Ramon Platero, técnico bicampeão pelo Vasco em 1923/24, estava preocupado com razão para o clássico daquele domingo em São Januário.
A performance cruzmaltina na competição era inconvincente e até ali o time já tinha sofrido dois revezes, diante de Fluminense e América.
O Vasco havia iniciado o campeonato com dois triunfos , mas não vencia há três jogos e no último embate, diante do Madureira, decepcionara a sua torcida, obtendo apenas um empate, dentro de São Januário.
Já o Botafogo vinha se constituindo numa das grandes forças do certame até ali. Com exceção da derrota por 4 x 1 sofrida diante do Flamengo e do surpreendente empate com o Bonsucesso (2 x 2), seus outros adversários apanharam feio nos confrontos frente ao alvinegro. São Cristóvão e Madureira tomaram de cinco e o Fluminense caiu de quatro.
Tudo levava a crer que seria a forte defesa vascaína, composta pelo bom goleiro Nascimento, os dois beques, Florindo e Jahu e uma linha média de respeito, onde se destacava Zarzur, a grande arma do Vasco para segurar o ataque adversário no qual três figuras despontavam: Carvalho Leite Perácio e Patesko.
O alvinegro tinha ainda os irmãos Aymoré e Zezé Moreira, o primeiro como goleiro e o segundo na posição de médio, Nariz, destaque da zaga e Canali fechando com competência o setor defensivo pela esquerda, mas o ataque adversário era ainda uma incógnita. Gandulla e Emeal, trazidos do Ferro Carril Oeste, da Argentina, por uma pá de dinheiro ainda não haviam convencido, a posição de extrema direita já fora ocupada por Orlando, Armandinho e Lindo e as duas outras do ataque já preenchidas por cinco jogadores: Alfredo, Villadoniga, Gabardinho, Niginho e Fantoni. Antes da estreia de Emeal, quem atuava pela ponta esquerda era Luna, sacado do time para a entrada do compatriota, logo na terceira rodada.
O Vasco parecia ter um bom elenco, mas não tinha, de fato, ainda um time.
No clássico daquele domingo a vitória vascaína seria não só um sinal de melhora, mas também a chance de se igualar ao rival na tabela, enquanto para o Botafogo era a oportunidade de permanecer na liderança e se distanciar ainda mais do adversário.
A partida é lá e cá no início, mas as defesas prevalecem sobre os ataques.
Aos 9 minutos um lance de emoção e polêmica. Emeal dribla Zezé Moreira e avança pela esquerda. Já sobre a linha de fundo cruza. Aymoré falha e põe o balão de couro para dentro de seu próprio gol, mas o árbitro assinala saída de bola e o tento é anulado.
Melhor em campo o Vasco pressiona e aos 20 minutos Villadoniga cruza, mas Emeal atira mal, por cima da trave, perdendo ótima chance de inaugurar o marcador.
Volta a insistir o Vasco. Servido por Argemiro, Emeal avança e arremata para o gol, mas Aymoré defende com firmeza.
Finalmente um contragolpe do Botafogo funciona e Canali chuta no alto obrigando o goleiro Nascimento a mandar a bola para escanteio.
Logo em seguida, em novo ataque cruzmaltino, Gandulla passa a Gabardo, que corta para a direita e entrega atrás a Orlando. O chute tem endereço certo, mas Aymoré frustra a torcida vascaína praticando ótima defesa.
O Botafogo melhora na cancha e os últimos cinco minutos da etapa inicial pertencem ao onze de General Severiano, que faz a defesa cruzmaltina trabalhar para evitar sair atrás do placar antes do intervalo.
Na volta para a etapa derradeira o equilíbrio é grande e a volúpia pelo gol por parte das duas equipes aumenta.
O Vasco perde a primeira oportunidade de marcar com Villadoniga, que após receber passe de Emeal na boca do arco desperdiça a chance.
Logo em seguida, falta perigosa para o Gigante da Colina, cometida por Engel sobre Gabardo. Villadoniga cobra, mas não leva sorte. A bola estoura na trave superior de Aymoré e sai pela linha de fundo. O 0 x 0 teimoso permanece.
O time da estrela solitária não está morto e a prova disso é uma arrancada de Perácio, que atravessa boa parte do campo com a bola e cruza para Carvalho Leite cabecear por cima da trave, perdendo ótima oportunidade.
Aos 30 minutos surge o lance que definiria o jogo. Emeal desce pela esquerda e atira forte, Aymoré dá rebote e Orlando aparece para faturar. Vasco 1 x 0.
O Botafogo ainda tenta a reação, mas nem mesmo atrás do marcador consegue ser mais incisivo que o Vasco nas ações ofensivas.
A partida termina com a merecida vitória do quadro de São Januário.
Enquanto no Botafogo os destaques foram o goleiro Aymoré, além de Engel, Canali e Nariz, Emeal foi o grande nome do ataque cruzmaltino e Zarzur o maior destaque da partida, pelo equilíbrio em campo e grande espírito de luta.
A vitória vascaína punha a equipe empatada com o Botafogo e o deixava, por pontos perdidos, a um do Fluminense e dois do Flamengo. O campeonato se mostrava ainda indefinido àquela altura, quanto a seu favorito para vencê-lo.
Jornal do Brasil (29/05/1939)
O Globo (30/05/1939)
Outros jogos do Vasco em 28 de maio:
Vasco 2 x 1 Mangueira (Carioca – 2ª divisão 1922)
Nybro-SUE 1 x 4 Vasco (Amistoso 1959)
Vasco 2 x 1 São Cristovão (Carioca 1975)
Coritiba 0 x 2 Vasco (Brasileiro 1978)
Vasco 2 x 0 Portuguesa-SP (Taça Cidade Juiz de Fora 1986)
Vasco e América marchavam quase lado a lado na disputa pela conquista do Torneio Municipal daquele ano.
Os cruzmaltinos permaneciam com aproveitamento de 100% na competição, após derrotarem o Fluminense (3 x 1), Canto do Rio (2 x 1), Madureira (5 x 3) e Bonsucesso (3 x 0).
Já os rubros haviam estreado contra o Flamengo e empatado por 2 x 2, após estarem perdendo por 2 x 0 até os 40 minutos do 2º tempo. Em seguida golearam o Bangu, marcando 6 x 2, derrotaram o Fluminense por 3 x 1 e venceram o Madureira pelo placar de 3 x 1.
Na noite de sábado se enfrentariam o então Campeão Invicto do Torneio Relâmpago daquele ano, líder do certame municipal, e seu principal concorrente.
O América, do goleiro Osni, do craque Danilo Alvim, do estiloso Maneco, o “Saci de Irajá”, dos mortais ponteiros, China e Jorginho, teria ainda de volta aquele que era considerado por vários da imprensa o principal zagueiro em atividade no Brasil: o argentino Gritta.
O Vasco também contava com um argentino para comandar a zaga, Rafanelli, AlfredoII na linha média, mas os grandes destaques do time, além do bravo ponteiro esquerdo Chico, eram o trio apelidado de “Os três patetas”, trazido junto ao Madureira e que brilhara na Seleção Brasileira em dois amistosos recentes diante do Uruguai (6 x 1 e 4 x 0), responsáveis pela feitura de 5 dos 10 gols anotados pelo escrete nacional. Lelé, Jair Rosa Pinto e Isaías eram as grandes esperanças de gols e títulos para o clube naquele momento.
De fato, no Torneio Relâmpago disputado em março o trio assinalara 7 dos 14 gols marcados pelo time e no próprio Torneio Municipal os três juntos faturaram 10 dos 13 tentos da equipe até ali.
No sábado à noite o campo neutro das Laranjeiras abrigou excelente público (recorde de renda na temporada até ali) e um espetáculo dos mais emocionantes, conforme se comprova pela descrição do jogo.
A primeira grande chance do clássico cabe ao Vasco. Berascochea estica para Jair, que investe pela meia e dá no buraco da zaga para Isaías. O atacante se precipita e frente ao goleiro Osni atira por cima, desperdiçando grande oportunidade para inaugurar o marcador.
Logo em seguida o América responde. Em jogada organizada por Maneco, César recebe e entrega a China, que manda um pelotaço, defendido otimamente por Oncinha.
Os vascaínos voltam a pressionar. Lelé tabela com Isaías e dá a Chico, que invade mas chuta para fora, com Osni praticamente fora da jogada.
Num lance até certo ponto surpreendente surge o gol do Vasco aos 14 minutos. Lelé recebe de Isaías, avança desde o centro do campo, passa por dois marcadores e quando se esperava uma aproximação do jogador à área, este desfere um petardo de longe, violento, surpreendendo Osni e abrindo o placar.
Logo após ser reiniciada a partida Chico teve um gol seu anulado pela arbitragem, após centro de Jair. Nenhum jornal contestou a marcação do árbitro.
O Vasco quer o segundo. Djalma entrega a Lelé que de primeira arremata para gol, mas Osni pratica linda defesa.
O América reage e Oncinha é chamado a fazer uma defesa espetacular em cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro se contunde no lance, mas se recupera em seguida e permanece em campo.
Bem no jogo, o Vasco volta à carga e Jair, aproveitando-se de uma confusão na área adversária, cabeceia para as redes, aumentando a contagem aos 23 minutos. Vasco 2 x 0.
Três minutos depois , entretanto, o América diminuiu com Maneco, aproveitando-se de uma indecisão da zaga cruzmaltina, após cobrança de falta efetuada por Benedito. No lance, o centroavante César empurrou Rafanelli, cometendo falta ignorada pela arbitragem, segundo pontuou o jornal “ A Noite”. Nenhum outro diário fez qualquer alusão à suposta infração.
Próximo ao fim do período inicial os rubros atacam e Maneco atira para o arco vascaíno, mas Oncinha defende parcialmente. No rebote novo tiro à boca da meta, mas Oncinha, mesmo caído, consegue defender milagrosamente, evitando o tento de empate.
O panorama na segunda etapa não muda. O América ataca e o Vasco responde. Mas a primeira chance real de gol é desperdiçada por Maneco, que após tabela com César fica frente a frente com Oncinha, mas bate nas mãos do goleiro cruzmaltino.
O gol de empate americano surge aos 18 minutos, em cobrança de falta efetuada por China, próxima à área. A infração fora cometida por Rubens em Lima. O chute foi certeiro, violento, sem chance de defesa para Oncinha. Tudo igual no clássico.
O jogo fica empolgante, com as duas equipes em busca do tento da vitória. Lelé é derrubado na área, mas o árbitro nada marca (a “Gazeta de Notícias” e o “Jornal do Brasil” pontuaram o lance e o erro do árbitro).
Jorginho e Rubens disputam a bola pelo alto e ela sobra para Maneco em condições de marcar, mas o juiz paralisa, marcando falta para o Vasco. Para os jornais “A Noite”, “Diário da “Noite”, “Jornal dos Sports” e “O Globo” não ocorrera falta no lance.
Animada a equipe de Campos Sales parte para cima, mas tem um gol anulado pelo árbitro aos 42 minutos por impedimento. A marcação enfureceu o centroavante César, que xingou o juiz e acabou expulso. Os jornais “Correio da Manhã”, “Gazeta de Notícias”, “Jornal do Brasil” e “O Globo” entenderam como errada a invalidação do tento, enquanto o “Diário Carioca”, “Diário da Noite”, “Diário de Notícias” e “Jornal dos Sports” deram crédito ao árbitro pela decisão tomada.
O jornal “A Noite” misturou os dois lances como se fossem um só. Para ele a expulsão de César se dera pela falta marcada sobre Rubens, supostamente cometida por Jorginho, quando na verdade ela ocorreu pela reclamação do centroavante após a anulação do gol assinalado por Maneco, em razão de impedimento.
Faltando 15 segundos para o fim, Chico passou por Benedito, Oscar e Gritta e assinalou o gol da vitória cruzmaltina, levando ao delírio sua torcida.
Na equipe vascaína destacaram-se o goleiro Oncinha, Rafanelli, Alfredo II, Argemiro, Lelé e Jair, enquanto pelo lado americano os melhores em campo foram Gritta, Amaro, Danilo Alvim, China, Maneco e Lima.
Chico mostrava sua predestinação para decidir jogos difíceis, algo repetido por diversas vezes em sua carreira, e o Vasco abria importante vantagem sobre seus adversários na tabela. A conquista de seu primeiro título do Torneio Municipal se aproximava.
Jornal dos Sports (28/05/1944)
O Globo (29/05/1944)
A Noite (29/05/1944)
Outros jogos do Vasco em 27 de maio:
27/05 – Icarahy 2 x 4 Vasco (Carioca – 2ª divisão 1917)
27/05 – Vasco 2 x 1 Canto do Rio (Torneio Municipal 1945)
27/05 – Vitória-ES 4 x 8 Vasco (Amistoso 1951)
27/05 – St Pauli-ALE 0 x 2 Vasco (Amistoso 1961)
27/05 – Vasco 2 x 0 Juventus-SP (Amistoso 1962)
27/05 – Dom Bosco-MT 1 x 2 Vasco (Taça Governador Pedro Pedrossian 1972)
27/05 – Vasco 4 x 1 Fluminense (Carioca 1979)
27/05 – Vasco 2 x 0 Campo Grande (Carioca 1987)
27/05 – Combinado da Costa Oeste-EUA 0 x 5 Vasco (Amistoso 1990)
27/05 – CRB 1 x 3 Vasco (Amistoso 1992)
27/05 – Vasco 3 x 1 Santa Cruz (Copa do Brasil 1994)
27/05 – Vasco 3 x 2 Internacional-RS (Brasileiro 2010)
Alecsandro ajeita o corpo e faz um golaço de bicicleta no Canindé.
No dia 26 de maio de 2012, Portuguesa de Desportos e Vasco se enfrentaram no Campeonato Brasileiro em jogo válido pela segunda rodada da competição.
Na estreia, ajudado pela arbitragem, o Vasco venceu o Grêmio em São Januário por 2 x 1, sem muito convencer seus torcedores, mas no Canindé a Lusa prometia ser uma parada mais dura. Empatara rodada inaugural contra o Palmeiras e após quase quatro anos voltava a mandar um jogo da Série A no seu estádio (pois passara três temporadas na segunda divisão).
O Gigante da Colina vinha de uma eliminação até certo ponto traumática na Libertadores, três dias antes, no Pacaembu, diante do Corinthians, mas contava com a base da equipe vice-campeã brasileira (deixara de conquistar o título do Campeonato Brasileiro do ano anterior por ordem e graça de apitadores e auxiliares de arbitragem, tendo sido prejudicado em 8 pontos no balanço final da competição). Destacavam-se no time que enfrentaria a Lusa naquela noite de sábado, Fernando Prass, Fágner, Allan, Diego Souza e Éder Luís, mas o Vasco não poderia contar com uma de suas melhores armas: o veterano craque Juninho.
A Lusa, dirigida por Geninho, não tinha nenhum grande nome que chamasse a atenção do público e apostava mais na força coletiva para segurar o Gigante da Colina.
O jogo começou em “banho maria”, com a equipe anfitriã se utilizando da velocidade de Ananias para buscar jogadas pela extrema no intuito de servir ao atacante Ricardo Jesus, enquanto o Vasco usava o apoio de Fágner e a impetuosidade de Éder Luís para surpreender o adversário.
Logo aos 3 minutos, em córner cobrado por Raí, a zaga do Vasco fez o corte, mas a bola sobrou para Ananias na entrada da área, que bateu forte para defesa segura de Fernando Prass no meio do gol.
Aos 20 o ataque do Vasco foi mortal. Fágner realizou bela jogada na lateral, foi derrubado mas preferiu levantar-se e cruzou para a área. O público presente ao o estádio e ainda os telespectadores de todo o Brasil não podiam imaginar a pintura que estavam prestes a ver, quando a bola alçava a área lusa. Alecsandro, centroavante da equipe, numa pedalada cinematográfica atingiu a pelota e de forma precisa mandou-a no ângulo direito do arqueiro Gleidson, abrindo a contagem. Vasco 1 x 0.
Aos 36 quase o Vasco marcou o segundo. Éder Luís escapou pela direita, tocou a Diego Souza na área, que entregou a Alecsandro. Mesmo marcado por dois atletas da Portuguesa o camisa 9 vascaíno conseguiu desferir um tiro rasteiro, mas errou por pouco o alvo.
Aos 44 a Lusa manobrou pela direita. Luís Ricardo deu a Boquita, que entregou a Henrique e recebeu de volta, já dentro da área, após matar a pelota com categoria. O chute preciso encontrou Fernando Prass no caminho, que com grande defesa impediu o gol de empate rubro-verde. No rebote a zaga cruzmaltina afastou o perigo.
A Portuguesa voltou animada para o segundo tempo e logo aos 3 minutos Raí, em jogada ensaiada, cobrou escanteio no primeiro pau para Luís Ricardo, que apareceu de surpresa para concluir, mas finalizou por cima do gol de Prass.
Decorridos 6 minutos de luta na etapa final Ananias tentou surpreender Prass com um tiro de curva, da entrada da área, mas a bola saiu à direita, com perigo.
Aos 18 minutos, em novo ataque da Lusa, Boquita passou a Michael, que sofreu carrinho frontal de Douglas, mas o árbitro Héber Roberto Lopes mandou o jogo seguir, interpretando o lance como normal.
Aos 23 Luís Ricardo avançou para o campo de ataque e passou com precisão a Rodriguinho, que fintou e tentou deslocar Prass, mas o goleiro vascaíno conseguiu mandar a bola a escanteio.
Torcida do Vasco marcando presença em bom número no estádio da Lusa.
A torcida do Vasco, presente em número considerável ao estádio, passou a pedir a entrada de Carlos Alberto na equipe e o técnico Cristovão Borges a atendeu aos 24 minutos. O escolhido para sair foi Diego Souza, apagado no jogo e ainda sob o efeito do incrível gol perdido na partida de quartas-de-final da Taça Libertadores, quando teve tudo para praticamente carimbar o passaporte do Vasco às semifinais, diante do Corínthians no Pacaembu, mas desperdiçou a chance à frente do goleiro Cássio, herói da classificação mosqueteira.
A Lusa continuou pressionando mas as últimas chances reais de gol ocorreram mesmo nos minutos finais.
Aos 44 Luís Ricardo cruzou da direita, Ananias aparou a bola para Rodriguinho, posicionado dentro da área, mas o tiro do meia foi desviado na trajetória pelo próprio companheiro Vandinho, saindo pela linha de fundo, para desespero dos torcedores da Portuguesa.
Já nos acréscimos a maior chance da Lusa na partida. Em córner cobrado na direita, Luís Ricardo cabeceou para trás na primeira trave e Gustavo completou na porta do gol, de cabeça. O atleta foi às redes, mas a bola saiu para fora, com Fernando Prass já batido no lance.
A partida chegou ao fim com o Vasco pressionado, mas vitorioso, graças a um lance de pura inspiração de Alecsandro, que marcou naquela noite seu mais lindo gol com a camisa do Vasco em sua passagem de quase dois anos pelo clube.
Fonte:Youtube
O Globo (27/05/2012)
O Globo (27/05/2012)
Outras vitórias em 26 de maio:
Vasco 1 x 0 América (Carioca 1940)
Vasco 4 x 1 América (Torneio Municipal 1946)
Tupi-MG 1 x 2 Vasco (Amistoso 1946)
Vasco 2 x 1 Olaria (Torneio Municipal 1951)
Racing Club Lens-FRA 1 x 2 Vasco (Amistoso 1956)
Vasco 5 x 3 São Cristovão (Amistoso 1960)
Seleção da África Ocidental 1 x 3 Vasco (Amistoso 1963)
“Foi o maior espetáculo esportivo realizado no Rio até hoje”.
Com a frase acima o jornal “O Globo” deu a exata dimensão do que foi aquela noite de 25 de maio para os amantes do velho esporte bretão.
O diário afirmou em sua edição do dia seguinte daquele confronto ter sido o Arsenal o maior “team” que havia visitado o Brasil em todos os tempos.
Foi um confronto técnico, mas também tático. O famoso WM criado por Herbert Chapman em 1926, que substituía o 2-3-5 dos primórdios do futebol por um 3-2-2-3, recuando dois atacantes para meias ofensivos e o centro médio para a zaga, com objetivo de trazer mais equilíbrio e harmonização ao time, além de uma ocupação melhor de espaços no campo pelos atletas, já era consagrado em toda a Europa e chegara no Brasil cerca de 10 anos depois, trazido pelo ex-técnico do Flamengo, o austro-húngaro Dori Kruschner, que treinaria a equipe rubro-negra entre os anos de 1937 e 1938 e posteriormente o Botafogo, no período de 1939 a 1940.
Vista panorâmica de São Januário no dia do jogo
O sistema WM enfrentaria um outro modelo de jogo, a chamada “diagonal”, criação de Flávio Costa em 1941 e que já trouxera um tricampeonato carioca ao Flamengo, um título carioca invicto e um título sul-americano invicto ao Vasco, comandado pelo mesmo treinador. Neste sistema um dos três atacantes recuava, fazendo o time jogar num 3-2-3-2. Esta peça do meio de ataque mais recuada, tanto armava como concluía, vindo de trás. No Vasco caberia a Ademir fazer a função, do que se aproveitava o artilheiro, vindo de trás e realizando seus famosos “rushs”, muitos deles transformados em gols para o time.
Antes de chegar ao Brasil havia uma expectativa sobre a equipe britânica, mas se sabia ter ela atingido o auge no campeonato inglês do ano anterior, quando fora campeã e tivera o artilheiro da competição – Rooke, conhecido como “coice de mula”, com 33 gols marcados. Na temporada última havia sofrido 11 derrotas e ficado longe do título. Os resultados colhidos, entretanto, puseram-no num patamar ainda não experimentado por qualquer clube estrangeiro em terras brasileiras.
Arquibancadas de São Januário completamente lotadas para presenciar o jogo contra o time inglês
O Fluminense havia sucumbido facilmente diante dos ingleses no Rio (1 x 5), fazendo crer a todos que o esquema de Chapman ainda era o dominante no futebol mundial, mas o confronto aguardado seria mesmo o contra o Vasco, considerado inequivocamente o melhor clube da cidade, apesar de cinco meses antes ter perdido o Campeonato Carioca para o Botafogo, numa final polêmica, em General Severiano. Após liquidar o tricolor a equipe londrina empatou com o Palmeiras em 1 x 1 a 18/05 e derrotou o Corínthians, por 2 x 0, a 22/05, ambas as partidas realizadas em São Paulo.
A expectativa para o duelo era tanta que o vice-presidente da República (presidente em exercício) Nereu Ramos foi ao estádio, abarrotado de gente naquela noite de quarta-feira. Estipulou-se na época um público de 50.000 pessoas em São Januário, contando aí milhares de cadeiras que cercavam o campo com torcedores, no local onde funcionava a pista de atletismo do clube.
Na primeira etapa o volume de jogo do Expresso foi muito maior que o do adversário.
O ponteiro esquerdo Tuta e Ademir carimbaram a trave inglesa, enquanto Ipojucan perdeu uma chance incrível. Com o goleiro já batido perdeu grande oportunidade chutando com muita força para fora.
Na segunda etapa a equipe inglesa reagiu, tentou mudar o ritmo do jogo, mas teve como contra carga a entrada de heleno de Freitas, estreante do dia, que passou a revezar com Maneca e Ademir, confundindo a defesa dos “gunners” e criando mais alternativas ofensivas para a equipe.
O gol vascaíno saiu aos 33 minutos em centro de Mário da esquerda. A bola passou pelo excelente goleiro Swindin e chegou ao lado direito, onde se encontrava Nestor, que antes havia perdido um gol incrível, mas desta feita, de esquerda, num belo voleio, acertou o canto direito da meta inglesa.
Na comemoração muitos abraços entusiasmados dos companheiros e a emoção do autor do tento, flagrado em fotos que circularam nos jornais da cidade no dia seguinte.
Destacou-se no Vasco Sampaio, que substituía Wilson, o capitão Augusto, muito elogiado pelo treinador Tom Whittaker e Heleno na frente, cabendo elogios a Ademir e Maneca pelo futebol produzido no primeiro tempo, principalmente, mas os jornais també elogiaram Danilo e Ipojucan, reconheceram a importância da dupla Mário e Nestor no gol vascaíno e relembraram o belo tiro de Tuta na primeira etapa, que por sorte do Arsenal foi de encontro à trave.
Quanto à equipe inglesa, as atuações do arqueiro Swindin, do half Macaulay e do ponta direita McPherson tiveram maior destaque da imprensa, tendo sido consideradas decepcionantes as atuações de Forbes e Rooke na frente, fruto da boa marcação da defensiva cruzmaltina, em especial de Sampaio sobre Rooke. A defesa inglesa foi também elogiada, constatando-se que teve muito trabalho para segurar as manobras ofensivas do Vasco.
Após a partida o treinador do Arsenal, Tom Whittaker, afirmaria: “O Vasco é um team que muito honra o alto padrão do futebol brasileiro, sem dúvidas um dos mais brilhantes do mundo”.
A Noite (26/05/1949)
O Globo (26/05/1949)
Jornal do Brasil (26/05/1949)
O Fluminense (26/05/1949)
Outras vitórias em 25 de maio:
Vasco 3 x 1 Vila Isabel (Carioca 1924)
Vasco 5 x 2 São Cristovão (Carioca 1941)
Vasco 1 x 0 Fluminense (Torneio Carlos Martins Rocha 1952)
Seleção da Nigéria 0 x 6 Vasco (Amistoso 1963)
Vasco 2 x 0 Nacional-URU (Taça Governador Negrão de Lima 1967)
Por mais que o torcedor visse uma coisa no campo, era induzido a chegar a outras conclusões fora dele.
Naquele primeiro semestre de 1997 o Vasco era sistematicamente ridicularizado pelo jornalista Renato Mauricio Prado em sua coluna do jornal “O Globo”.
Numa enquete encerrada em maio disse ele que o pior técnico do Brasil disparado era Antônio Lopes na opinião dos internautas. O mesmo Lopes afirmara em fevereiro que o Vasco em seis meses seria o melhor time do Rio. Quem viveu, viu.
Até aquela data o Botafogo fazia um belíssimo campeonato, enquanto o Vasco tropeçara em vários jogos. Já perdera duas vezes para o Flamengo, três para o próprio Botafogo, além de ter sofrido um revés diante do Americano, em Campos, enquanto o alvinegro se mantinha invicto, embora no terceiro turno, composto por seis equipes, tivesse a mesma campanha do Vasco té ali: uma vitória e dois empates.
O líder do turno era o Fluminense, com duas vitórias e um empate. O Flamengo já estava praticamente fora com apenas um ponto ganho em três jogos e na iminência de levar um w.o. por não ter comparecido para enfrentar o Americano em Campos. Coisas da Liga Carioca, que questionava o estadual, tentava sabotá-lo e fazia os próprios clubes pertencentes a ela pagarem micos de mãos dadas com a entidade.
O tricolor defendia a liderança contra o Americano, nas Laranjeiras, e caso vencesse decidiria com o Botafogo na última rodada precisando do empate, a não ser que o Vasco fosse o vencedor do clássico de sábado.
Era a chance derradeira da equipe de São Januário chegar à final do estadual. Após empatar com o Americano em casa na estreia e arrancar um empate diante do Fluminense no Maracanã em 2 x 2 – quando esteve duas vezes atrás do placar e após o segundo empate no jogo teve um jogador a menos nos 15 minutos finais – uma excelente atuação diante do Bangu, goleado por 4 x 0, fez renascer as esperanças de todos em São Januário pela conquista da vaga na final.
Pedrinho, que havia estreado no time de cima do Vasco há um ano e meio, começava a despontar como grande revelação vascaína e estava escalado no ataque ao lado de Edmundo. Os meias ofensivos eram Juninho e Ramon, sendo o último um dos destaques do elenco no estadual, no gol o time contava com a segurança de Carlos Germano e nas duas laterais havia jogadores de peso: Pimentel, considerado o melhor da posição na competição, e outra cria de São Januário, Felipe. Se um dos volantes vascaínos era o incansável Luisinho, as duas outras opções para a posição não agradavam: Fabrício e Cristiano. Mas o problema maior para muitos era a zaga, constituída por Tinho e Alex, atletas formados no clube, mas pouco aceitos pelos vascaínos dada a grande expectativa criada na época dos juniores.
Já o Botafogo do centroavante Sorato, ex-Vasco, possuía no contexto do estadual simplesmente seis jogadores entre os melhores do certame. Vagner, Gonçalves, Marcelinho Paulista, Ailton, Djair e Bentinho. Além dos citados o clube contava com o experiente Jorge Luís, ex-Vasco, na zaga e Pingo, atuando como volante. O ponto fraco do time era a lateral. Wilson Goiano pela direita não convencia e Jeferson, que também pertencera ao Vasco, mas por empréstimo, em 1995, não atuava de forma destacada já há algum tempo. No banco Joel Santana, vindo de um pentacampeonato estadual (1992/93 Vasco, 1994 Bahia, 1995 Fluminense, 1996 Flamengo). Estava ele com a bola toda na época.
À tarde, com um público pagante de 5.329 pessoas nas Laranjeiras (dois terços da capacidade do estádio tomados), o Fluminense teve tudo para se isolar na liderança. Atuou com um a mais em campo por toda a segunda etapa (o volante Leonardo do Americano foi expulso no intervalo), saiu na frente, mas permitiu o empate da equipe campista com um gol do até então desconhecido Odvan. O empate criou um clima tenso no clube. Muitos imaginavam que o tricolor havia jogado fora suas chances na competição com aquele resultado.
O empate do Fluminense à tarde punha o Vasco em situação bem melhor na tabela. Caso vencesse pela contagem mínima praticamente eliminaria o Botafogo e ficaria com um saldo superior em dois gols ao adversário, que vencera o Bangu por 2 x 1, empatara com o próprio Vasco em 2 x 2, derrotara o Flamengo por 2 x 0 e tropeçara à tarde diante do Americano, como citado.
O jogo
A partida começou truncada no meio campo. O time de Antônio Lopes avançava Ramon para jogar próximo a Pedrinho e Edmundo e contava com subidas constantes do lateral Pimentel, mas tinha ainda no talento de Juninho uma grande opção para a armação das jogadas. O Botafogo, escalado com seu quadrado tradicional de meio, Pingo, Marcelinho Paulista, Ailton e Djair, era mais transpiração que inspiração. Contava na frente com o talento de Bentinho e o oportunismo de Sorato para definir o jogo, além da segurança de sua zaga, formada por Gonçalves e Jorge Luís para evitar o vazamento da cidadela defendida por Vagner.
Aos 9 minutos do primeiro tempo Juninho lança Pimentel na área que é empurrado no peito por Jeferson, mas o árbitro Álvaro Quelhas nada marca.
Aos 19, entretanto, outra penalidade ocorrida a favor do Vasco foi desta vez assinalada. Edmundo cruzou rasteiro da direita, buscando Pedrinho na área. Djair se antecipou na jogada, mas acabou por atrasar no fogo para Vágner, que sem poder tocar a bola com as mãos a rebateu na dividida com Pedrinho. O jovem talento vascaíno ficou com a posse da redonda, driblou Vágner e foi derrubado. Pênalti claro. Na cobrança Edmundo chutou no canto esquerdo de Vagner, que praticou a defesa salvando seu time na ocasião.
Aos 22 Pedrinho é lançado na esquerda, avança até a área, ganha de Wilson Goiano e chuta cruzado, já próxima da pequena área, mas erra. A pelota sai por cima da meta alvinegra.
Aos 29 finalmente o Botafogo concretiza uma jogada de perigo ao gol adversário. Jéferson vai ao fundo, pelo lado esquerdo, cruza por baixo e Carlos Germano divide com Sorato. No rebote a bola fica com o vascaíno Fabrício que é derrubado na área cruzmaltina, em falta marcada.
No minuto seguinte outra grande chance de gol para o Gigante da Colina. Edmundo lançou Pimentel, que invadia a área. Jéferson tentou o corte do passe, mas só conseguiu resvalar na bola. A gorduchinha sobrou à feição para Pimentel arrematar, mas o lateral atirou por cima, pela linha de fundo, perdendo ótima oportunidade de abrir o marcador.
Aos 33 Pimentel lançou Juninho na esquerda em posição legal, mas o bandeira marcou impedimento de Juninho, prejudicando o Vasco.
Aos 41 a melhor chance do Botafogo na etapa inicial. Jéferson tentou lançar na área, mas no meio do caminho Pimentel interceptou o lance em corte parcial. Fabricio tentou alcançar a bola, mas esta acabou sobrando para Ailton, que lançou Sorato livre na direita, já dentro da área. O artilheiro avançou e tentou o chute por baixo de Carlos Germano, mas o goleiro conseguiu defender com os pés e ainda encaixar a bola no rebote.
Já nos acréscimos da primeira etapa outra chance de ouro para o Vasco. Juninho e Pimentel manobram pela direita e já dentro da área o meia serve ao lateral, que cruza para trás na direção de Edmundo. O “Bacalhau” bate de primeira e acerta o travessão, para sorte do Botafogo. Parecia mesmo ser difícil tirar a invencibilidade alvinegra naquele campeonato.
Na volta do intervalo Joel Santana afirmou a um repórter ter faltado vibração à equipe dele na etapa inicial. O Vasco fora, de fato, muito mais insinuante no período inicial.
Aos 11 minutos do segundo tempo Ailton faz lembrar o gol do título contra o Flamengo, marcado dois anos antes num Fla x Flu épico, no qual saíra como herói. Contra o Vasco o meia recebeu na direita, desvencilhou-se de Fabricio e arrematou de esquerda (que não era a perna boa). Talvez por isso o chute tenha saído mascado, facilitando a defesa de Carlos Germano.
Aos 19 Pimentel recebe próximo à linha divisória e avança pela direita. Já próximo à área toca para Edmundo. Gonçalves tenta o corte, mas só consegue um toque de leve na pelota, que chega ao “Bacalhau” na direita. Ele cruza, a bola passa por Ramon no meio, mas sobra para Pedrinho na esquerda, que ajeita e já próximo à pequena área fuzila Vágner, inaugurando o marcador.
A partir daí o Botafogo vai para cima sem medir consequências. Joel tira o lateral Wilson Goiano e põe em seu lugar o centroavante Dimba. Era tudo ou nada.
Aos 25, em córner da esquerda, a zaga vascaína afastou, mas Jorge Luís, de puxeta, levantou novamente à boca da meta e Dimba, meio de lado, cabeceou por cima quando estava livre para concluir.
Aos 27 Ailton lançou Dimba pelo lado direito em boa posição, mas o mesmo bandeira, responsável pela anulação de um lance legal do ataque vascaíno no primeiro tempo, errou de novo, desta vez contra o Botafogo.
Aos 30 em novo escanteio para o time da estrela solitária, Bentinho toca com o peito para o centro da área e acha Dimba, que chega a arrematar, mas, meio desequilibrado na hora do arremate, conclui fraco para fácil defesa de Carlos Germano. No lance, porém, a chiadeira alvinegra é geral. Os jogadores reclamam com o árbitro uma falta de Fabrício em Dimba dentro da área, no exato momento em que o atleta fazia o arremate. Pareceu, de fato, pênalti, porém nada foi marcado novamente.
Dois minutos depois um entrevero na lateral esquerda, campo de defesa do Vasco, entre Felipe e Ailton, ocasionou a expulsão de ambos. As duas equipes jogariam os 13 minutos finais com um homem a menos em campo.
Aos 40 Juninho e Edmundo fizeram a diferença. O meia executou um lançamento de 30 metros para o atacante, que se infiltrou por trás da defesa adversária, invadiu a área, chamou Jorge Luís para o drible, passou como quis pelo zagueiro e arrematou de esquerda, fechando o marcador.
Depois disso, o Vasco tocou a bola e esperou o fim da partida.
Caía o último invicto do campeonato, o time de Antônio Lopes assumia a liderança junto ao Fluminense com 8 pontos ganhos, abria uma vantagem de três gols no saldo contra o adversário (critério de desempate para o título do turno) e teria o Flamengo na última rodada como adversário, mas com o rubro-negro provavelmente sem chance de conquistar o título, se confirmado o W.O. sofrido diante do Americano em Campos.
Ao tricolor restava golear o Botafogo por quatro gols de diferença (venceria por 2 x 1) para tentar igualar o saldo e vislumbrar ganhar o turno pelo número de gols pró, ou simplesmente torcer para o Gigante da Colina tropeçar diante do Flamengo, jogo que acabaria não ocorrendo devido a mais um W.O. sofrido pelo rubro-negro diante de seu maior rival, legítimo campeão daquele terceiro turno, em 1997.
Jornal do Brasil 25/05/1997
O Globo 25/05/1997
O Globo 25/05/1997
Outras vitórias do Vasco em 24 de maio:
CARIOCA 0 X 2 VASCO (CARIOCA 1931)
Vasco e Flamengo vinham entre acertos e tropeços lado a lado na tabela de classificação para saber quem levaria o segundo turno (Taça Rio) e se qualificaria para disputar a decisão contra o Fluminense, campeão da Taça Guanabara.
O Flamengo perdera dois pontos até aquela rodada, a oitava do certame, contra o Americano, em Campos (chegou a estar vencendo por 2 x 0), e Bangu em Caio Martins (virou para 2 x 1, mas cedeu o empate). Ambos os jogos terminaram empatados por 2 x 2. Já o Vasco, que seguia 100% até a 5ª rodada, perdeu de forma surpreendente para o Bangu no Maracanã, com um gol marcado aos 47 minutos do segundo tempo, por intermédio de Robinho, em contra-ataque, após a rebatida de um chute do vascaíno Cássio na trave. Contava na oportunidade a equipe cruzmaltina com apenas 9 homens em campo, frente a 11 do adversário.
No meio de semana anterior, quatro dias antes do clássico, as duas equipes atuaram na semifinal da Copa do Brasil. O Flamengo derrotou o Grêmio no Maracanã por 4 x 3, enquanto o Vasco perdeu para o Cruzeiro no Mineirão por 3 x 1. Os resultados deram um certo favoritismo ao time da Gávea no jogo, que naquele ano havia caído na Libertadores para o São Paulo, já nas quartas-de-final. Com isso sua torcida se faria presente em maior número no clássico, entre os mais de 50.000 pagantes que testemunhariam uma peleja das mais disputadas.
A partida começa em ritmo quente e entre o segundo e o terceiro minuto o grito de gol ficou entalado na garganta dos torcedores.
Primeiro foi o Flamengo quem chegou perto, após Gaúcho receber próximo ao círculo central, passar pelo volante Leandro e tocar nas costas da marcação para Nélio, que avançou pela meia esquerda e já dentro da área bateu de canhota para defesa firme de Carlos Germano.
No lance seguinte veio a resposta do Vasco, com Luisinho atirando de fora da área, o goleiro Gilmar defendendo parcialmente e Júnior Baiano afastando o perigo no rebote. Mas logo a seguir voltou a atacar o Flamengo, após Júnior lançar Djalminha e este tocar macio para Nélio na direita, já dentro da área, que chutou forte, mas para fora, à direita da meta vascaína.
Aos 8 minutos, em falta da intermediária, Djalminha soltou a bomba e Carlos Germano espalmou para escanteio de forma sensacional.
Aos 17 a primeira pontada perigosa do artilheiro Valdir ao gol rubro-negro. O jovem talento chegou próximo à entrada da área e desferiu tiro colocado, mas Gilmar caiu bem para fazer a defesa no canto esquerdo, encaixando a bola.
Aos 27 Leandro lançou do seu próprio campo para Valdir. A bola foi longa demais, mas Júnior Baiano preferiu deixar Gilmar agarrá-la ao invés de interceptar o passe. Valdir, muito veloz, acreditou no lance e chegaria na frente do zagueiro adversário antes de a pelota chegar às mãos de Gilmar. Pressentindo o perigo Júnior Baiano meteu a mão no rosto do atacante, a um passo da área, mas José Roberto Wright ignorou o lance.
O Flamengo buscava atacar em bloco, mas o Vasco nos contragolpes era bastante perigoso, embora não tivesse em Carlos Alberto Dias qualquer inspiração para ajudar nas manobras ofensivas. As duas defesas atuavam muito bem na última linha, principalmente em bolas alçadas nas duas áreas.
Aos 41 boa jogada do Vasco pelo lado esquerdo. Cássio invadiu por aquele setor, passou por Marquinho e quase na linha da área tocou para trás, procurando Bismarck. O meia atirou com capricho, colocado, mas Gilmar defendeu com os pés e se levantou em seguida para pegar o rebote e segurar firme.
Aos 44 a última boa oportunidade da etapa inicial. Gottardo curtindo uma de ala pela esquerda rolou para Júnior, que de primeira serviu a Marquinho. O rubro-negro ganhou de Luisinho, ajeitou e chutou por baixo numa bola venenosíssima, defendida com a ponta dos dedos por Carlos Germano.
A segunda etapa se inicia e logo aos dois minutos ocorre o lance do jogo. Geovani recolhe na meia e entrega ao lateral Pimentel na direita. Este avança, dá a Valdir, que toca de volta. No meio do caminho há a tentativa de interceptação de Piá, mas o resvalo da bola apenas a amortece para Pimentel avançar um pouco mais e quase do bico da pequena área fuzilar para as redes. Vasco 1 x 0.
O gol desequilibra momentaneamente o time rubro-negro, mas a experiência conta e o time começa novamente a mandar no jogo e se aproximar da meta adversária.
Aos 11 minutos Djalminha se livra da marcação de Pimentel e rola para Piá na esquerda. O lateral, dentro da área, bate de primeira, mas erra o alvo por pouco. A bola sai à direita da meta.
Aos 16 Bismarck recebe de Valdir na esquerda, parte em diagonal por aquele setor, dribla Júnior Baiano e é derrubado pelo beque a dois passos da área. Jorge Luís cobra a falta direto e obriga Gilmar a mandar a bola para córner.
No minuto seguinte, Renato Gaúcho, substituto de outro Gaúcho, o centroavante, aproveita a bobeada de Jorge Luís para ganhar o lance e abrir na direita onde se encontra Nélio. O meia manda na área, Pimentel rebate fraco de cabeça e a pelota sobra nos pés de Piá, que atira em direção do gol, mas tem no desvio de Cássio o impeditivo para empatar o clássico. A bola sai em escanteio apenas.
A pressão rubro-negra aumenta. Aos 18 Júnior lança Piá na esquerda, que cruza. A bola atravessa a área e sobra para Djalminha na direita. O meia chama a marcação, abre para o chute e bate forte. Carlos Germano, com a ponta dos dedos, manda à córner.
Aos 23 um erro grosseiro da arbitragem põe o Vasco em maus lençóis. Uidemar lança Júnior na direita, que, de peito, manda na área, buscando Djalminha. Torres estica o pé e evita o perigo iminente. A bola vai saindo pela linha de fundo, mas Carlos Germano mergulha para evitar o escanteio. José Roberto Wright interpreta o lance como bola recuada e pune o Vasco com uma falta em dois lances ao lado da linha divisória da pequena área. Muita reclamação dos jogadores cruzmaltinos. Passados quase quatro minutos de catimba das duas equipes, Júnior cobra o tiro indireto para Renato Gaúcho, mas o atacante pega muito embaixo da bola e isola. Alívio para a massa vascaína.
O rubro-negro volta a chegar perto do empate aos 32 e 33 minutos, respectivamente. A primeira chance surge após Uidemar cobrar falta próxima ao meio campo no lado esquerdo, lançando Marquinho. O meia passa duas vezes por Luisinho, invade a área e bate de esquerda. A bola toca do lado de fora da trave e sai. Logo em seguida o Fla insiste. Djalminha, da esquerda, cruza para bonito voleio de Marquinho, mas a bola passa muito próximo à trave direita de Germano, saindo, entretanto, pela linha de fundo. O goleiro do Vasco ficou só torcendo no lance, pois nada mais poderia fazer.
A fim de melhorar a marcação, Joel Santana põe França no lugar de Carlos Alberto Dias, mas o Flamengo ainda cria uma oportunidade aos 35. Em bola alçada na área, Renato Gaúcho briga com a zaga vascaína e a pelota sobra para Nélio, próximo ao tumulto. O meia toca a Junior na meia lua, mas o capitão rubro-negro tem de bater com a perna esquerda e ainda apertado pela marcação. Com isso manda por cima, longe do gol de Carlos Germano.
A substituição feita por Joel dá resultado, o Vasco sai da pressão e começa a melhor prender a bola. Sidnei entra no lugar de Luisinho aos 43 e um minuto depois centra para a área. Valdir domina, se livra do lateral Fabinho e chuta para fora, com Gilmar vendido no lance.
O Flamengo vai para a blitz final e o Vasco cede um córner aos 45. Na cobrança há a bobeada da zaga que permite a Renato Gáucho bater curto para Júnior, que recebe, levanta a cabeça e cruza com perfeição para Nélio. O cabeceio é preciso mas toca de raspão em Cássio, posicionado próximo à linha fatal, e vai para fora.
O árbitro ainda levaria o jogo até os 49 minutos, mas a equipe cruzmaltina soube segurar o resultado, com sua retaguarda firme no jogo aéreo já desesperado do adversário, que acabaria por fim batido num jogo eletrizante, definido por um chute explosivo e inesquecível de Pimentel.
O Globo (24/05/1993)
O Globo (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Jornal do Brasil (24/05/1993)
Outros jogos do Vasco em 23 de maio:
VASCO 3 X 1 BANGU (TORNEIO MUNICIPAL 1948)
RACING PARIS-FRA 1 X 4 VASCO (AMISTOSO 1956)
VASCO 3 X 0 AMÉRICA (TORNEIO RIO-SÃO PAULO 1957)
ATLÉTICO-MG 1 X 3 VASCO (AMISTOSO 1962)
VASCO 1 X 0 BANGU (TAÇA GUANABARA 1970)
VASCO 5 X 0 AMERICANO (CARIOCA 1979)
VASCO 3 X 0 BOTAFOGO (CARIOCA 1988)
VASCO 1 X 0 VOLTA REDONDA (CARIOCA 1996)
BANGU 1 X 3 VASCO (CARIOCA 2002)
VASCO 3 X 0 ATLÉTICO-GO (BRASILEIRO – 2ª DIVISÃO 2009)
Era o quinto jogo de Vasco e Flamengo no Torneio Municipal de 1938, em sua primeira edição naquele ano. A competição ainda seria disputada sob a mesma nomenclatura em mais sete ocasiões (1943, 1944, 1945, 1946, 1947, 1948, 1951) e faria grande sucesso no futebol carioca, principalmente nos anos 40 do século passado.
O Fluminense seguia invicto na competição com quatro vitórias em quatro jogos e havia vencido Botafogo, Flamengo e Vasco, além do Bangu na primeira rodada. O São Cristóvão vinha atrás com quatro partidas disputadas e dois pontos perdidos, tal qual o Botafogo, mas que havia disputado apenas três jogos. Já o Vasco perdera três pontos no certame até ali, nas quatro vezes em que foi a campo.
O Flamengo estava na penúltima colocação com 6 pontos perdidos, posicionado na tabela à frente apenas do Madureira. A equipe rubro-negra sentia e muito a falta dos craques Domingos da Guia e Leônidas da Silva naquele certame.
A partida, realizada em campo neutro, tem uma presença numerosa de torcedores e já começa movimentada com o rubro-negro abrindo o placar a um minuto de jogo com Waldemar. O lance é iniciado por Fausto que dá a Jarbas na esquerda. O ponta centra, Waldemar domina, invade a área, aproveita-se da indecisão da zaga vascaína e chuta para o fundo do filó, assinalando o primeiro gol da tarde.
Pouco depois, Médio dá ao ponta Valido que perde excelente oportunidade. Mas a resposta do Vasco não tarda, com um chute violento de Bahia, que obriga Alberto a fazer excelente defesa.
O empate do Vasco se dá aos 20 minutos, quando Zarzur em investida pela meia esquerda entrega para Luna na extrema. O ponta cruzmaltino recebe completamente desmarcado e fatura. Alguns jornais afirmaram categoricamente que o atleta estava em posição de impedimento. Foram eles “A Noite”, “Correio da Manhã e “O Globo”. O “Jornal do Brasil” foi menos enfático. Disse parecer haver impedimento no lance, mas terminou por julgar ter errado o árbitro na validação do tento. Por outro lado, o “Diário Carioca, o “Diário da Noite”, a “Gazeta de Notícias” e “O Jornal” não citaram a suposta irregularidade. O “Diário de Notícias” qualificou como desastrada a arbitragem de José Ferreira Lemos (o “Juca”), mas não citou qualquer lance específico, enquanto o diário “O Imparcial” dizia ter ela sido absurda, mas pontuando momentos de desacerto entre o apitador e o bandeirinha, sem citar qualquer erro considerado capital para o jogo.
Logo em seguida o vascaíno Orlando atira violentamente e a pelota bate na trave. Pouco tempo depois, Providente arremata e o goleiro cruzmaltino Joel defende.
O Vasco desempata aos 31. Fantoni recebe e avança, Jocelino tenta impedir a progressão do atleta vascaíno mas falha e Orlando fica com a bola, após a disputa de seu companheiro com o adversário, finalizando com sucesso para as redes.
O Flamengo volta a carga e Providente é empurrado por Oswaldo quando tenta aparar de cabeça uma bola na área. O suposto pênalti é mencionado apenas pelo jornal “A Noite”. Outros nove diários ignoraram o lance.
O rubro-negro pressiona. Valido bate escanteio e Providente, de cabeça, acerta a trave. No rebote Waldemar toca com precisão, vazando pela segunda vez a meta vascaína aos 38 minutos. Clássico empatado novamente.
Logo após a saída de bola, Jocelino comete falta no setor defensivo de seu time. Zarzur bate e Fantoni cabeceia. A bola toca na quina da trave e entra. Está desempatada a peleja. Vasco 3 x 2. E nem houve tempo para nova saída de bola.
O Vasco volta do intervalo com Aziz no lugar de Zarzur, mas quem está melhor em campo é o Flamengo.
Jayme passa a Waldemar que atira violento. A bola bate na defesa e vai à córner. No lance seguinte Valido recebe, dribla três e entrega a Jarbas. O ponta bate violento, Joel tenta deter o tiro, mas falha. A bola passa por debaixo de seu corpo e vai morrer no fundo da rede, num autêntico frango. Três a três.
O jogo é lá e cá. O Fla tem a chance da virada em cobrança de falta, mas Joel defende o chute de Waldemar.
Volta o Vasco a fazer pressão. Aos 20 minutos, Fantoni entrega a Orlando. O ponta recebe sem marcação, dá seis passos com a bola e bate certeiro fazendo 4 x 3.
Dois minutos depois, novo ataque cruzmaltino. Bahia atira em gol e acerta a trave, mas no rebote Luna cabeceia faturando o quinto tento do Vasco e o último do jogo. Segundo o jornal “Correio da Manhã” Bahia estava impedido. Os outros nove diários não tecerem nenhum comentário sobre qualquer irregularidade naquele lance.
Placar final, Vasco 5 x 3 Flamengo.
Na narrativa da partida os jornais “Diário da Noite” e “O Jornal” afirmaram ter sido um dos dois gols anulados do Vasco, legal. Houvera um de Gabardinho, considerado por vários diários como corretamente invalidado. Na ocasião a partida estava em patada em 3 x 3. O outro, feito por Fantoni foi citado também pela “Gazeta de Notícias”, mas considerado bem anulado, diferentemente da opinião externada pelo “Diário da Noite” e “O Jornal”. Teria ocorrido quando a contagem era de 3 x 2 a favor do Vasco.
Pesquisando ao todo 10 jornais fica a sensação de que as polêmicas da época relacionadas à arbitragem, saíam do campo e chegavam às redações dos jornais cariocas.
A semana não havia sido nada boa, a posição na tabela pior ainda e o Vasco, que estreara Tostão duas semanas antes contra o Flamengo, num jogão que terminou empatado por 2 x 2, válido pela primeira rodada do returno daquele Campeonato Carioca, acumulara depois dois empates contra pequenos: 1 x 1 contra o Bonsucesso e 0 x 0 diante do Olaria.
Falta de padrão tático, jogo previsível e um craque, Tostão, sem encontrar melhor entrosamento com os companheiros. Como tradicional no futebol brasileiro, sobrou para o técnico. Zizinho foi demitido junto a outros membros da comissão técnica: Admildo Chirol e Claudio Coutinho, mais voltados para a preparação física da equipe. Coutinho recebera proposta do Flamengo no início da temporada, mas segundo o jornalista Armando Nogueira expôs em sua coluna dominical no Jornal do Brasil, recusou ir para a Gávea por estar apalavrado com o Vasco até agosto daquele ano.
Célio de Souza assumiu provisoriamente o cargo justo para o clássico contra o Fluminense, equipe que o Vasco nos últimos 15 jogos só havia vencido uma vez, no Campeonato Brasileiro do ano anterior.
No sábado duas surpresas animaram o clássico. Em rodada dupla caíram Botafogo e Flamengo, frente a Bonsucesso e São Cristovão, respectivamente. Com isso os dois acumularam quatro pontos perdidos no turno (junto ao América), contra três do Vasco e 1 apenas do Fluminense, sendo que o tricolor já vencera o Botafogo na segunda rodada por 1 x 0.
O Flu, treinado por Paulo Amaral tinha os desfalques de Félix, goleiro e Lula, ponta-esquerda, jogaria com o zagueiro Silveira na frente, “inventado” naquele setor pelo treinador Paulo Amaral, mas confiava mesmo nas estreias de Ari Ercílio, oriundo do Grêmio, Gérson no meio, fazendo dupla com Denilson, e também na do oportunista Artime, centroavante argentino, que se destacara nos futebóis brasileiro, argentino e uruguaio ao longo da carreira e contava na época com 33 anos.
O Vasco, por sua vez, teria Edson no lugar de Suingue, Jorginho Carvoeiro na vaga de Ferretti e a esperança de gols a cargo mais ainda de Tostão e Silva.
A partida começou cerca de 25 minutos atrasada, mas isso parece ter esquentado o clima do jogo e não o contrário, pois com menos de um minuto Oliveira cruzou da linha de fundo e Artime perdeu gol feito, cabeceando para fora. No lance seguinte, ataque do Vasco e Silva obrigou Jorge Vitório a fazer grande defesa mandando à córner e na cobrança Edson em linda cabeçada obrigou Jorge Vitório a uma defesa sensacional.
Se Ari Ercílio foi um dos nomes de destaque do tricolor, Gérson e Artime tiveram atuações aquém do esperado, enquanto no Vasco Edson foi importante no bloqueio, mas seu substituto, Suíngue, fundamental na vitória, autor do gol único do jogo.
Foi aos 39 minutos da segunda etapa que tudo se definiu. Moisés recebeu na intermediária, avançou até a área do Fluminense, passando por vários adversários e tocando a Suíngue que atirou em gol. A lama próxima à meta de Jorge Vitório impediu a impulsão para a defesa do arqueiro tricolor, destaque do time no clássico.
Não só pela jogada, mas também pela força defensiva, seriedade e boa colocação no setor de retaguarda vascaíno, Moisés foi tido como o grande nome do Vasco na peleja.
A vitória cruzmaltina, improvável para muitos antes da partida, foi considerada justa pela imprensa em geral após o jogo. Uma grande alegria para boa parte dos mais de 81.000 pagantes e demais presentes no Maracanã naquela data.
Vasco e Grêmio protagonizaram grandes partidas no Campeonato Brasileiro de 1984.
Na segunda fase, em grupo no qual classificavam duas das quatro equipes partícipes (Atlético-MG, Grêmio, Joinville e Vasco), o Gigante da Colina terminou na primeira posição e os gaúchos em segundo.
Se no estádio Olímpico de Porto Alegre os goleiros João Marcos e Roberto Costa foram os grandes destaques, impedindo com importantes defesas que o placar saísse do zero, no Maracanã, oito dias após, a precisão de Roberto, em cobrança de falta, vazou João Marcos e deu o gol da vitória pelo placar mínimo ao Vasco.
O campeonato seguiu e na terceira fase ambas as equipes se classificaram em primeiro nos seus respectivos grupos.
Iniciados os play-offs, na fase de quartas-de-final o Grêmio despachou o Náutico com duas vitórias (3 x 2 em Recife e 3 x 1 em Porto Alegre), enquanto o Vasco passou por cima da Portuguesa de Desportos (5 x 2 no Pacaembu e 4 x 3 no Maracanã).
Nas semifinais, novo confronto. E no sul a vitória gremista foi incontestável, embora o gol da vitória tenha saído a apenas nove minutos do fim, por intermédio de Tarciso, numa cabeçada precisa.
Enfim, a 19 de maio, um sábado, mais de 110.000 pagantes seguiram ao Maracanã para o tira-teima final. Um empate bastava ao Grêmio. Para o Vasco só interessava a vitória. Ambos sonhavam em chegar à final do Campeonato Brasileiro e a hora da verdade era aquela.
A partida começa estudada, com o Vasco um pouco mais à frente e o Grêmio em busca dos contra-ataques. Mas logo aos nove minutos o cenário completo da partida iria se alterar. Aírton cruza da esquerda, Roberto divide com De Leon e a bola sobra para Marquinho a um passo da pequena área. O ponteiro chuta forte, João Marcos ainda toca na bola, mas não consegue impedir o gol inaugural da partida. O Vasco saía na frente e revertia a vantagem do adversário naquele instante.
Aos 14 minutos Renato Gaúcho cruzou da esquerda e Caio, entre os zagueiros do Vasco, cabeceou para fora.
Aos 27 Renato Gaúcho cobrou falta na barreira, mas conseguiu alcançar o rebote e empurrar para Caio, dentro da área, mas ele, mesmo livre de marcação, chuta para fora. O bandeirinha Edson Alcântara do Amorim marca impedimento inexistente no lance, pois Pires dava condição a Caio no momento do toque efetuado por Renato.
Aos 28 Roberto teve uma falta pouco além da intermediária para bater, mas ao invés de cobrar direto, tocou para Aírton na esquerda. O lateral invadiu a área e bateu por cobertura, com o lado interno do pé. João Marcos se esticou todo e conseguiu desviar à córner.
Aos 30 Luís Carlos invadiu a área do Vasco e Pires por baixo tocou sutilmente a bola, mas na sequência houve o choque com o adversário. A pequena torcida sulista pediu pênalti, mas o árbitro José de Assis Aragão mandou o jogo seguir.
Aos 33 Roberto recebeu na meia esquerda e deu a Mauricinho que caminhava livre, próximo à área, também na esquerda, mas o bandeirinha Dulcídio Vanderlei Boschilla marcou equivocadamente impedimento no lance.
Aos 34 Roberto recebeu pouco além do círculo central, pela meia direita, tocou para Marquinho, que se infiltrara por aquele setor. Rapidamente o meia achou Edevaldo na direita. O lateral avançou e bateu firme, já dentro da área, mas no meio do gol. João Marcos defendeu firme.
Aos 37 Roberto lançou Mário na esquerda da área. O meia tentou um balão sobre Baidek, que foi no corpo do vascaíno. Foi a vez de a galera cruzmaltina pedir pênalti, mas Aragão nada marcou. Na sequência o goleiro João Marcos lançou a pelota com as mãos buscando um companheiro, mas o Vasco retomou o balão de couro e o zagueiro Daniel Gonzalez, vindo como homem surpresa, avançou, passou por um adversário com um giro de corpo e deu a Arturzinho. Este por sua vez passou curtinho a Roberto, que atirou colocado, já próximo da área. João Marcos caiu para fazer segura defesa.
A primeira etapa terminou sem que se pudesse fazer um prognóstico de quem levaria a vaga, mas a vantagem vascaína era considerável àquela altura.
O Grêmio volta para o segundo tempo em ritmo forte desde o início. Com 30 segundos de partida Paulo César avança pelo lado esquerdo, após receber de Bonamigo, e cruza por baixo, buscando Caio. Roberto Costa intercepta o lance fazendo defesa parcial, mas no rebote tem que dividir com Bonamigo, usando a perna, para finalmente poder amortecer a bola logo em seguida em seus braços.
Aos 6 minutos De Leon, avançado, toca para Renato na direita que cruza na direção de Osvaldo livre na pequena área, mas um pouco fora do tempo da bola. Foi a sorte do Vasco. Osvaldo, meio desequilibrado, acabou atirando para fora, perdendo ótima chance de empatar o duelo.
Aos 12 a primeira chegada perigosa do Vasco na segunda etapa. Marquinho invade a área pela esquerda e próximo à linha de fundo rola para trás. A bola chega para Roberto, mas Dinamite, acossado por um adversário não consegue bater como queria na bola, mandando-a para fora.
Aos 16 Roberto recebe próximo à área e tenta bater colocado, por cobertura, mas João Marcos, atento, segura firme no ângulo esquerdo de sua meta.
Entre os 18 e 19 minutos uma prova de que a sorte pendia mesmo para um dos lados.
Tudo começou com uma falta cobrada por De Leon, da intermediária, para a área cruzmaltina. Caio subiu e cabeceou bem, mas a bola tocou na trave e no rebote Edevaldo mandou a escanteio. Feita a cobrança, Roberto Costa segurou firme e com os pés lançou Mauricinho. O ponta recebeu próximo do círculo central, pela direita, desvencilhou-se de China e lançou Arturzinho, nas costas da zaga. Artur invadiu a área, dividiu com João Marcos, mas ainda ficou com a pelota em seu domínio, driblou para dentro Luís Carlos e deu limpa a Roberto, que vinha na corrida. Dinamite chutou forte, China ainda tentou salvar quase em cima da linha, chegando a tocar na bola, mas não impediu que ela adentrasse pela segunda vez na noite a meta gremista.
O Grêmio via piorar sua situação. Precisaria agora marcar dois gols em cerca de 25 minutos para se classificar à final do Campeonato Brasileiro.
A equipe gaúcha se atiraria à frente, abrindo espaço para os contragolpes vascaínos e a partida ganhou ainda mais em emoção a partir daí.
Aos 22 Roberto recebeu de Arturzinho na meia esquerda, avançou e viu o deslocamento do companheiro, mas também percebeu que Mário vinha de trás, com espaço livre para manobrar. A bola lhe foi enviada, ele avançou e atirou por baixo. João Marcos defendeu em dois tempos ante a presença de Arturzinho, posicionado pronto para o rebote.
Aos 24 o zagueiro Ivan curtiu uma de atacante, avançou desde a intermediária e próximo à área atirou violento, passando a bola muito próxima da meta defendida por João Marcos.
Entre 26 e 28 minutos três chances criadas pelo Grêmio na pressão total exercida pelo time comandado pelo experiente treinador Carlos Froner. Na primeira delas De Leon avançou pela meia esquerda e deu excelente passe a Caio. O centroavante driblou Roberto Costa, mas, de esquerda, conseguiu o quase impossível. Acertou a trave, sem goleiro. No rebote ele ainda teve a chance de arrematar para gol, mas Daniel Gonzalez pôs o corpo na frente e cedeu escanteio. Cobrada o esquinado a zaga do Vasco afastou, mas o Grêmio manteve a posse de bola. Na direita Baidek lançou a pelota para a área. Caio raspou de cabeça e Osvaldo apareceu livre para diminuir. O meia, entretanto, adiantou um pouco o balão de couro e chutou de esquerda, para fora, com Roberto Costa praticamente em cima dele no lance. Na sequência nova blitz gremista com Luís Carlos, que avançou e já próximo a área desferiu potente chute, mas por cima da meta vascaína.
O Grêmio era valente, mas as três oportunidades perdidas, em cerca de dois minutos, tiraram um pouco da confiança da equipe.
Aos 35 Roberto teve uma falta à sua feição, próxima à meia lua, do lado direito, mas errou a cobrança batendo por cima da meta adversária.
Um minuto depois quase o terceiro do Vasco. Roberto tocou para Pires, que fez o corta luz, sobrando a bola limpinha para Marquinho. Este avançou e chutou com força, mas em cima de João Marcos. O arqueiro tricolor mandou a escanteio, evitando a ampliação do marcador. Na cobrança, após o afastamento da zaga, o Vasco recuperou a bola e em poucos toques chegou novamente na cara do gol adversário. Pires deu a Arturzinho, que serviu Roberto já dentro da área, mas o artilheiro ainda de costas recuou a Marquinho, posicionado quase na entrada da área. O ponteiro percebeu a chegada de Mauricinho na direita e tocou para o companheiro, que bateu de primeira, já de dentro da área, longe da meta de João Marcos.
Aos 38 não houve jeito. Pires lançou do meio de campo para Arturzinho. Artur dividiu com Baidek e De Leon e o balão de couro sobrou em seus pés. O meia notou a movimentação de Roberto pelo meio e tocou por trás da zaga. Dinamite invadiu a área e atirou rasteiro no canto esquerdo, ampliando a vantagem e fechando o caixão gremista.
Geovani, que substituíra Mário logo após o terceiro gol do Vasco ainda buscou o quarto num chute colocado, de fora da área, aos 43 minutos, defendido com firmeza por João Marcos.
Já próximo dos 46, em cobrança curta de falta, Mauricinho recebeu entre os beques, avançou e já de dentro da área bateu por cima, perdendo grande chance para marcar o quarto do Vasco.
Encerrada a peleja, o técnico Edu Coimbra adentrou ao gramado, emocionado, e abraçou seus comandados um por um, dando um mais apertado ainda em Roberto.
Nas entrevistas pós jogo, fugindo das perguntas triviais e óbvias do mundaréu de microfones que cercavam o artilheiro da noite e do campeonato, o repórter da Rede Bandeirantes, Gilson Ribeiro, chegou próximo a Roberto e indagou ao atacante sobre a bela lua cheia daquela noite. De imediato Dinamite, inspirado e iluminado disse:
“Havia até um samba que dizia Dindinha lua, dindinha lua. Desça do céu e vem sambar na rua”
De fato, o refrão do samba da Vila Isabel de 1973 se adequara à noite vivida pelo Vasco e por seu capitão Roberto. Até a lua podia descer para cumprimentar o craque do jogo e aproveitar para sambar com a massa cruzmaltina, que saía em festa do Maracanã.
O Globo (20/05/1984)
O Globo (20/05/1984)
O Globo (20/05/1984)
Jornal do Brasil (20/05/1984)
Outras vitórias do Vasco em 19 de maio:
VASCO 3 X 2 AMERICANO-RJ (CARIOCA – 2ª DIVISÃO 1918)
Há 9 anos, Romário marcava com a camisa do Vasco e dentro do estádio onde cresceu como jogador, seu milésimo gol na carreira.
No domingo, dia 20 de maio de 2007, o estádio de São Januário estava lotado para ver a realização do feito histórico, em jogo contra o Sport pela 2ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Na primeira etapa, logo no início, um pênalti sobre Morais não foi marcado. O erro do árbitro Giuliano Bozzano irritou os torcedores. Mas, mesmo assim, os vascaínos foram para o intervalo com uma confortável vantagem de 2 x 0, gols de André Dias, fruto de uma bela atuação da equipe até ali. Mas faltava o gol mil. Ainda no período inicial, quando o escore era de 1 x 0 em favor do Vasco, o Baixinho chutou de primeira, após receber um cruzamento da esquerda, e o zagueiro da equipe pernambucana, Du Lopes, salvou em cima da linha. Parecia um suplício o surgimento daquele gol histórico.
O segundo tempo se inicia com os vascaínos dispostos a ampliar o marcador. Logo com um minuto e trinta segundos, o meio-campo vascaíno Abedi entrega a bola para o lateral Thiago Maciel na direita. Este cruza para a área, mas, no caminho, Durval, zagueiro do Sport, desvia a bola com a mão. Pênalti.
O Brasil parou para ver o lance. Romário de um lado. À sua frente, Magrão, o goleiro. Atrás dos dois, a rede. Romário caminha para a bola com o estádio em silêncio. Expectativa geral. Resoluto, mas cadenciado, sem muita pressa, porém com muito estilo, o Baixinho toca na pelota com a devida classe, deslocando o arqueiro adversário. A rede balança mais uma vez — a milésima na carreira de Romário. Gol de Romário. Romário do Jacarezinho, da Vila da Penha, do mundo.
Houve comemoração, agradecimentos e a volta olímpica do craque diante dos torcedores vascaínos em estado de êxtase. De coadjuvante da marca obtida por Pelé em 1969, o Vasco agora era protagonista. O feito do goleador seria notícia mundo afora. A camisa cruzmaltina e o estádio de São Januário, idem. Jornais dos mais diversos países anunciaram com pompa o acontecimento. O feito foi destaque em todos os continentes, nos mais diversos países, da Groenlândia a Madagascar.
Quis o destino, após três tentativas frustradas em outros estádios, que fosse ali mesmo, aquele local de tantas glórias e eventos históricos, o palco para um dos momentos mais emblemáticos do novo milênio no futebol mundial. Vitória do Vasco, vitória de São Januário.
Fonte de pesquisa: Livro “Eurico Miranda – Todos contra ele”