Ontem tivemos a oportunidade de acompanhar a entrevista coletiva do novo treinador do Vasco, Vanderlei Luxemburgo, ladeado pelo presidente e vice-presidente de futebol Alexandre Campello. É certo que, por vezes, coletivas transmitem mais mensagens do que aquelas pelas quais foram, efetivamente, convocadas. Foi o que ocorreu no presente caso.
O ponto central, obviamente, foi a apresentação do treinador. Percebeu-se, como se diz popularmente, a junção da fome com a vontade de comer. Por um lado, um treinador de renome, necessitado de um bom trabalho, a fim de afastar os insucessos últimos e reaproximar-se do patamar conquistado anteriormente. Afinal, Luxemburgo treinou a seleção brasileira e o Real Madrid, feitos inquestionáveis, além de muitos títulos conquistados em diversos clubes. Do outro lado um clube e, sobretudo, uma diretoria administrativa que vem colecionando resultados pífios em campo, incapaz de organizar o futebol e tudo que o cerca, a ponto de o nosso time portar-se e exibir-se, em comparação a seus adversários de Série A, à moda de um time semiprofissional. Chama a atenção que uma gestão absolutamente perdida na organização do dito carro-chefe do clube, ainda queira nos convencer e impingir um conceito vacilante de reconstrução.
Agradou-me a postura de Luxemburgo. Na verdade, muito embora nutra algumas “ressalvas comportamentais” em relação ao profissional, parece-me inquestionável que se trata de um nome de peso o qual, na falta de comando que grassa no futebol, pode desempenhar papel importante nesse mister. À diretoria, serve de escudo, sobremaneira, ter um técnico de renome. Poder-se-ia dizer exagerada tal afirmação, caso não houvéssemos testemunhado a conduta do presidente nos casos de Alberto Valentim e Alexandre Faria que, não obstante os maus resultados, permaneceram em seus cargos, até que a ira da torcida os colocasse na prancha da caravela, preservando-se o mau comandante da mesma.
Observe-se que, conforme colocado acima, Luxemburgo pode ajudar (e muito) numa necessária remodelagem do futebol e áreas correlatas. Todavia, faz-se indispensável o acompanhamento de um vice de futebol atuante e conhecedor da área, de modo a moderar decisões estratégicas que não podem ficar a cargo – ao menos não todas – de funcionários. Dessa forma, causa espanto que o presidente do Vasco considere ser tal função uma partícula expletiva do departamento, ainda que normatizada, conforme artigo 101, inciso X do Estatuto do Club de Regatas Vasco da Gama. Mais espanto ainda quando nos recordamos de que Campello, na malfadada aliança pelo poder, seria contemplado – ou queria ser – com a vice-presidência de futebol. Aliás, no que se refere às vice-presidências, não há no escopo do artigo 101 do Estatuto nada que se refira, por exemplo, à pasta de Controladoria. Seria essa uma vice-presidência pirata? Confesso não conhecer o Estatuto tão a fundo, de modo a afirmar que tais artifícios não sejam passíveis de aplicação, seja por previsão expressa ou qualquer extravagância interpretativa, algo não inédito nessa gestão.
Por fim, desejo muito boa sorte ao Vanderlei Luxemburgo. Tomara retorne a seus melhores dias e deixe seu nome marcado em nossa história, conforme manifestação de vontade do próprio treinador, durante a coletiva. Que consigamos, enfim, ter um time bem condicionado, seja tática, técnica ou fisicamente. Cumprida essa etapa básica, obrigação sine qua non de qualquer equipe que dispute competições do nível de um campeonato brasileiro de série A, imagino que não passaremos sustos no que tange à manutenção na primeira divisão e, quem sabe, possamos atrair jogadores que venham a, pontualmente, qualificarem o elenco, de modo que se pense em objetivos mais ambiciosos, mudando o rumo de fracassos da atual gestão. Torcida não faltará. Se nada disso se concretizar, restará afogar as mágoas na cachaça premium do professor…
Rafael Furtado