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A torcida de brunos henriques

Dia de clássico, num palco desfigurado pela volúpia da corrupção e pela politicagem mais abjeta.

Ainda assim, um resquício do espírito do velho Maracanã, acuado em seu limbo forçado, teimosamente esgueirou-se para assistir à apresentação de uma camisa gloriosa, envergada por jogadores briosos, cientes da força da Cruz de Malta.

Apoiados por 2 mil valentes, representantes da melhor tradição vascaína, foram nossos jogadores a campo ministrar uma inesquecível lição aos neo torcedores de uma grande farsa, aos bobalhões que julgam a história por aquilo que seus olhos viram e suas cabeças não entenderam, uma lição aos que, a despeito das dificuldades passadas que lhes deveriam moldar os caracteres, optaram pelo livre arbítrio da ignorância, enveredando-se por caminhos incertos.

Foi uma aula institucional e de valores, um freio à insanidade midiática.

Excelente ver comentaristas mal humorados, bicudos, contorcendo-se como pequenos vermes que se alojam nos cérebros menos afortunados e nos corações menos puros.

Foi, sim, uma lição, com a didática de quem tem bagagem e História para ser contada.

Merecíamos a vitória, mas as reações, o medo e a confusão estampadas nas faces dos 40 mil brunos henriques valeu muito mais do que três meros pontos.

Isto é o Vasco. Suor, superação, resistência, resiliência e respeito.

O emblemático clássico, numa noite mágica, encerrou lições a todos. Para fora e para dentro do clube.

Queira Deus que se faça bom proveito das verdades impostas pela Cruz.

Rafael Furtado

O retorno da Supercopa Libertadores e o Vasco

Entre 1988 e 1996 a Supercopa Libertadores não teve o Vasco, primeiro Campeão Sul-Americano, na disputa.

Um título, que era a simbologia do modelo de disputa da Taça Libertadores da América, conquistado em 1948, no Chile, trouxe ao Vasco apenas 48 anos depois seu reconhecimento oficial.

A obra protagonizada por um plêiade de craques, como Barbosa, Augusto, Ely, Danilo, Ademir, Friaça, Lelé, Chico, entre outros, seria tratada como oficial na história do futebol deste continente, após trabalho dos mais elogiosos feito por Eurico Miranda nos bastidores, com ajuda do hoje professor doutor em história, Mario Angelo Miranda.

Mas um reconhecimento somente não bastava. Em que grau, em que altura, em que patamar destacar-se-ia aquele título emblemático?

Havia à época a Copa Conmebol, um torneio menor como é hoje a Copa Sul-Americana, disputada a princípio, ou no decorrer de todo o certame, conforme o caso, por equipes não classificadas para a Taça Libertadores da América.

Chegou a ocorrer a disputa no início de 1996 da Copa Master da Conmebol, protagonizada pelas equipes campeãs da Copa Conmebol entre 1992 e 1995 (Atlético-MG, Botafogo, São Paulo e Rosário Central-ARG). Caberia o Vasco ali?

Não.

O Vasco não só teve em 1996 seu título reconhecido, como foi relacionado para disputar a Supercopa Libertadores de 1997, competição da qual faziam parte apenas os campeões de Taças Libertadores da América.

A participação do Vasco, a partir daquela edição, conforme comprovado pelo documento oficial da própria entidade, punha o título conquistado no patamar que merecia o clube e seus heróis de 1948.

Com efeito, em 1997 o Vasco estreou na Supercopa Libertadores, diante do Peñarol-URU, em São Januário, a 20 de junho, uma sexta-feira à noite.

Antes do início daquela partida foram homenageados muitos dos campeões sul-americanos ainda vivos à época, levados ao gramado de São Januário por Eurico Miranda. Foram eles Barbosa, Augusto, Rafagnelli, Jorge, Friaça, Lelé, Chico, os suplentes Barcheta, Moacir, além de Flávio Costa, treinador daquela equipe, e Amilcar Giffoni, médico do clube na ocasião.

O primeiro gol vascaíno na Supercopa Libertadores foi marcado por Juninho numa cobrança de falta muito parecida com outra que o consagraria perante os torcedores cruzmaltinos no ano seguinte em Buenos Aires.

O Vasco, que perdia por 1 x 0, empatou com o já relembrado tento de Juninho e virou para cima dos uruguaios, com gols de Aguirregaray (Contra) no primeiro tempo e Pimentel fechando o marcador aos 7 minutos da etapa complementar.

Durante a competição a equipe cruzmaltina obteria ainda mais quatro vitórias, dois empates e três derrotas, sendo seu principal algoz o River Plate-ARG, que fora sua vítima em 1948 no jogo do título e, também, a seria na Taça Libertadores de 1998 e na Copa Mercosul de 2000.

A Supercopa Libertadores, extinta no mesmo ano da primeira participação do Vasco (1997), nada tem a ver com a Copa Mercosul incluída no calendário da Conmebol entre 1998 e 2001, junto à Taça Libertadores da América e a Copa Conmebol (disputada pela última vez em 1999).

Surgiria, então, em 2002 a Copa Sul-Americana, com participação de clubes brasileiros a partir de 2003, ocasião na qual a princípio o Vasco não foi colocado como um dos convidados, mas, via bastidores, acabou incluído pela CBF no certame, junto a Atlético-MG, Internacional e Palmeiras.

Dos oito participantes indicados pela entidade máxima do futebol brasileiro (seis melhores colocados no Campeonato Brasileiro do ano anterior mais dois por critério técnico, Cruzeiro e Flamengo), o número subiu para 12, fazendo parte dos convidados ainda não citados Corinthians, Fluminense, Grêmio, Santos, São Caetano, São Paulo.

Um dos motivos expostos pelo Vasco, além da conquista de dois outros títulos continentais, respectivamente em 1998 e 2000, foi a lembrança do obtido em 1948, oficializado em 1996. Daí a inclusão do Flamengo anteriormente ao Vasco na época ter causado um problema sério à CBF, que para não ter de voltar atrás quanto à inclusão do rubro-negro e negação disso ao Vasco, pôs mais quatro clubes na disputa, incluindo o próprio Vasco.

A competição voltará a ser disputada, ao que tudo indica, em 2020, com classificação para o Mundial Interclubes, caso vingue a ideia.

Segundo critérios expostos pela imprensa, a participação do Vasco estaria garantida pela conquista da Taça Libertadores da América de 1998, mas isso cria um problema eterno para a Conmebol, afinal a última edição da Supercopa Libertadores (que pode ser disputada mais de 20 anos depois com outra nomenclatura até), realizada em 1997, teve a participação de todos os campeões de Taça Libertadores até ali (como sugere vir a ser o modelo para o ano vindouro), incluindo o Vasco, que, segundo o documento datado de 1996, participaria da competição não só em 1997, mas sim desde 1997.

O patamar atingido pelo Vasco no futebol sul-americano, Bicampeão, com um dos títulos obtido de forma invicta e sem nenhuma partida disputada em casa, é referência no Rio de Janeiro e oportuniza ao clube chegar em 2020 com condições, por sua história vitoriosa, de alcançar o título maior do futebol mundial, a partir da conquista de uma das vagas para a competição que se busca fazer via FIFA.

Para um clube que conquistou há 19 anos a Copa Mercosul, de forma histórica e inigualável pelas circunstâncias, chegou à Taça Libertadores recentemente (há dois anos) e ainda obteve neste século a maior sequência de vitórias consecutivas na competição (junto a conseguida pelo Cruzeiro em 1976) participar de uma nova Supercopa Libertadores como convidado é o óbvio ululante, pois sem o Vasco a competição se tornaria capenga, tanto quanto avessa à meritocracia.

Sérgio Frias

Mentiras, desrespeito e queda do cavalo coletiva

Na última sexta-feira Alexandre Campello confessou o inconfessável.

Revelou ele publicamente, diante de suas atitudes, em afronta a centenas de vascaínos e por extensão ao quadro social, desrespeitando ainda o estatuto do Vasco, como procede em relação ao clube.

Em primeiro lugar, não pode servir como motivo de recusa do novo sócio algo inerente a quem assinou fichas de propostos ao Vasco, independentemente se foi uma ou foram mil, porque o julgamento recai, OBRIGATORIAMENTE, a quem está se associando e não a quem já é associado.

Em segundo lugar mentir ao público de forma desavergonhada como fez Alexandre Campello, afirmando que usou um critério, mesmo sem previsão estatutária, o qual, de fato, não cumpriu ao homologar cerca de 400 associados, denota seu apego por ações próprias dessa natureza.

Entendamos a questão.

Um associado chamado Danilo inadvertidamente resolveu colocar a carroça na frente dos bois, afirmando que fora proponente de número superior a cinco propostos e que todos haviam sido homologados.

A manifestação foi feita via Twitter, tratando como blefe a denúncia apresentada pelo Grande Benemérito Luís Manuel Rebelo Fernandes de que em conversa com o presidente do Vasco, após reunião última do Conselho de Beneméritos, teria ouvido do seu interlocutor que este criara um critério de sua cabeça para indeferir sócios.

Qualquer proposto que tivesse como signatário um proponente com outras indicações, se elas ultrapassassem o número de cinco, estariam vetados, segundo Campello.

A jogada política não foi bem ensaiada com o presidente do clube, que deixou tanto Danilo quanto o falastrão metido a sabido de nome Otto a ver navios quando ratificou à imprensa o dito ao Grande Benemérito Luís Fernandes uma semana antes.

Otto tratara como “uma maluquice” a hipótese de Campello ter dito o que fora denunciado por Luís Fernandes em seu twitter, com a evidente intenção de expor o Grande Benemérito e numa dobradinha com Danilo este último tratou como blefe a fala de Luís Fernandes, relatando em público a “benesse” recebida, em desarmonia com o dito pelo presidente do Vasco.

Ambos, pertencentes ao mesmo grupo político, fizeram uma tabelinha, relembrando o final dos anos 70, do tipo Afrânio e Xaxá, que não funcionou porque o zagueirão Manguito (Campello, representando o beque rubro-negro no caso) deu-lhes uma rasteira, com ou sem intenção.

Devemos dizer que já temos informações de outras pessoas, as quais assinaram mais de cinco fichas na qualidade de proponentes e tiveram homologados seus propostos na condição de associados do clube.

Não podemos deixar de destacar a lamentável inércia de alguns quanto à bizarrice assumida pelo presidente do Vasco e sua entourage, ora aquiescendo a tudo isso, mesmo sabedores todos que não há disposição estatutária justificável para a atitude vergonhosa do atual mandatário, qual seja de segregar pela origem da indicação, algo insustentável e indefensável.

Por outro lado, vale ressaltar que todas as explicações a serem dadas por Alexandre Campello, quanto a seu procedimento, já previamente foram explicitadas por ele via internet. Sim, ele destratou centenas de vascaínos, familiares de sócios, sócios torcedores, sócios em outra categoria estatutária como um verdadeiro rubro-negro procederia.

Cabe, por exemplo, ao Conselho Deliberativo julgar sua punição ao invés de meramente receber suas explicações ou justificativas, conforme deseja o atual presidente, pois elas já foram dadas e servem como confissão pelos atos cometidos, contrários aos interesses do clube e feitos a serviço sabe-se lá de quem.

Com efeito, inúmeros vetados entraram em contato conosco imediatamente a seus respectivos indeferimentos e após ouvirem a fala do presidente do clube, direcionada a eles, entendem que tal ofensa tem de ser reparada da forma adequada.

Aos propostos, assinados por nós, pedimos desculpas pelo vexame protagonizado por Alexandre Campello, em virtude da irresponsabilidade cometida contra o clube e seu quadro social.

Finalmente quanto aos proponentes, todos ofendidos pela direção, quando esta recusou suas assinaturas como premissa para indeferimentos aleatórios, devem estar cientes que a atitude tomada por Campello atingiu o Vasco, daí ter que trazer consequências ao presidente do clube por seus atos irresponsáveis.

Sérgio Frias

A desculpa esfarrapada do cartão de crédito de terceiros

Trecho da resposta de Alexandre Campello ao Presidente do Conselho de Beneméritos do Vasco sobre “Encaminhamento do pedido de adoção de providências – Proposta de admissão de novos sócios”:

“Ao proceder a análise das adesões, esta Diretoria Administrativa deparou-se com outra prática igualmente controversa e eivada de suspeição. Há uma quantidade significativa de casos em que a taxa de adesão e a primeira mensalidade foram pagas no cartão de crédito de terceiros, muitas das vezes dos próprios proponentes. Não estamos nos referindo, ressalte-se, a menores de idade, o que, por razões óbvias, tornaria o procedimento absolutamente natural.”

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Meu melhor amigo da época do colégio é vascaíno fanático. No futebol do recreio da década de 80, éramos Geovani & Romário. Na sala de aula, zelávamos para que o quadro negro sempre tivesse rabiscos de giz: FJV e a cruz de malta.

Ele casou na sede náutica do Vasco e batizou o filho na capela dentro de São Januário. Não tem um dia que nossos WhatsApp não troquem notícias de exaltação ao Vasco e memes de zoação contra o Flamengo.

O meu amigo sempre foi ressabiado em se associar ao Vasco porque não acreditava que o clube faria bom uso do dinheiro. Em Julho 2019, finalmente convenci meu amigo a virar sócio do Vasco, 15 anos depois de mim. Os argumentos foram esses. A cada 1.000 novos sócios, o Vasco arrecadaria aproximadamente R$ 2 milhões até o final da gestão do Campello, e que isso ajudava a pagar a folha salarial dos funcionários mais humildes, que estão adoecendo e sobrevivendo com constantes salários atrasados. Além disso, era preciso entrar de sócio para poder participar da eleição dos conselheiros em 2020 e até mesmo se candidatar como conselheiro em 2026. Meu amigo topou.

Ele também mora e trabalha em Niterói. Passou no meu prédio e deixou toda a parte burocrática relacionada à associação ao Vasco. Levei isso em São Januário, mas a Secretaria não aceitava o pagamento em dinheiro. Como não foi dada outra alternativa, tive que utilizar o meu cartão de crédito pra pagar e ser reembolsado. Qual é o problema disso?

Ora, se fosse problema usar o cartão de crédito do proponente para pagar o que precisava ser pago do proposto que reside fora da cidade do Rio de Janeiro, a própria Secretaria do Vasco não aceitaria. Você determinou para não aceitar, Campello? Não, né? Então não invente que isso é um problema para aprovar a ficha do meu amigo.

Já estamos no mês de Outubro e o meu amigo ainda está com o status PROPOSTA SOB ANÁLISE. Ele já pagou 100% da taxa de adesão e 2 mensalidades. O portal de sócios impede que ele pague a próxima mensalidade de sócio geral.

Campello está deixando meu amigo mais revoltado com ele. Segue impedido de comprar o ingresso com 50% de desconto de sócio e impedido de levar o filho de 3 anos aos domingos na sede do Calabouço para neutralizar a pressão rubro-negra dos coleguinhas do jardim de infância.

Meu amigo não recebeu qualquer contato telefônico do Vasco para apuração dos detalhes da sua ficha. Vascaíno de raiz, com documentação de identidade anexada, com residência comprovada, servidor público, tudo pago ao Vasco, o que falta para ser aprovado como novo sócio do clube?

Vamos falar a verdade, Campello? Parece que a ficha só não foi aprovada ainda porque contém a minha assinatura como proponente. O real problema é que Campello sabe que o sócio proponente Eduardo Maganha é oposição a ele? O preconceito do Campello com os novos sócios é por causa dos proponentes oposicionistas?

A mais pura verdade é que, de forma arbitrária e ditatorial, Campello está contando um papo furado qualquer para justificar a não aprovação de novos sócios que teme votar contra ele no ano que vem. E para isso, transforma vascaínos de raiz em pessoas suspeitas, quase criminosas, e ainda expõe esse absurdo publicamente.

Não faça isso não, Campello! Isso é vergonhoso! Isso é asqueroso!

Deixe os novos sócios entrarem!

Saudações Vascaínas,
Eduardo Maganha

Muito além da coletiva

Ontem tivemos a oportunidade de acompanhar a entrevista coletiva do novo treinador do Vasco, Vanderlei Luxemburgo, ladeado pelo presidente e vice-presidente de futebol Alexandre Campello. É certo que, por vezes, coletivas transmitem mais mensagens do que aquelas pelas quais foram, efetivamente, convocadas. Foi o que ocorreu no presente caso.

O ponto central, obviamente, foi a apresentação do treinador. Percebeu-se, como se diz popularmente, a junção da fome com a vontade de comer. Por um lado, um treinador de renome, necessitado de um bom trabalho, a fim de afastar os insucessos últimos e reaproximar-se do patamar conquistado anteriormente. Afinal, Luxemburgo treinou a seleção brasileira e o Real Madrid, feitos inquestionáveis, além de muitos títulos conquistados em diversos clubes. Do outro lado um clube e, sobretudo, uma diretoria administrativa que vem colecionando resultados pífios em campo, incapaz de organizar o futebol e tudo que o cerca, a ponto de o nosso time portar-se e exibir-se, em comparação a seus adversários de Série A, à moda de um time semiprofissional. Chama a atenção que uma gestão absolutamente perdida na organização do dito carro-chefe do clube, ainda queira nos convencer e impingir um conceito vacilante de reconstrução.

Agradou-me a postura de Luxemburgo. Na verdade, muito embora nutra algumas “ressalvas comportamentais” em relação ao profissional, parece-me inquestionável que se trata de um nome de peso o qual, na falta de comando que grassa no futebol, pode desempenhar papel importante nesse mister. À diretoria, serve de escudo, sobremaneira, ter um técnico de renome. Poder-se-ia dizer exagerada tal afirmação, caso não houvéssemos testemunhado a conduta do presidente nos casos de Alberto Valentim e Alexandre Faria que, não obstante os maus resultados, permaneceram em seus cargos, até que a ira da torcida os colocasse na prancha da caravela, preservando-se o mau comandante da mesma.

Observe-se que, conforme colocado acima, Luxemburgo pode ajudar (e muito) numa necessária remodelagem do futebol e áreas correlatas. Todavia, faz-se indispensável o acompanhamento de um vice de futebol atuante e conhecedor da área, de modo a moderar decisões estratégicas que não podem ficar a cargo – ao menos não todas – de funcionários. Dessa forma, causa espanto que o presidente do Vasco considere ser tal função uma partícula expletiva do departamento, ainda que normatizada, conforme artigo 101, inciso X do Estatuto do Club de Regatas Vasco da Gama. Mais espanto ainda quando nos recordamos de que Campello, na malfadada aliança pelo poder, seria contemplado – ou queria ser – com a vice-presidência de futebol. Aliás, no que se refere às vice-presidências, não há no escopo do artigo 101 do Estatuto nada que se refira, por exemplo, à pasta de Controladoria. Seria essa uma vice-presidência pirata? Confesso não conhecer o Estatuto tão a fundo, de modo a afirmar que tais artifícios não sejam passíveis de aplicação, seja por previsão expressa ou qualquer extravagância interpretativa, algo não inédito nessa gestão.

Por fim, desejo muito boa sorte ao Vanderlei Luxemburgo. Tomara retorne a seus melhores dias e deixe seu nome marcado em nossa história, conforme manifestação de vontade do próprio treinador, durante a coletiva. Que consigamos, enfim, ter um time bem condicionado, seja tática, técnica ou fisicamente. Cumprida essa etapa básica, obrigação sine qua non de qualquer equipe que dispute competições do nível de um campeonato brasileiro de série A, imagino que não passaremos sustos no que tange à manutenção na primeira divisão e, quem sabe, possamos atrair jogadores que venham a, pontualmente, qualificarem o elenco, de modo que se pense em objetivos mais ambiciosos, mudando o rumo de fracassos da atual gestão. Torcida não faltará. Se nada disso se concretizar, restará afogar as mágoas na cachaça premium do professor…

Rafael Furtado

Desproteção

O afastamento imediato, dito em mídias sociais, do atleta Yago Pikachu da partida diante do Corinthians, em função do episódio ocorrido na chegada da equipe vascaína a Manaus, seria, se confirmado, uma atitude tão irresponsável quanto insensível para com ele, pois nem teria lhe sido dado o direito de expor sua versão do caso antes da suposta punição sofrida.

O atleta é funcionário do clube, ativo do clube e estaria exposto para o público de forma maniqueísta, porque já teria sido dado como culpado pelo episódio e com isso já queimado, em função da notícia de seu desligamento do jogo de amanhã.

Só pela feição do rosto de Pikachu dava para ver que havia sido um movimento reativo a algo sofrido por ele, vindo do torcedor.

Claro que o atleta tem de se controlar e tal, mas depois viria a público, pediria desculpas, e tentaria resolver a questão de forma mais tranquila, como tentou fazer.

Quem administra tem de fazer a correção internamente, puxar a orelha, mas mostrar perante ao grupo que vai cuidar do jogador, blindá-lo, mas cobrá-lo internamente, porque isso passa confiança para os demais de que a direção os protege.

A atitude reativa de Yago Pikachu simboliza o Vasco agredindo sua torcida, a imagem que fica é aquela registrada pelas câmeras.

Exatamente por isso a direção tem de internamente fazer ver ao atleta o que significa seu ato, mas protegê-lo contra o apedrejamento em praça pública.

Yago Pikachu tem contrato até junho de 2021 e isso também deve ser considerado, vive uma má fase como viveu uma muito boa no ano passado. Não ajuda em nada ser exposto neste caso.

Repetindo que a ação dele, mesmo reativa, está errada e acaba ferindo a imagem da delegação vascaína perante a torcida manauara, mas a justificativa de uma criança envolvida no episódio atenua seu rompante.

Que venham os dirigentes vascaínos a público proteger, enfim, seu atleta, pois antes tarde do que nunca.

Como o clube não se manifestou oficialmente a respeito do caso, até aqui, que seja normalmente o jogador escalado amanhã, ficando o dito pelo não dito ao longo do dia de hoje em mídias sociais.

Sérgio Frias

OBS: Texto editado às 23:45 hs do dia 03/05/2019

O texto original foi escrito quando circulava nas mídias sociais a informação de que Yago Pikachu não enfrentaria o Corinthians e a diretoria não se pronunciaria sobre o episódio. Tal informação, entretanto, não foi oficializada.

Depois de afastar jogadores da Libertadores por causa de uma foto em mídias sociais, depois de afastar Thiago Galhardo da reta final do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil, parece, assim esperamos, que a diretoria interrompeu o procedimento padrão até então visto a cada vez que precisava gerenciar uma crise.

Persiste a crítica por não ter se pronunciado o clube sobre este episódio com Yago Pikachu. Dirigente do Vasco não pode ter medo de se expor.

Desastre absoluto

Pela primeira vez no século o Vasco perde as duas primeiras partidas na disputa do Campeonato Brasileiro.

O plantel vascaíno é até aqui um dos mais sofríveis entre os 20 clubes que disputam a competição nacional este ano.

Não há um atleta nosso que desequilibre a favor, o número de jogadores com passagens recentes por grandes clubes e com algum destaque é ínfimo, dentre os cerca de 25 oriundos de outras agremiações.

A base, por sua vez, está jogada às feras, com atletas que tendem a cair de produção ou com pouca possibilidade de ajudar, com toda a pressão sobre o time.

Salários atrasados, outros pagamentos idem, uma sucessão de resultados negativos e perda total de confiança, um inexperiente treinador, profissionais medíocres para baixo na gestão de futebol, uma lacuna na vice-presidência do setor pela presença de Alexandre Campello no cargo.

Enquanto isso, o presidente do clube declara em conversa de rua com torcedores que o time recebido em janeiro de 2018 não tinha a mesma qualidade do que se classificou à Libertadores, porque não possuía mais Anderson Martins e Mateus Pet, mas sim Paulão e Erazo, esquecendo-se que a zaga titular do jogo diante do Atlético-MG ontem já fora recebida por ele próprio – com a contratação de Werley formalmente concretizada em sua gestão, mas já bem direcionada pela anterior – e que Paulão formou na maioria da competição em 2017 a zaga titular do Vasco. Aliás com um gol do zagueiro a equipe ficou perto da conquista da vaga para a Libertadores na penúltima rodada, diante do Cruzeiro, em Belo Horizonte.

Esquece-se também que para o lugar de Jean veio Desábato, atleta com o qual o Vasco lucrou este ano, negociando-o, que para ser também reserva na posição de Mateus Vital, assim como o jovem da base era, chegou Thiago Galhardo, com quem a diretoria atual renovou, que Luiz Gustavo, trazido para a lateral ou zaga teve seu contrato também renovado pela nova direção, que Rildo e Riascos foram trazidos e seus currículos e atuações em grandes jogos são mais recomendáveis que as de Vinicius Araújo, por exemplo, que se Rafael Galhardo e Fabricio não eram o ideal, trazido este último porque Ramon estava machucado, as contratações de Lenon, Cáceres, Claudio Winck e Danilo Barcelos estiveram longe ainda de serem soluções para as duas laterais.

A cada dia que passa a situação do clube fica pior.

Mais cobranças são feitas, penhoras, queixosos de acordos não cumpridos por essa gestão se multiplicam, atletas, outros funcionários e credores não pagos no final de 2017 também se manifestam via judicial. Por opção de quem chegava, embora com 90 dias houvesse condições para pagamento dos últimos citados, o caminho foi ignorar tais débitos na prática.

A gestão anterior, boba, não vendeu Paulinho pelo valor da multa rescisória à época, triplicando a quantia em janeiro de 2018, proporcionando com isso a quem chegava receber 57 milhões de reais limpos e, como “reconhecimento“ daquele ato institucional, ignorar, por politicagem, molecagem, má intenção ou conveniência, pagamentos inerentes àquela, fundamentalmente salários, direitos de imagem e acordos, privilegiando a manutenção do dinheiro em banco para satisfação de pagamentos futuros, enquanto se demitiam centenas de funcionários, sem lhes pagar os direitos trabalhistas, como também assim se faria em relação a acordos futuros celebrados com estes.

A perspectiva de ganhos para este ano reside em verba da Globo a ser recebida em breve e através da venda de um ou outro atleta oriundo da base na próxima janela, falando das mais relevantes. Daí por diante são aportes viabilizados por empréstimos e afins.

A gestão atual vende uma fantasia para o público, enquanto o estapeia com a realidade dos fatos. Os discursos dela são parecidíssimos com os do MUV. Senão vejamos:

Em janeiro de 2012 o vice de Finanças da época afirmava que o Vasco devia 250 milhões de reais mais ou menos e no balanço de 2013 surgia o clube devendo quase o dobro, após refeito o balanço do próprio ano de 2012. O valor subiria a quase 700 milhões em 2014 e seria reduzido para 580 milhões em 2017.

Mas para a gestão atual o balanço de 2017 (retificado em novembro último), dizia dever o Vasco 645 milhões, assim como o MUV e suas reservas de contingência elevaram na caneta a dívida do clube de 220 milhões para mais de 350 em 2009.

Por outro lado coube a Alexandre Campello protagonizar uma série de atitudes, desde sua chegada à presidência do Vasco, que transformaram um cenário de pacificação e unidade noutro no qual isolou-se para buscar apoios a qualquer custo e – curioso – ter à sua volta vários pacificadores, que lhe consideram tão fraco quanto importante numa estratégia de coalizão.

A implosão política do clube, protagonizada por Campello, se deu também desde a insistência em fazer um balanço que era cabido ao gestor antecessor realizar, com números – relembre-se – depois retificados e votados no Conselho Deliberativo e novamente ignorados na feitura do balanço de 2018. Junto a isso uma carta amarela, na essência, foi elaborada provavelmente por amarelos dessa gestão, cínica, covarde e maquiavélica, vide ações posteriores a ela e choramingo ulterior. A assinatura daquilo demonstrou também um pouco do caráter administrativo do atual presidente.

A forma como Alexandre Campello tratou Eurico Miranda na mídia no início de sua gestão, sugerindo uma distância, enquanto intramuros ia até ele, demonstrando o contrário, solicitar ajuda (que nunca lhe era negada) traduziu-se em sinal para muitos.

A forma como tratou seu próprio grupo, sem o qual não teria chance nem mesmo de pleitear ser conselheiro do Vasco, a não ser, talvez, na chapa “pura” amarela, por seu discurso coadunado na essência com o que pensa tal facção – diga-se de passagem hoje aliada em mantê-lo no poder, visando as eleições em 2020, fazendo a lógica do quanto pior melhor – mostra também muito de si.

A forma como tratou a gestão anterior sobre seus resultados, a verdadeira reconstrução que se iniciava no Vasco, em vários dizeres já expostos acima, culminou com declaração recente de que a atual gestão reconstrói o clube – infelicidade dita após a perda de um título contra o maior rival, para os vascaínos de raiz.

A forma como tentou trabalhar politicamente apoios no clube – excluindo desta conta os que convergem com ele e suas ideias por convicção na sua capacidade de gestão – trouxe para si supostos aliados, os quais querem não só que ele se dane, como também que sirva aos interesses filosóficos de cada um, vide, por exemplo, o ocorrido após decisão judicial que garantiria novas eleições no clube próximo ao fim do ano passado.

O Vasco desaba institucionalmente, joga fora todo o trabalho feito com tantas dificuldades e poucos recursos pela gestão antecessora à atual, realizado após seis anos e cinco meses do que se viu de horrendo no Vasco. Caminha hoje o clube para uma derrocada esportiva com consequências das mais danosas, pois é o Vasco no cenário atual uma equipe sem prestígio, sem carisma, sem harmonia e se não houver mudanças drásticas (E CORRETAS), sem futuro.

Sérgio Frias