A lamentável e inaceitável atuação do Vasco domingo contra o Flamengo, na primeira partida decisiva do campeonato, criou um abismo entre os dois clubes, materializado em 90 minutos de partida.
Tal abismo era nítido entre o Campeonato Brasileiro de 1997 e o de 2000, a favor do Vasco, mas o que se via na época era uma dedicação quase irracional da equipe rubro-negra, jogando a vida a cada confronto, contra um adversário nitidamente superior, que entre uma goleada e outra impingida, buscava igualar as coisas, com o sistema a seu favor, claro, mas também comprometido a cada disputa. Foram 6 vitórias do Vasco contra 5 do adversário.
A mesma diferença abissal era nítida entre o início de 1979 até o Campeonato Brasileiro de 1983. A geração de Zico e cia. ganhou mais que perdeu do Vasco, mas teve no adversário um digno contendor. Naquela época o que se via pelos lados de São Januário era uma luta constante, contra uma equipe melhor e um sistema que ainda a fortalecia mais ainda, independentemente da distância entre os dois clubes. Foram 9 vitórias do Flamengo contra 8 do oponente.
Tanto Vasco como Flamengo tiveram ao longo da história momentos nos quais o favoritismo pendia para um lado ou outro, mas a luta, a garra, a vontade de vencer, não era definida no papel, na escalação, mas sim na atitude em campo.
Faltou atitude ao Vasco, sobrou receio, faltou concentração, sobrou atabalhoamento, tudo isso no primeiro jogo decisivo do campeonato.
Os dois gols rubro-negros surgiram de falhas infantis dos laterais e o anulado de outra, desta vez cometida pelo zagueiro Werley.
O treinador errou em duas das três substituições (na outra trocou simplesmente um centroavante por outro), mas ficou evidenciado que a mexida do intervalo pôs cedo demais no gramado um atleta capaz de produzir muito mais como arma para os últimos 15, 20 minutos (oxalá esteja pronto para mais daqui por diante). O absurdo, entretanto, foi a segunda alteração, quando foi retirado de campo o jogador mais produtivo da equipe nas ações ofensivas, facilitando de vez as coisas para o adversário, embora, em tese, a dupla função a ser exercida por Yan Sasse, mais descansado, justificasse, por princípio, a troca.
Os atletas com os quais mais se contava, no meio e na frente, decepcionaram. Maxi Lopez e Bruno César andaram de mal a pior, Pikachu reapareceu sem ritmo e pouco comprometido com a marcação, Lucas Mineiro mostrou-se irregular ao longo da partida, vigiado de perto pela marcação adversária e Raul um tanto inseguro e pouco efetivo.
Atrás salvou-se Leandro Castan, realizando uma bela partida e Fernando Miguel, com boas defesas, embora deixasse a sensação de que poderia não largar o cruzamento de Arascaeta, na jogada do segundo gol rubro-negro. A bola, todavia, estava molhada, absolvendo o arqueiro de qualquer crítica contundente naquele lance.
Não há uma mágica solução para reverter uma vantagem considerável, aberta pelo adversário, mas o certo é que com a repetição dos erros, da amorfia e do titubeio coletivo, o Vasco não conseguirá melhor sorte na segunda partida.
De nada adianta simplesmente passar uma borracha no que ocorreu, mas sim tirar lições disso, corrigir defeitos, questionarem-se todos os envolvidos no vexame e mudar a postura (tanto quanto o espírito) para a disputa do segundo jogo decisivo.
Por fim, deve nesta semana se expor a direção, mantendo os vascaínos ainda motivados para darem sua contribuição em nome da reação, com sua presença e incentivo no último embate do campeonato.
O vascaíno cascudo vai ao jogo, disso temos todos certeza.
Sérgio Frias