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Copa Intercontinental x Mundial Interclubes

“Dois pesos e duas medidas”.

Em quantas ocasiões isso é ouvido quando o assunto da pauta na imprensa é o sucesso ou insucesso de Vasco e Flamengo?

Mais uma vez foi o visto após a justíssima e incontestável derrota rubro-negra há alguns dias, frente ao Liverpool.

Já houve comparação de manchetes dos órgãos globais, da época e de hoje, surgidas em mídias sociais.

Uma situação das mais embaraçosas foi criada para o grupo Globo, que mantém empregado seu diretor de esportes, após desfile dele, vestido de rubro-negro, na redação do jornal isento, e demite o fotógrafo, por ter mostrado não só o ridículo da cena, como a falta de compostura de quem supostamente comanda a área esportiva de um órgão imparcial.

Ainda chegará o dia em que o Extra publicará após uma vitória que leve o rubro-negro a uma final com o Vasco, a comemoração de um atleta do clube da Gávea em foto e um “Pintou o Vice”.

Talvez o jornal “O Globo” crie uma manchete igual para celebrar um título do Flamengo, como fez em 2003 com o Vasco.

Bastará, para tal, cremos, que o clube da Gávea vença um campeonato com brigas nas imediações do gramado no primeiro tempo da partida decisiva e duas expulsões (não em decorrência disso), independentemente do antológico gol da vitória ter valido o ingresso, tal a beleza do lance.

A manchete “Flamengo campeão na final da vergonha” virá mesmo assim. Vamos esperar (sentados).

Antes que outros debates constrangedores se deem em programas esportivos globais, com tentativas de se justificar o injustificável, fica uma sugestão:

Seria preferível que pedissem, em nome do grupo Globo, simplesmente sinceras desculpas (mesmo que não sejam sinceras as desculpas) à torcida vascaína, seu corpo funcional e diretor da época, admitindo uma parcialidade, que, temos todos certeza, deixará de existir a partir de agora.

Por outro lado, seria, também, de bom tom admitir ter sido um exagero dos mais primários afirmar ter o Flamengo jogado “de igual para igual” com o Liverpool de Firmino.

Mas, vamos ao incontestável e que trouxe em pesquisa recente a reação dos vascaínos nas mídias sociais, realizada sobre a maior atuação brasileira em decisões intercontinentais ou mundiais contra os europeus nos últimos 30 anos.

Diga-se de passagem a atuação do Vasco em 1998, só está abaixo daquelas protagonizadas pelo São Paulo contra o Barcelona (1992) e do Palmeiras frente ao Manchester United-ING (1999), em termos comparativos.

A atuação do Flamengo está bem abaixo das citadas acima, das outras duas decisões disputadas pelo São Paulo, da atuação do Grêmio em 1995 (que jogou mais de uma hora com 10 em campo), do Corinthians em 2012 e é mais parecida com a do Cruzeiro em 1997.

Sim, porque a equipe mineira perdeu na oportunidade boas chances de gol com o placar ainda em branco, mas sucumbiu, fundamentalmente, no segundo tempo, diante de uma equipe alemã mais coesa e organizada em campo.

É superior a atuação rubro-negra de 2019 apenas a do Grêmio em 2017, Internacional-RS em 2006 (ambos jogaram por uma bola e os colorados tiveram a sorte dela surgir e ser aproveitada), e a do Santos, em 2011, que tomou o maior passeio de um clube brasileiro, em confrontos decisivos, no decorrer de toda a história dos intercontinentais/mundiais.

Dito isso, comparemos, então, Vasco x Real Madrid (1998) e Flamengo x Liverpool (2019).

Primeiro a decisão da Copa Intercontinental de 1998.

Chances claras de gols:

Vasco 6 x 5 Real Madrid (considerando os gols marcados).

O Vasco dominou o segundo tempo, a partir do gol de empate assinalado por Juninho Pernambucano (que na época era só Juninho).

O Real Madrid criou três de suas cinco reais chances (incluindo o gol) antes de o Vasco empatar.

Depois do gol de empate cruzmaltino o time brasileiro criou mais cinco chances reais de marcar, uma delas com Mauro Galvão, assinalando um gol com a mão (a pelota ultrapassou a linha fatal), mas sem a paralisação do lance, porque nem bandeirinha nem árbitro viram o toque irregular do zagueiro vascaíno ou a bola entrar.

As outras chances foram com Felipe (três) e Ramon (uma), esta última já com o Real Madrid vencendo por 2 x 1.

Vinte e um anos depois tivemos a decisão do Mundial Interclubes, protagonizada por Flamengo e Liverpool.

Como foi a diferença de produção das duas equipes?

Chances claras de gols:

Liverpool 9 x 3 Flamengo (considerando o gol marcado).

O Flamengo teve domínio territorial durante parte do primeiro tempo, sem criar uma única chance real de gol, após início estonteante do Liverpool.

As três chances rubro-negras se deram uma no segundo tempo (defesa do goleiro para escanteio num chute de Gabriel) e duas no segundo tempo da prorrogação (Gabriel e Lincoln).

O Liverpool teve 9 chances claras.
Duas no primeiro tempo.
Quatro no segundo tempo.
Duas no primeiro tempo da prorrogação.
Uma no segundo tempo da prorrogação.

Saliente-se que uma outra chance do Liverpool foi perdida no primeiro tempo da prorrogação. O jogo seguiu, pois a bola sobrou para o Flamengo, mas com a emissora considerando ter havido impedimento e vantagem dada ao time rubro-negro, por isso tal oportunidade não foi contabilizada aqui (confiando no olho clínico da Globo sobre o lance, sem criar polêmica).

Ressalte-se ainda que o Liverpool teve duas faltas frontais, próximas à risca da área, em seu favor, não marcadas. Uma no primeiro tempo e outra no lance que ensejaria a expulsão do Rafinha, já nos acréscimos da etapa final, caso fosse assinalada.

Não consideremos aí, nos dois jogos citados, chutes para fora (de fora da área), chutes prensados pela zaga, chutes de fora ou dentro da área nos quais o goleiro agarra firme, o que sugere (nos casos vistos), que se deixasse a bola passar seria frango (chute de fora da área do Ramon contra o Real Madrid, em 1998, bicicleta do Gabriel e chute de Arnold da meia direita da área, amortecido pela zaga, antes de chegar às mãos do goleiro, em 2019).

Também não há como dizer que houve uma chance real de gol sem complemento da jogada, o que ocorreu várias vezes no confronto de sábado último, com as duas equipes, como também aconteceu em ataque do Vasco contra o Real Madrid em 1998.

Nove a três é o triplo de chances criadas de uma equipe em comparação à outra e dois terços das chances reais do Flamengo vieram com o time atrás do marcador.

A maioria das chances do Vasco se deram quando o jogo diante do Real Madrid estava empatado.

O Vasco de 1998, se comparado ao Flamengo de 2019, mostrou-se em outro patamar no confronto intercontinental. Algo inquestionável.

E olha que nem há menção nesse texto a Vasco x Manchester United-ING de 2000, com Romário e Edmundo em campo.

Aí já é outra dimensão.

Sérgio Frias

Passamento de um campeão

Se há uma patente no Vasco que lembra atleta específico do clube, esta não é Soldado, Cabo, Sargento, Tenente, Capitão (aí lembramos de muitos atletas), Major, General, Marechal (neste caso temos até uma pessoa específica, mas fora de campo).

O quatiense Coronel, Antônio Evanil da Silva, nome de batismo, patenteou para si não só o epíteto, como também a simbologia de aguerrimento linkada a ele.

Quem acompanhou o Vasco entre os anos 50 e 60 do século passado viu atuar pela lateral esquerda do time juvenil e profissional – fosse no já ultrapassado WM, ou no 4-2-4, ou ainda no 4-3-3 – um atleta com bom senso de marcação, firme, resoluto, que chegaria, inclusive, à Seleção Brasileira.

Pela seleção nacional disputou um Campeonato Sul-americano, realizado na Argentina, chegando ao vice daquele certame, e o Troféu O`Higgins, contra o Chile, conquistado pelo Brasil, em dois jogos.

Na ocasião foi ele o substituto de Nilton Santos, entrando no lugar do lateral botafoguense já na primeira partida do certame continental e atuando como titular nos jogos seguintes. Foram oito vezes, ao todo, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, com seis vitórias e dois empates obtidos. Todos os jogos disputados em 1959.

Pelo Vasco, Coronel foi, inicialmente, Campeão Carioca Juvenil em 1954. Fazia ele parte do time dirigido por Eduardo Pellegrini, na condição de titular à época. Marcou três gols na campanha vitoriosa da equipe cruzmaltina naquele ano.

Antes disso, sagrou-se Campeão Brasileiro Juvenil pela Seleção do Distrito Federal (Torneio Paulo Goulart de Oliveira), em março de 1953. Já havia, também, participado de vários jogos com equipes mistas formadas pelo clube, no mesmo ano. Entre 1953 e 1954 foram 26 partidas amistosas realizadas em times alternativos do Vasco.

O atleta, descoberto pelo Vasco quando jogava em Barra Mansa, defendeu as cores de sua paixão como amador, depois profissional, entre 1952 e 1963, atuando nas conquistas de um Torneio Rio-São Paulo (1958), dois Campeonatos Cariocas (1956, 1958) e duas competições internacionais, uma delas realizada no Chile (1957) e outra tendo como local o México (1963).

Entre 1955, quando começou a brigar por vaga na equipe titular do Vasco, até 1963, foram 318 jogos com a camisa cruzmaltina. Participou ainda de três partidas válidas pelo Torneio Início, disputa que, embora oficial, constava de jogos mais curtos, portanto não computados dentro da lógica estatística convencional.

O atleta estreou, em partidas oficiais, na equipe principal a 07/05/1955, numa derrota frente ao Flamengo por 2 x 1, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Coronel entrou em campo substituindo a Dario, machucado, quando eram decorridos 21 minutos de jogo e o Vasco já perdia por 2 x 0.

Antes disso ele já havia sido escalado como titular da lateral esquerda num torneio amistoso (General Cordeiro de Farias), realizado em Pernambuco, com as presenças de Vasco, Bahia, Santa Cruz e Sport. Em seu debut Coronel participou da vitória cruzmaltina sobre a equipe tricolor pernambucana por 3 x 1, a 13 de março.

Em seu primeiro ano como titular absoluto da equipe (1956) Coronel foi Campeão Carioca.

Sua primeira assistência a gol ocorreu na derrota vascaína diante do Real Madrid-ESP por 5 x 2, estreia da equipe brasileira na Pequena Taça do Mundo da Venezuela, em 1956. Coronel serviu a Laerte, que marcou o tento inaugural daquela partida.

No mesmo torneio, diante da Roma-ITA, o lateral deu assistência a Vavá para que o centroavante marcasse o primeiro gol vascaíno na vitória por 3 x 1 sobre os italianos.

Envolvido intimamente com o clube, Coronel era garra em campo e um torcedor vascaíno fora dele. Após a conquista do Super Super Campeonato Carioca de 1958, o lateral cumpriu a promessa feita antes pelo título e raspou sua cabeça.

Ferrenho marcador de Garrincha, Coronel protagonizou lances duros contra o ponteiro, que levaram a confusões em campo nos clássicos entre Vasco e Botafogo.

O lateral perdeu várias disputas, ganhou outras, mas teve seu momento de gáudio em uma partida entre as equipes, válida pelo Torneio Rio-São Paulo de 1959, vencida pelo Vasco por 2 x 0.

Na ocasião, perante os aplausos da torcida cruzmaltina, fez de Garrincha seu “João”, após driblar por duas vezes consecutivas o ponta, algo raro, mas inesquecível para os vascaínos da época.

A fibra de Coronel por vezes lhe fazia sofrer duras consequências, como quando salvou um gol certo do corintiano Rafael, após este driblar o arqueiro Ita, em partida disputada no Pacaembu, válida pelo quadrangular final do Torneio Rio-São Paulo de 1961. Naquela oportunidade sofreu uma séria distensão muscular, mas ajudou a que o Vasco vencesse pelo placar de 2 x 0.

A última partida oficial disputada por Coronel com a camisa cruzmaltina ocorreu na rodada derradeira do Campeonato Carioca de 1962, contra o Campo Grande, no Maracanã (empate por 3 x 3). O placar se repetiu, também, no último jogo do atleta pelo Vasco, um amistoso contra o Grêmio Estrela, de Juiz de Fora, realizado a 23/07/1963 na cidade mineira.

Era o fim de uma trajetória vitoriosa no clube de São Januário, marcada não pelos grandes lances ofensivos (apenas cinco assistências e nenhum gol marcado) e sim pela fibra defensiva e superação reinante a cada grande embate do Vasco nas mais diversas competições.

Do Vasco Coronel saiu para o Náutico em setembro de 1963. Lá participou da conquista do título que abriria uma série inesquecível para os alvirrubros, até o Hexacampeonato Pernambucano em 1968.

Atuaria ainda pela Ferroviária, de Araraquara, Nacional, da capital paulista, chegando, também, a jogar no futebol colombiano, defendendo o União Magdalena. Em maio de 1968 partiu para o futebol venezuelano a fim de defender o Lara F.C., mas sofreu por lá uma fratura no pé esquerdo, que o deixou parado por meses e precipitou seu fim de carreira aos 33 anos de idade.

Por anos era visto nas sociais do Vasco ao lado do companheiro de time Orlando Peçanha.

Chegou ele a treinar a equipe cruzmaltina de profissionais em algumas partidas amistosas nos anos 70, mas sua satisfação era mesmo acompanhar o time em campo como mais um dentre os milhares de vascaínos presentes em inúmeros jogos realizados em São Januário.

Coronel nos deixou ontem, mas fica patente sua identificação com o Vasco. Todos lhe aplaudem de pé pelos serviços prestados ao clube, tal qual fizeram os torcedores cruzmaltinos presentes naquele 30/04/1959, quando o lateral inovou, fazendo Mané Garrincha de “João”.

Sérgio Frias

O retorno da Supercopa Libertadores e o Vasco

Entre 1988 e 1996 a Supercopa Libertadores não teve o Vasco, primeiro Campeão Sul-Americano, na disputa.

Um título, que era a simbologia do modelo de disputa da Taça Libertadores da América, conquistado em 1948, no Chile, trouxe ao Vasco apenas 48 anos depois seu reconhecimento oficial.

A obra protagonizada por um plêiade de craques, como Barbosa, Augusto, Ely, Danilo, Ademir, Friaça, Lelé, Chico, entre outros, seria tratada como oficial na história do futebol deste continente, após trabalho dos mais elogiosos feito por Eurico Miranda nos bastidores, com ajuda do hoje professor doutor em história, Mario Angelo Miranda.

Mas um reconhecimento somente não bastava. Em que grau, em que altura, em que patamar destacar-se-ia aquele título emblemático?

Havia à época a Copa Conmebol, um torneio menor como é hoje a Copa Sul-Americana, disputada a princípio, ou no decorrer de todo o certame, conforme o caso, por equipes não classificadas para a Taça Libertadores da América.

Chegou a ocorrer a disputa no início de 1996 da Copa Master da Conmebol, protagonizada pelas equipes campeãs da Copa Conmebol entre 1992 e 1995 (Atlético-MG, Botafogo, São Paulo e Rosário Central-ARG). Caberia o Vasco ali?

Não.

O Vasco não só teve em 1996 seu título reconhecido, como foi relacionado para disputar a Supercopa Libertadores de 1997, competição da qual faziam parte apenas os campeões de Taças Libertadores da América.

A participação do Vasco, a partir daquela edição, conforme comprovado pelo documento oficial da própria entidade, punha o título conquistado no patamar que merecia o clube e seus heróis de 1948.

Com efeito, em 1997 o Vasco estreou na Supercopa Libertadores, diante do Peñarol-URU, em São Januário, a 20 de junho, uma sexta-feira à noite.

Antes do início daquela partida foram homenageados muitos dos campeões sul-americanos ainda vivos à época, levados ao gramado de São Januário por Eurico Miranda. Foram eles Barbosa, Augusto, Rafagnelli, Jorge, Friaça, Lelé, Chico, os suplentes Barcheta, Moacir, além de Flávio Costa, treinador daquela equipe, e Amilcar Giffoni, médico do clube na ocasião.

O primeiro gol vascaíno na Supercopa Libertadores foi marcado por Juninho numa cobrança de falta muito parecida com outra que o consagraria perante os torcedores cruzmaltinos no ano seguinte em Buenos Aires.

O Vasco, que perdia por 1 x 0, empatou com o já relembrado tento de Juninho e virou para cima dos uruguaios, com gols de Aguirregaray (Contra) no primeiro tempo e Pimentel fechando o marcador aos 7 minutos da etapa complementar.

Durante a competição a equipe cruzmaltina obteria ainda mais quatro vitórias, dois empates e três derrotas, sendo seu principal algoz o River Plate-ARG, que fora sua vítima em 1948 no jogo do título e, também, a seria na Taça Libertadores de 1998 e na Copa Mercosul de 2000.

A Supercopa Libertadores, extinta no mesmo ano da primeira participação do Vasco (1997), nada tem a ver com a Copa Mercosul incluída no calendário da Conmebol entre 1998 e 2001, junto à Taça Libertadores da América e a Copa Conmebol (disputada pela última vez em 1999).

Surgiria, então, em 2002 a Copa Sul-Americana, com participação de clubes brasileiros a partir de 2003, ocasião na qual a princípio o Vasco não foi colocado como um dos convidados, mas, via bastidores, acabou incluído pela CBF no certame, junto a Atlético-MG, Internacional e Palmeiras.

Dos oito participantes indicados pela entidade máxima do futebol brasileiro (seis melhores colocados no Campeonato Brasileiro do ano anterior mais dois por critério técnico, Cruzeiro e Flamengo), o número subiu para 12, fazendo parte dos convidados ainda não citados Corinthians, Fluminense, Grêmio, Santos, São Caetano, São Paulo.

Um dos motivos expostos pelo Vasco, além da conquista de dois outros títulos continentais, respectivamente em 1998 e 2000, foi a lembrança do obtido em 1948, oficializado em 1996. Daí a inclusão do Flamengo anteriormente ao Vasco na época ter causado um problema sério à CBF, que para não ter de voltar atrás quanto à inclusão do rubro-negro e negação disso ao Vasco, pôs mais quatro clubes na disputa, incluindo o próprio Vasco.

A competição voltará a ser disputada, ao que tudo indica, em 2020, com classificação para o Mundial Interclubes, caso vingue a ideia.

Segundo critérios expostos pela imprensa, a participação do Vasco estaria garantida pela conquista da Taça Libertadores da América de 1998, mas isso cria um problema eterno para a Conmebol, afinal a última edição da Supercopa Libertadores (que pode ser disputada mais de 20 anos depois com outra nomenclatura até), realizada em 1997, teve a participação de todos os campeões de Taça Libertadores até ali (como sugere vir a ser o modelo para o ano vindouro), incluindo o Vasco, que, segundo o documento datado de 1996, participaria da competição não só em 1997, mas sim desde 1997.

O patamar atingido pelo Vasco no futebol sul-americano, Bicampeão, com um dos títulos obtido de forma invicta e sem nenhuma partida disputada em casa, é referência no Rio de Janeiro e oportuniza ao clube chegar em 2020 com condições, por sua história vitoriosa, de alcançar o título maior do futebol mundial, a partir da conquista de uma das vagas para a competição que se busca fazer via FIFA.

Para um clube que conquistou há 19 anos a Copa Mercosul, de forma histórica e inigualável pelas circunstâncias, chegou à Taça Libertadores recentemente (há dois anos) e ainda obteve neste século a maior sequência de vitórias consecutivas na competição (junto a conseguida pelo Cruzeiro em 1976) participar de uma nova Supercopa Libertadores como convidado é o óbvio ululante, pois sem o Vasco a competição se tornaria capenga, tanto quanto avessa à meritocracia.

Sérgio Frias

Mentiras, desrespeito e queda do cavalo coletiva

Na última sexta-feira Alexandre Campello confessou o inconfessável.

Revelou ele publicamente, diante de suas atitudes, em afronta a centenas de vascaínos e por extensão ao quadro social, desrespeitando ainda o estatuto do Vasco, como procede em relação ao clube.

Em primeiro lugar, não pode servir como motivo de recusa do novo sócio algo inerente a quem assinou fichas de propostos ao Vasco, independentemente se foi uma ou foram mil, porque o julgamento recai, OBRIGATORIAMENTE, a quem está se associando e não a quem já é associado.

Em segundo lugar mentir ao público de forma desavergonhada como fez Alexandre Campello, afirmando que usou um critério, mesmo sem previsão estatutária, o qual, de fato, não cumpriu ao homologar cerca de 400 associados, denota seu apego por ações próprias dessa natureza.

Entendamos a questão.

Um associado chamado Danilo inadvertidamente resolveu colocar a carroça na frente dos bois, afirmando que fora proponente de número superior a cinco propostos e que todos haviam sido homologados.

A manifestação foi feita via Twitter, tratando como blefe a denúncia apresentada pelo Grande Benemérito Luís Manuel Rebelo Fernandes de que em conversa com o presidente do Vasco, após reunião última do Conselho de Beneméritos, teria ouvido do seu interlocutor que este criara um critério de sua cabeça para indeferir sócios.

Qualquer proposto que tivesse como signatário um proponente com outras indicações, se elas ultrapassassem o número de cinco, estariam vetados, segundo Campello.

A jogada política não foi bem ensaiada com o presidente do clube, que deixou tanto Danilo quanto o falastrão metido a sabido de nome Otto a ver navios quando ratificou à imprensa o dito ao Grande Benemérito Luís Fernandes uma semana antes.

Otto tratara como “uma maluquice” a hipótese de Campello ter dito o que fora denunciado por Luís Fernandes em seu twitter, com a evidente intenção de expor o Grande Benemérito e numa dobradinha com Danilo este último tratou como blefe a fala de Luís Fernandes, relatando em público a “benesse” recebida, em desarmonia com o dito pelo presidente do Vasco.

Ambos, pertencentes ao mesmo grupo político, fizeram uma tabelinha, relembrando o final dos anos 70, do tipo Afrânio e Xaxá, que não funcionou porque o zagueirão Manguito (Campello, representando o beque rubro-negro no caso) deu-lhes uma rasteira, com ou sem intenção.

Devemos dizer que já temos informações de outras pessoas, as quais assinaram mais de cinco fichas na qualidade de proponentes e tiveram homologados seus propostos na condição de associados do clube.

Não podemos deixar de destacar a lamentável inércia de alguns quanto à bizarrice assumida pelo presidente do Vasco e sua entourage, ora aquiescendo a tudo isso, mesmo sabedores todos que não há disposição estatutária justificável para a atitude vergonhosa do atual mandatário, qual seja de segregar pela origem da indicação, algo insustentável e indefensável.

Por outro lado, vale ressaltar que todas as explicações a serem dadas por Alexandre Campello, quanto a seu procedimento, já previamente foram explicitadas por ele via internet. Sim, ele destratou centenas de vascaínos, familiares de sócios, sócios torcedores, sócios em outra categoria estatutária como um verdadeiro rubro-negro procederia.

Cabe, por exemplo, ao Conselho Deliberativo julgar sua punição ao invés de meramente receber suas explicações ou justificativas, conforme deseja o atual presidente, pois elas já foram dadas e servem como confissão pelos atos cometidos, contrários aos interesses do clube e feitos a serviço sabe-se lá de quem.

Com efeito, inúmeros vetados entraram em contato conosco imediatamente a seus respectivos indeferimentos e após ouvirem a fala do presidente do clube, direcionada a eles, entendem que tal ofensa tem de ser reparada da forma adequada.

Aos propostos, assinados por nós, pedimos desculpas pelo vexame protagonizado por Alexandre Campello, em virtude da irresponsabilidade cometida contra o clube e seu quadro social.

Finalmente quanto aos proponentes, todos ofendidos pela direção, quando esta recusou suas assinaturas como premissa para indeferimentos aleatórios, devem estar cientes que a atitude tomada por Campello atingiu o Vasco, daí ter que trazer consequências ao presidente do clube por seus atos irresponsáveis.

Sérgio Frias

Desproteção

O afastamento imediato, dito em mídias sociais, do atleta Yago Pikachu da partida diante do Corinthians, em função do episódio ocorrido na chegada da equipe vascaína a Manaus, seria, se confirmado, uma atitude tão irresponsável quanto insensível para com ele, pois nem teria lhe sido dado o direito de expor sua versão do caso antes da suposta punição sofrida.

O atleta é funcionário do clube, ativo do clube e estaria exposto para o público de forma maniqueísta, porque já teria sido dado como culpado pelo episódio e com isso já queimado, em função da notícia de seu desligamento do jogo de amanhã.

Só pela feição do rosto de Pikachu dava para ver que havia sido um movimento reativo a algo sofrido por ele, vindo do torcedor.

Claro que o atleta tem de se controlar e tal, mas depois viria a público, pediria desculpas, e tentaria resolver a questão de forma mais tranquila, como tentou fazer.

Quem administra tem de fazer a correção internamente, puxar a orelha, mas mostrar perante ao grupo que vai cuidar do jogador, blindá-lo, mas cobrá-lo internamente, porque isso passa confiança para os demais de que a direção os protege.

A atitude reativa de Yago Pikachu simboliza o Vasco agredindo sua torcida, a imagem que fica é aquela registrada pelas câmeras.

Exatamente por isso a direção tem de internamente fazer ver ao atleta o que significa seu ato, mas protegê-lo contra o apedrejamento em praça pública.

Yago Pikachu tem contrato até junho de 2021 e isso também deve ser considerado, vive uma má fase como viveu uma muito boa no ano passado. Não ajuda em nada ser exposto neste caso.

Repetindo que a ação dele, mesmo reativa, está errada e acaba ferindo a imagem da delegação vascaína perante a torcida manauara, mas a justificativa de uma criança envolvida no episódio atenua seu rompante.

Que venham os dirigentes vascaínos a público proteger, enfim, seu atleta, pois antes tarde do que nunca.

Como o clube não se manifestou oficialmente a respeito do caso, até aqui, que seja normalmente o jogador escalado amanhã, ficando o dito pelo não dito ao longo do dia de hoje em mídias sociais.

Sérgio Frias

OBS: Texto editado às 23:45 hs do dia 03/05/2019

O texto original foi escrito quando circulava nas mídias sociais a informação de que Yago Pikachu não enfrentaria o Corinthians e a diretoria não se pronunciaria sobre o episódio. Tal informação, entretanto, não foi oficializada.

Depois de afastar jogadores da Libertadores por causa de uma foto em mídias sociais, depois de afastar Thiago Galhardo da reta final do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil, parece, assim esperamos, que a diretoria interrompeu o procedimento padrão até então visto a cada vez que precisava gerenciar uma crise.

Persiste a crítica por não ter se pronunciado o clube sobre este episódio com Yago Pikachu. Dirigente do Vasco não pode ter medo de se expor.

Desastre absoluto

Pela primeira vez no século o Vasco perde as duas primeiras partidas na disputa do Campeonato Brasileiro.

O plantel vascaíno é até aqui um dos mais sofríveis entre os 20 clubes que disputam a competição nacional este ano.

Não há um atleta nosso que desequilibre a favor, o número de jogadores com passagens recentes por grandes clubes e com algum destaque é ínfimo, dentre os cerca de 25 oriundos de outras agremiações.

A base, por sua vez, está jogada às feras, com atletas que tendem a cair de produção ou com pouca possibilidade de ajudar, com toda a pressão sobre o time.

Salários atrasados, outros pagamentos idem, uma sucessão de resultados negativos e perda total de confiança, um inexperiente treinador, profissionais medíocres para baixo na gestão de futebol, uma lacuna na vice-presidência do setor pela presença de Alexandre Campello no cargo.

Enquanto isso, o presidente do clube declara em conversa de rua com torcedores que o time recebido em janeiro de 2018 não tinha a mesma qualidade do que se classificou à Libertadores, porque não possuía mais Anderson Martins e Mateus Pet, mas sim Paulão e Erazo, esquecendo-se que a zaga titular do jogo diante do Atlético-MG ontem já fora recebida por ele próprio – com a contratação de Werley formalmente concretizada em sua gestão, mas já bem direcionada pela anterior – e que Paulão formou na maioria da competição em 2017 a zaga titular do Vasco. Aliás com um gol do zagueiro a equipe ficou perto da conquista da vaga para a Libertadores na penúltima rodada, diante do Cruzeiro, em Belo Horizonte.

Esquece-se também que para o lugar de Jean veio Desábato, atleta com o qual o Vasco lucrou este ano, negociando-o, que para ser também reserva na posição de Mateus Vital, assim como o jovem da base era, chegou Thiago Galhardo, com quem a diretoria atual renovou, que Luiz Gustavo, trazido para a lateral ou zaga teve seu contrato também renovado pela nova direção, que Rildo e Riascos foram trazidos e seus currículos e atuações em grandes jogos são mais recomendáveis que as de Vinicius Araújo, por exemplo, que se Rafael Galhardo e Fabricio não eram o ideal, trazido este último porque Ramon estava machucado, as contratações de Lenon, Cáceres, Claudio Winck e Danilo Barcelos estiveram longe ainda de serem soluções para as duas laterais.

A cada dia que passa a situação do clube fica pior.

Mais cobranças são feitas, penhoras, queixosos de acordos não cumpridos por essa gestão se multiplicam, atletas, outros funcionários e credores não pagos no final de 2017 também se manifestam via judicial. Por opção de quem chegava, embora com 90 dias houvesse condições para pagamento dos últimos citados, o caminho foi ignorar tais débitos na prática.

A gestão anterior, boba, não vendeu Paulinho pelo valor da multa rescisória à época, triplicando a quantia em janeiro de 2018, proporcionando com isso a quem chegava receber 57 milhões de reais limpos e, como “reconhecimento“ daquele ato institucional, ignorar, por politicagem, molecagem, má intenção ou conveniência, pagamentos inerentes àquela, fundamentalmente salários, direitos de imagem e acordos, privilegiando a manutenção do dinheiro em banco para satisfação de pagamentos futuros, enquanto se demitiam centenas de funcionários, sem lhes pagar os direitos trabalhistas, como também assim se faria em relação a acordos futuros celebrados com estes.

A perspectiva de ganhos para este ano reside em verba da Globo a ser recebida em breve e através da venda de um ou outro atleta oriundo da base na próxima janela, falando das mais relevantes. Daí por diante são aportes viabilizados por empréstimos e afins.

A gestão atual vende uma fantasia para o público, enquanto o estapeia com a realidade dos fatos. Os discursos dela são parecidíssimos com os do MUV. Senão vejamos:

Em janeiro de 2012 o vice de Finanças da época afirmava que o Vasco devia 250 milhões de reais mais ou menos e no balanço de 2013 surgia o clube devendo quase o dobro, após refeito o balanço do próprio ano de 2012. O valor subiria a quase 700 milhões em 2014 e seria reduzido para 580 milhões em 2017.

Mas para a gestão atual o balanço de 2017 (retificado em novembro último), dizia dever o Vasco 645 milhões, assim como o MUV e suas reservas de contingência elevaram na caneta a dívida do clube de 220 milhões para mais de 350 em 2009.

Por outro lado coube a Alexandre Campello protagonizar uma série de atitudes, desde sua chegada à presidência do Vasco, que transformaram um cenário de pacificação e unidade noutro no qual isolou-se para buscar apoios a qualquer custo e – curioso – ter à sua volta vários pacificadores, que lhe consideram tão fraco quanto importante numa estratégia de coalizão.

A implosão política do clube, protagonizada por Campello, se deu também desde a insistência em fazer um balanço que era cabido ao gestor antecessor realizar, com números – relembre-se – depois retificados e votados no Conselho Deliberativo e novamente ignorados na feitura do balanço de 2018. Junto a isso uma carta amarela, na essência, foi elaborada provavelmente por amarelos dessa gestão, cínica, covarde e maquiavélica, vide ações posteriores a ela e choramingo ulterior. A assinatura daquilo demonstrou também um pouco do caráter administrativo do atual presidente.

A forma como Alexandre Campello tratou Eurico Miranda na mídia no início de sua gestão, sugerindo uma distância, enquanto intramuros ia até ele, demonstrando o contrário, solicitar ajuda (que nunca lhe era negada) traduziu-se em sinal para muitos.

A forma como tratou seu próprio grupo, sem o qual não teria chance nem mesmo de pleitear ser conselheiro do Vasco, a não ser, talvez, na chapa “pura” amarela, por seu discurso coadunado na essência com o que pensa tal facção – diga-se de passagem hoje aliada em mantê-lo no poder, visando as eleições em 2020, fazendo a lógica do quanto pior melhor – mostra também muito de si.

A forma como tratou a gestão anterior sobre seus resultados, a verdadeira reconstrução que se iniciava no Vasco, em vários dizeres já expostos acima, culminou com declaração recente de que a atual gestão reconstrói o clube – infelicidade dita após a perda de um título contra o maior rival, para os vascaínos de raiz.

A forma como tentou trabalhar politicamente apoios no clube – excluindo desta conta os que convergem com ele e suas ideias por convicção na sua capacidade de gestão – trouxe para si supostos aliados, os quais querem não só que ele se dane, como também que sirva aos interesses filosóficos de cada um, vide, por exemplo, o ocorrido após decisão judicial que garantiria novas eleições no clube próximo ao fim do ano passado.

O Vasco desaba institucionalmente, joga fora todo o trabalho feito com tantas dificuldades e poucos recursos pela gestão antecessora à atual, realizado após seis anos e cinco meses do que se viu de horrendo no Vasco. Caminha hoje o clube para uma derrocada esportiva com consequências das mais danosas, pois é o Vasco no cenário atual uma equipe sem prestígio, sem carisma, sem harmonia e se não houver mudanças drásticas (E CORRETAS), sem futuro.

Sérgio Frias

Medo, descomprometimento, vergonha

A lamentável e inaceitável atuação do Vasco domingo contra o Flamengo, na primeira partida decisiva do campeonato, criou um abismo entre os dois clubes, materializado em 90 minutos de partida.

Tal abismo era nítido entre o Campeonato Brasileiro de 1997 e o de 2000, a favor do Vasco, mas o que se via na época era uma dedicação quase irracional da equipe rubro-negra, jogando a vida a cada confronto, contra um adversário nitidamente superior, que entre uma goleada e outra impingida, buscava igualar as coisas, com o sistema a seu favor, claro, mas também comprometido a cada disputa. Foram 6 vitórias do Vasco contra 5 do adversário.

A mesma diferença abissal era nítida entre o início de 1979 até o Campeonato Brasileiro de 1983. A geração de Zico e cia. ganhou mais que perdeu do Vasco, mas teve no adversário um digno contendor. Naquela época o que se via pelos lados de São Januário era uma luta constante, contra uma equipe melhor e um sistema que ainda a fortalecia mais ainda, independentemente da distância entre os dois clubes. Foram 9 vitórias do Flamengo contra 8 do oponente.

Tanto Vasco como Flamengo tiveram ao longo da história momentos nos quais o favoritismo pendia para um lado ou outro, mas a luta, a garra, a vontade de vencer, não era definida no papel, na escalação, mas sim na atitude em campo.

Faltou atitude ao Vasco, sobrou receio, faltou concentração, sobrou atabalhoamento, tudo isso no primeiro jogo decisivo do campeonato.

Os dois gols rubro-negros surgiram de falhas infantis dos laterais e o anulado de outra, desta vez cometida pelo zagueiro Werley.

O treinador errou em duas das três substituições (na outra trocou simplesmente um centroavante por outro), mas ficou evidenciado que a mexida do intervalo pôs cedo demais no gramado um atleta capaz de produzir muito mais como arma para os últimos 15, 20 minutos (oxalá esteja pronto para mais daqui por diante). O absurdo, entretanto, foi a segunda alteração, quando foi retirado de campo o jogador mais produtivo da equipe nas ações ofensivas, facilitando de vez as coisas para o adversário, embora, em tese, a dupla função a ser exercida por Yan Sasse, mais descansado, justificasse, por princípio, a troca.

Os atletas com os quais mais se contava, no meio e na frente, decepcionaram. Maxi Lopez e Bruno César andaram de mal a pior, Pikachu reapareceu sem ritmo e pouco comprometido com a marcação, Lucas Mineiro mostrou-se irregular ao longo da partida, vigiado de perto pela marcação adversária e Raul um tanto inseguro e pouco efetivo.

Atrás salvou-se Leandro Castan, realizando uma bela partida e Fernando Miguel, com boas defesas, embora deixasse a sensação de que poderia não largar o cruzamento de Arascaeta, na jogada do segundo gol rubro-negro. A bola, todavia, estava molhada, absolvendo o arqueiro de qualquer crítica contundente naquele lance.

Não há uma mágica solução para reverter uma vantagem considerável, aberta pelo adversário, mas o certo é que com a repetição dos erros, da amorfia e do titubeio coletivo, o Vasco não conseguirá melhor sorte na segunda partida.

De nada adianta simplesmente passar uma borracha no que ocorreu, mas sim tirar lições disso, corrigir defeitos, questionarem-se todos os envolvidos no vexame e mudar a postura (tanto quanto o espírito) para a disputa do segundo jogo decisivo.

Por fim, deve nesta semana se expor a direção, mantendo os vascaínos ainda motivados para darem sua contribuição em nome da reação, com sua presença e incentivo no último embate do campeonato.

O vascaíno cascudo vai ao jogo, disso temos todos certeza.

Sérgio Frias

Até…

Eu o conheci pela TV, falando Vasco, Vasco e Vasco em inúmeras discussões ali e acolá.

Eu o conheci pelo rádio, onde ouvia o que desejava ouvir, quase que como lhe dissesse para falar o que dizia, como se adivinhasse o que meu coração vascaíno queria ouvir.

Eu o conheci através dos jornais, com matérias por vezes sensacionalistas, noutros casos ácidas, falando dele como uma figura que cativava, mas também incomodava.

Eu o conheci ao vivo, lá pelos meus 18 anos e não vi barreira grande para falar com ele ou ter dele uma resposta direta e até simpática diante das minhas dúvidas ou preocupações daquele momento.

Quando meu pai me trouxe o adesivo de campanha, em 1985, eu o colei na minha janela e lá está ele até hoje, no mesmo vidro dela, no mesmo lugar, no quarto da hoje casa de minha mãe.

O que se dizia ali era muito sério, de difícil execução, quase impossível ocorrer na prática, mas eu, adolescente e acreditando nos sonhos de qualquer adolescente via como possível, plausível e emblemático: “Eurico 86 – O Vasco Acima de Tudo”.

Eurico perdeu as eleições, de forma estranhíssima na ocasião. O clube todo sabia o que ocorrera, mas ele não foi à Justiça, não foi expor o Vasco.

Deu lá algumas entrevistas e voltou para seus afazeres, certo de que o Vasco praticamente inteiro o queria dentro do clube.

Chamado a atuar como Vice-presidente de futebol, após quase 20 anos vivendo a política interna do clube, ele surgiu como um trator.

O Vasco mudou de patamar e aquilo que nem nos nossos mais belos sonhos juvenis seria plausível foi obtido.

Mas o que chamava a atenção, mais do que vitórias, títulos, alegrias era como havia apenas dois caminhos para os oponentes do Vasco. Admirá-lo ou odiá-lo.

O Vasco não passava desapercebido e quando desrespeitado tinha um leão a defendê-lo, com todas as armas possíveis e impossíveis de serem usadas para tal.

Colecionou inimigos e brigas em prol do clube, prejudicou-se pessoalmente, teve na família seu grande aparato, nos amigos e correligionários apoio, mas viveu entre injustiças contra si e ações odiosas de seus adversários.

Em tempos digitais mentiras e distorções se espalham pela rede, falar mal em maioria de alguém faz um monte de bobagens parecerem verdades e o trabalho feito por Eurico Miranda após seu retorno apoteótico à presidência do clube no final de 2014, até o fim de seu mandato, teve na distorção dos fatos a conclusão de que tudo aquilo feito de nada importava e era simples para qualquer outro executar.

O tempo demonstra o contrário, como a história recente do clube – sem ele gerindo o Vasco – também evidencia a grande distância entre aquele indefectível personagem e o resto.

No seu último ano de vida ativa no clube ainda ajudou no que pôde, aconselhou no que pôde, agiu como pôde. Enfim, fez o que pôde.

Um homem que por décadas não passou anônimo na multidões qualquer lugar pelo qual andasse, que se fez respeitar pelos adversários desta cidade por inequívoca supremacia nos confrontos, por inequívoca capacidade de sobrepujá-los fosse nos bastidores ou no próprio campo de jogo.

Como gran finale teve ao final de seu último jogo como presidente do clube uma vitória, contra tudo e contra todos, que foi a classificação para a Taça Libertadores de 2018.

Como gran finale teve ao final de seu último jogo como torcedor um gol do Vasco, contra o arquirrival, marcado num pênalti, no último minuto.

Quisera eu escolher sua última memória, sua última visão, antes de ele fechar de vez os olhos e entrar para a história. Que fosse ela, então, a bola na rede rubro-negra em mais um gol do Vasco, Vasco que foi no fundo a razão de viver dessa lenda chamada Eurico Miranda, que tanta falta nos faz e fará ao Vasco para todo o sempre.

Saudades, amigo.

Sérgio Frias

Parabéns à torcida vascaína


Foi uma vitória da torcida, que pressionou os jogadores tricolores e seu tic-tac improdutivo no campo de defesa.

Foi uma vitória da torcida, que pressionou fora do estádio para que pudessem retornar ao local que sempre foi de direito do clube, desde 1950 e deixou de sê-lo por uma anuência inaceitável em 2013 e que mantém a discussão acesa até hoje.

Foi uma vitória da torcida, que enfrentou intempéries, enfrentou a desilusão dos portões fechados com o jogo correndo e voltou ao estádio, ou o invadiu, após ter havido a liberação judicial.

O Vasco cumpre ordem judicial, ao Vasco cumpre tal dever e à torcida cruzmaltina cumpre defender o clube, com ações em massa como a que vimos hoje.

Parabéns a todos nós.

Vasco Campeão da Taça Guanabara (invicto) mais uma vez.

Sérgio Frias

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