Outro dia li uma reportagem na qual o presidente do Vasco, Eurico Miranda, diz que passados tantos anos ele menos, pouco ou nada se importa com aquilo que os outros vão achar de suas atitudes A ou B, em ele próprio tendo o entendimento quanto à correção delas.
Bem mais novo, ainda com pouca vivência prática neste ambiente (não por opção porque medo não tenho nenhum de enfrentar aquilo que vejo notoriamente contrário aos interesses do Vasco por oponentes do clube disfarçados em neutros) vou aqui nadar minhas tranquilas braçadas para falar do jogo de hoje e do campeonato até aqui, como já falei do comportamento da torcida do Vasco aquém do esperado no jogo contra o Flamengo (a parte organizado de comando dela) e que será fatal, se repetido, caso haja uma disputa entre os dois clubes na final do Campeonato Carioca de 2015, a não ser que o time seja infinitamente superior ao adversário nos dois confrontos.
Inicialmente é bom dizer que se o Vasco atuar da forma como jogou hoje contra o Friburguense corre sério risco de nem ganhar do Volta Redonda, portanto é hora de o treinador contar com o que tem de melhor, preocupando-se em ouvir de quem é competente para tal, quais são as condições físicas dos candidatos a atuar, para escalar o time, não simplesmente ignorando-as em detrimento de técnica mais apurada de um ou outro atleta, ou mesmo de alguma planificação tática teórica.
Da mesma forma, se passar pelo Volta Redonda e jogar contra o Botafogo da forma burocrática como atuou no segundo tempo da partida passada diante dos alvinegros periga nem chegar à final.
Antes do jogo de hoje, um preâmbulo curioso.
O que desequilibrou a partida Vasco x Bonsucesso para boa parte da mídia? A arbitragem. O Vasco ganhou com um pênalti duvidoso no final da partida. Perdeu vários gols, chutou uma bola na trave minutos antes de marcar e manteve domínio absoluto da partida.
O que desequilibrou a partida Vasco x Barra Mansa, válido pela quinta rodada deste certame? O gol mal anulado assinalado por Marcinho aos 46 do segundo tempo? Não. O Vasco não venceu porque jogou muito mal, não é?
Para a história do estadual 2015 ficou que o Vasco atuou muito mal contra o Barra Mansa e não mereceu vencer, enquanto só derrotou o Bonsucesso graças à arbitragem, independentemente de qualquer merecimento.
O formidável nisso tudo é o fato de o Vasco se danar nos dois casos, pela forma como tudo é simplificadamente exposto. O incrível nisso é a facilidade como que o torcedor vascaíno compra esse discurso, tal qual freguês de caderno global.
Enquanto isso…
O Flamengo afirma ser o campeonato uma vergonha, já que a FFERJ e o Vasco estão unidos para favorecer o seu único rival, de fato, no estado. Enquanto isso, nas quatro linhas…
O rubro-negro joga muito mal contra o Madureira, mas tem marcado a seu favor um gol no qual a bola não entra.
Atua pessimamente contra o Volta Redonda no Maracanã, mas tem um gol em impedimento dado a seu favor aos 40 minutos da etapa final.
Na semana do jogo contra o Vasco afirma categoricamente que teme a marcação de um pênalti contra si e no final das contas tem um assinalado a seu favor (que houve).
Dias depois enfrenta o Bangu (time do presidente da FFERJ) e os alvirrubros têm invalidado pela arbitragem um gol legítimo a seu favor.
E na penúltima rodada do campeonato, após realizarem um protesto patético em campo, são novamente beneficiados pela arbitragem com uma expulsão injusta do principal artilheiro adversário, atuando por mais de um tempo com um homem a mais em campo.
Prejuízos ao rubro-negro? Sim. O Vasco existir e ter voz não deixando com que mandem ou desmandem sem qualquer oposição a suas ações.
Cheguei a ouvir – e duvido muito da veracidade disso – que teria sido ofertado para compra a seus sócios-torcedores estudantes ingressos na decisão do ano passado, tendo estes o direito de adquiri-los pagando meia da meia entrada, enquanto os do Vasco não possuíam a mesma benesse. Não pode ser verdade, como também certamente não é uma suposta primazia dada por sua direção no último Vasco x Flamengo ingresso de meia entrada aos associados do clube da Gávea, embora alguns rumores tenham feito com que o Vasco intervisse para garantir o contrário, porque agora tem voz na Federação capaz de inibir possíveis malandragens.
Mas as exóticas arbitragens dos jogos onde o time do sistema atua, ainda não foram devidamente questionadas porque enquanto a mídia abafa, os adversários do mais queridinho vão tapar a boquinha juntos ou se preocupam mais em desfazer do próprio time na competição.
Agora sim. Vasco x Friburguense.
O segundo gol do Friburguense ocorreu em lance de falta clara cometida pelo atleta número 2, Sérgio Gomes, sobre Lucas e isto é nítido, olhando-se as quatro câmeras de transmissão do jogo, desde que a bola sai do escanteio. Não é possível que ninguém tenha contestado o fato de o atleta do Vasco ter cabeceado para dentro de seu próprio gol, sem observarem o porquê disso. Não teria sido desequilibrado no lance? É ruim de cabeça e doente do pé?
O quarto gol do Friburguense foi marcado em completo impedimento, no último lance do primeiro tempo de jogo.
Os três pênaltis marcados contra o Friburguense ocorreram de fato e o Vasco desperdiçou o último deles.
O quinto gol do Friburguense não aconteceu por falha do atleta do Vasco que, diante do perigo, com um adversário próximo a si, tentou rebater a bola e encontrou o pé de outro jogador adversário no caminho e as redes no bate-rebate. Mas Serginho atuou mal? Sim, sem dúvida. Neste lance, entretanto, lhe faltou sorte, por extensão ao Vasco, e esta sobrou ao adversário.
E o placar final foi 5 x 4 Friburguense com dois gols ilegais e um pênalti perdido pelo Vasco no último lance do jogo (que não teve acréscimos, diferentemente do ocorrido em todos os outros 13 jogos do Vasco na competição até aqui).
Mas o que veremos amanhã? Prejuízo ao Vasco e favorecimento ao Flamengo por conta da arbitragem? De forma alguma. Muito pelo contrário, afinal foram três pênaltis a favor do Vasco e isso justifica tudo. Justifica sofrer dois gols ilegais, por exemplo. Já no Fla x Flu o destaque será o cala-boca do Flamengo no Flu, mais propriamente a Fred, boquirroto após ter sido injustamente expulso, cerca de meia hora depois da mudez geral pelo bem da família Fla x Flu.
E o torcedor do Vasco ao ler isso? Inicialmente usará um discurso clichê. Nada justifica tomar cinco gols do Friburguense (nem a arbitragem). O quinto gol do Vasco foi falha sim do Serginho, embora se fosse a favor do Vasco nós diríamos ser sorte, porque o vascaíno precisa se justificar perante uma realidade midiática que o oprime.
Se ele, torcedor cruzmaltino, for às ruas amanhã ignorando ter o time atuado bem ou mal, mas simplesmente defendendo seu clube diante do prejuízo sofrido pela arbitragem e reagindo diante do mudo/cínico/falastrão rubro-negro estará saindo fora do script que lhe cabe para quem o domina.
Desculpem-me todos, mas eu passei e muito dessa fase como torcedor do Vasco. Como disse, lá no início do texto, não preciso chegar aos 70 para pouco me importar em ser popular ou impopular em minhas visões e atitudes se ajo convicto e embasado quando as exponho, mesmo porque quem fez 70 e enfatizou tal conclusão, demonstrou para mim durante anos a fio – com atitudes normalmente distorcidas pelos adversários – ser praticamente impossível agradar aos que comandam o circo do futebol brasileiro, quando não se quer protagonizar o papel de mero coadjuvante determinado pelos donos do espetáculo.
Sérgio Frias