Um ano após reassumir a Presidência do Vasco é hora de oferecer ao sócio e torcedor um panorama de como está o seu clube às vésperas de mais um ano. Muitas vezes a memória é curta e esquecemos o panorama de um passado recente. Mas basta um mínimo de lembrança para reconhecer que só voltei ao comando do Vasco porque a situação era de risco até para a continuidade de nossa centenária instituição.
Eu poderia começar a prestação de contas por diversos pontos, mas vou explicar detalhadamente a situação financeira herdada para mostrar porque muitas vezes o torcedor questiona o motivo de não termos investido mais no futebol. Era simplesmente impossível.
. Situação Financeira
Com mais de 50 anos de Vasco, tendo sido situação ou oposição diversas vezes, e visto momentos difíceis, nada é comparável à realidade de dezembro de 2014, quando assumi.
Todos os vascaínos acompanharam as dificuldades enormes do clube nos anos anteriores, com salários constantemente atrasados, bloqueio de verbas por não recolhimento de impostos, degradação patrimonial, enfim, um quadro terrível que misturava falta de comando e de rumo. O resumo era o seguinte:
Cotas de TV – Todas comprometidas com o pagamento de empréstimos variados a bancos, acordos do passado e penhoras.
Fornecedor de Material – Recurso adiantado até novembro de 2015.
Patrocínio – Toda a verba do patrocinador Tron tinha sido adiantada. A última parcela da Caixa estava bloqueada desde agosto de 2014 por falta de documentação das contrapartidas e certidões.
Sócios – Recursos integralmente cedidos a um banco também por empréstimos.
Tributos – Falta total do recolhimento de impostos .
Campeonato Carioca – Recursos de 2015 e 2016 adiantados para pagar dois meses de salários – agosto e setembro de 2014.
Funcionários e Jogadores – Dívida com os salários de outubro, novembro e décimo-terceiro.
Este foi o panorama encontrado. Muitos perguntam porque isso não foi mostrado à época. Simplesmente explicitar esse quadro seria afastar qualquer negócio com o clube. Como alguém vai investir ou confiar numa instituição que não tem condições de honrar compromissos mínimos? Era preciso tocar o clube. Foi o que fizemos.
Desde o primeiro momento buscamos novos recursos. O primeiro ponto foi pagar 14 milhões de reais em impostos para ter as certidões, fechar o contrato com a Caixa e mostrar que o Vasco tinha fôlego.
Buscamos patrocínios, apoios, renegociamos contratos e, com muito sacrifício, chegamos ao meio do ano. Chegamos, mas sem possibilidade de investimentos. Naquele momento a criação do Profut foi fundamental para o Vasco. Vou explicar:
A dívida tributária apurada era de 212 milhões de reais (chegaria a 226 milhões, se não tivéssemos pagos aqueles 14 milhões referentes a 2014).O Vasco foi o primeiro clube a aderir. Com os benefícios da lei – corte dos encargos legais e redução de multas e juros – a dívida caiu para 144 milhões de reais, parcelada em 240 meses. Foi um enorme alívio porque só um acordo com a Receita Federal por falta de pagamento de impostos na antiga administração consumia mais de 1 milhão e 500 mil reais em agosto passado.
Assim, apesar do alívio tributário, o clube que adere ao Profut tem a obrigação de recolher os impostos em dia. É o que estamos fazendo com tudo rigorosamente em dia neste fim de ano.
Em resumo:
Dívida tributária…………………………. – 226 milhões de reais
Pagamento feito quando chegamos – 14 milhões de reais
Redução por aderir ao Profut – 68 milhões de reais
Dívida parcelada – 144 milhões de reais
A irresponsabilidade foi tão grande em período recente que a origem de toda a dívida tributária do Vasco – retirando juros, encargos e multas – está 60 por cento entre 2008 e 2014. Mas, ao final de um ano, podemos dizer que a dívida tributária do Vasco está novamente equacionada.
Outras Dívidas
Mas a situação ainda é grave em outros segmentos. Desde que assumi fui sendo surpreendido quase que diariamente por novas dívidas. Eram confissões de última hora, inclusive para advogados, acordos judiciais não pagos – o que multiplica a dívida – e todos os fornecedores com atrasos.
Só a negociação com a Cedae chegou a 10 milhões de reais. E mais: também não pagavam os carros pipa, que tanto nos envergonharam no noticiário. Se os funcionários não recebiam, se a água não era paga, não seriam outros fornecedores e ex-jogadores que seriam.
Fomos obrigados a fechar dezenas de acordos para impedir que todas as verbas do Vasco fossem bloqueadas com penhoras. E acordo tem que ser pago, ao contrário do que se fez no passado recente. São jogadores, clubes, membros de comissão técnica. Há dívidas em execução na Fifa, como a do Eder Luiz e de Sandro Silva. Nós pagamos 500 mil euros pela aquisição do jogador Felipe Bastos, já que o Vasco tinha sido condenado. Também havia falta de pagamento de ” comissões de intermediação “, entre outros absurdos. A lista é enorme e, infelizmente, continua a aparecer. Esses acordos levarão do Vasco uma parcela grande de nosso orçamento em 2016, algo superior a 30 milhões de reais, o que equivaleria a trazer vários jogadores de alto nível.
Hoje, o Vasco está em dia com as suas obrigações. Funcionários e jogadores pagos, incluindo o decimo terceiro salário. Mas o sócio e o torcedor devem saber que 2016, não só pela situação do País, mas pelo quadro ainda grave na área financeira do clube, será de preparação para uma estabilidade maior.
. Situação Patrimonial
Quem passou por São Januário no ano passado se assustou com a degradação do patrimônio. A própria eleição foi realizada num ginásio sem piso. Parque Aquático fechado e abandonado; concentração e Pousada do Almirante depredadas, sujeira por toda a parte.
A primeira providência foi limpar São Januário. Eram montanhas de lixo. E não era apenas entulho. Tinha lixo diário jogado nas proximidades do Parque Aquático e da Escola, como vocês podem ver nas fotos abaixo.
A antiga concentração dos profissionais foi depredada. Banheiros quebrados, televisões desaparecidas, camas sumidas. Um horror, como você também pode ver nas fotos. A base do Vasco estava em Itaguaí e a Pousada do Almirante fechada e abandonada.
Nós limpamos São Januário, restabelecemos uma equipe de conservação. A primeira grande reforma foi da Pousada do Almirante, hoje um lugar de alto nível para os jogadores da base do Vasco.
Na sequência, após uma vitoriosa campanha de arrecadação de recursos entre torcedores do Vasco de todo o País, iniciamos a reforma do Ginásio Principal, já pronto e que será inaugurado agora em janeiro na apresentação do novo time do basquete masculino adulto.
São Januário passou a ser o centro do futebol do Vasco. E duas decisões tomadas terão seu resultado nos primeiros meses do ano: a inauguração do campo anexo, que servirá para o treinamento de nossa equipe principal, e o Caprres, o mais moderno centro de saúde do atleta do Brasil. O edifício do Caprres estará pronto já em abril e será motivo de orgulho para todos nós.
Situação Esportiva
Na chamada área olímpica/amadora foi feito um esforço de retomada do remo, da implementação das escolinhas de futsal, das equipes de base do basquete, além de outras iniciativas. Mas só é possível fazer esporte olímpico/amador no Brasil com recursos das diversas lei de incentivo. Determinei a criação de um setor de captação para aproveitamento dessas leis. Para isso precisamos manter a regularidade tributária e, com anos de atraso, estamos buscando recursos que, nos anos de crescimento da economia brasileira, eram bem mais abundantes. Mas, mesmo assim, no início de 2016, voltaremos com uma equipe de basquete adulto masculino, uma das grandes tradições de nosso clube.
No futebol sabíamos da dificuldade do ano devido a impossibilidade de investimentos. Como vocês já viram acima não havia recursos no clube. Mesmo assim, acima da expectativa inicial, fomos campeões cariocas, após 12 anos, e iniciamos a reforma da base. Vale ressaltar o título do estadual sub-17. O início ruim no Campeonato Brasileiro e as restrições orçamentárias levaram rapidamente a uma situação difícil. A reestruturação da equipe aconteceu, a recuperação foi acompanhada por todos, mas não a tempo. Não existe desculpa para o fato, mas o nosso clube precisa tirar a lição para que nunca mais se repita.
O ano de 2016 começa mais estruturado do que 2015, mas ainda será muito difícil. Muito do trabalho iniciado há um ano vai aparecer mais, com uma estrutura bem melhor para São Januário, incluindo o prédio do Caprres e o campo anexo, e um conhecimento amplo dos potenciais e das limitações ainda impostas pelo passado. No primeiro trimestre teremos, finalmente, o programa sócio-torcedor, que será amplo, moderno e a altura de uma torcida de dimensão nacional, que só não foi lançado antes devido a um contrato herdado que nos impedia e que já vinha derivado de um acordo judicial.
Saudações Vascaínas,
Eurico Miranda