiro. A queda é apoteótica e vertiginosa. Entre 2013 e 2016 foram 3 quedas, algo raro no mundo do futebol. A imprensa evita retratar como deveria. Precisa esconder a origem. Talvez prefira que a Portuguesa feche as portas, suma do mapa, desapareça para sempre.
Mas ela ainda está aí. Agora na quarta divisão. E com ela, o fantasma de 2013. Na ocasião, o Ministério Público de São Paulo chegou a apresentar denúncia que tinha como escopo o suborno recebido por dirigentes da equipe paulista. Há quem receba suborno, mas para estes existirem, precisa existir quem suborne. Os fortes indícios fazem com que se suponha que alguém comprou a vaga da Portuguesa na primeira divisão, que escalou um atleta irregular desnecessariamente, na última rodada, perdendo pontos que a levaram à segunda divisão de 2014. O beneficiário direto: Flamengo. Em resumo: se a Portuguesa não coloca em campo depois de 75 minutos de uma partida que não lhe valia nada um atleta irregular, o Flamengo cairia.
O caso foi abafado pelo descaso da mídia. O Ministério Público recolheu-se. E o arquivamento se deu em dezembro do ano passado. Evidências recentes levam a crer que qualquer alegação técnica, por mais substancial que seja, só prospera com vontade política, leia-se interesse popular, leia-se participação da mídia. Sob o silêncio quase integral da mídia, ou sob o desinteresse por parte dela em fazer o alarde necessário diante de um caso tão emblemático, a questão, sem solução, desapareceu de vez do noticiário.
Porém, chega-se a 2016 e o fantasma ainda perambula. Todos eles, que permaneceram em silêncio sepulcral, sonham com o desaparecimento da Lusa. Mas esta queda vertical com gravidade quadruplicada é indiscreta e ilumina o que insistem em manter nas sombras.
A instituição Portuguesa de Desportos está condenada por seus atos. Pois, por mais silêncio que a mídia tenha feito para não alardear a opinião pública, o mercado se conversa. Quem patrocina um clube que se vê envolvido em situação tão polêmica? Quem abre linha de crédito para um clube com este histórico? As consequências são inúmeras, afinal trata-se de um caso sem solução, sem razão, sem motivo, mas, por tudo isso, sem perdão.
Perdoar a Portuguesa está atrelado intrinsecamente na condenação do agente externo, que a fez pecar, pois contido no perdão dos torcedores de todo o país, por décadas a fio simpáticos à Lusa e a suas tradições, está a sede pela verdade, nua e crua.
E quanto à imprensa? Nos programas esportivos de TV, repletos de arautos da moralidade, o entusiasmo para investigar a fundo algo tão sugestivo e incrivelmente coincidente não se fez notar na época. Nem foram capazes de voltar, tais programas, ao caso agora, quando a destruição de um clube tradicional cumpriu mais um estágio.
Quarta-feira, dia 21 de setembro de 2016. Vasco x Santos em São Januário. O Vasco precisa vencer por diferença de 2 ou 3 gols, a depender de quantos gols o Santos marque. Leva um gol com 11 minutos. Ocorre uma sequência incrível do que se marca como penalidade máxima há anos, sob recomendações da FIFA, sem que o time tenha uma sequer anotada a seu favor. Um deles, então, aos 15 minutos, é pênalti sem que seja necessária qualquer recomendação. Aos 24 minutos, empata o jogo. Antes dos 25 do segundo tempo, faz 2 × 1. Os prognósticos da mídia começam a correr riscos. O Vasco pressiona. Perde um gol incrível. O jogo é aberto. Até que, faltando mais de 10 minutos com descontos para o encerramento, o árbitro vê uma falta a favor do Vasco. Chega a curvar o corpo para anotá-la. E desiste. No contra-ataque, depois de mais 2 impedimentos no mesmo lance, o Santos empata a partida.
Como não há punição para árbitro, o sujeito imagina que tudo vale. Como ele será esquecido antes de voltar ao Rio de Janeiro para comandar um jogo, o sujeito crê que passará sem ser notado. Como a “punição” que sofrerá poderá ser o prêmio de apitar o clássico da próxima rodada, o sujeito pensa que não há limites para impor reveses. Mas o que mais motiva a arbitragem a agir desta forma está em outro patamar. É o silêncio da mídia, é a chacota contra quem protesta, é a minimização dos prejuízos causados nas linhas de jornal e, lógico, nos programas esportivos repletos de arautos da moralidade. Que não se pense que a mídia age assim com todos os clubes. A depender do envolvido, há pressão antes de o jogo ocorrer. Todos sabem quem são os preferidos. A priori, os que recebem mais da TV, que são mais exibidos nela e que por conseqüência recebem os melhores patrocínios e por isso podem contratar jogadores mais caros.
Um exemplo aqui apresentado por estes dias oferece a exata noção da distinção: o Flamengo fez reclamação prévia quanto ao árbitro do seu jogo diante do Cruzeiro. A questão foi tratada como notícia. O Vasco queixou-se a respeito do desastre já causado pela arbitragem do jogo com o Santos. A imprensa afirma que foi choro.
Eis, portanto, os elementos para as lições a serem aprendidas com vistas a 2017. O Vasco luta por um tricampeonato estadual, volta à primeira divisão. Como o desejo da mídia é readequar as noites de verão ocorridas entre 2008 e 2014, ou seja, o Vasco comandado por curiosos e despreparados e como 2017 é ano eleitoral no clube (o que desperta curioso interesse especial da mídia, imagina-se o motivo), não se surpreendam se arbitragens como a de Vasco x Santos, ou aquelas que frearam a reação no Brasileiro de 2015 beneficiando clubes de Santa Catarina, voltarem a ocorrer. Sob o silêncio, a complacência e a chacota dos profissionais de imprensa com tendência rubro-negra. Ou de qualquer outra cor, desde que a conduta preserve seus lugares nas bancadas ilibadas das noites de domingo. Sim, na hora de se projetar a pontuação para as competições do ano que vem, que se preveja o que vão nos tomar com o carimbo “válido” que a imprensa esportiva distribui àqueles pelos quais desfruta de pouca simpatia, enquanto preserva aqueles a quem prefere proteger, seja por laços comerciais ou afetivos.
Casaca!