O Vasco no último sábado atuou mais uma vez melhor que o adversário, mas não obteve êxito, ou seja, não venceu, não fez gols e frustrou sua torcida presente ao estádio e digna de elogios novamente, pois apoiou até o fim.
Se eram 30, 31 pontos necessários em 18 jogos, agora são em 17.
Continuo afirmando precisar o time de contratações que estejam na ponta dos cascos para a reta final da competição.
Não é hora de questionar o porquê de Dagoberto não ter dado certo no time, de Riascos ter se descomprometido, assim como Thales, de Herrera não ter encontrado seu futebol, do porquê da insistência na permanência de Roth, de ficar se discutindo sobre o supervisor, gerente, diretor. A hora é de olhar para frente. De perder o medo.
Quem torce efetivamente para as coisas darem certo não pode ter medo que venham continuar a dar errado.
As últimas cinco partidas do Vasco, desde a chegada de Nenê e Jorge Henrique, mostraram uma sensível melhora na equipe, não traduzida em gols por três vezes muito pelo fato de o clube não ter um matador, embora em tese Thales fosse um. Ontem foi trazido Leandrão, que como opção no mercado nacional era a mais viável e não se deve ter medo de apostar nela.
Continuo afirmando ter de haver uma contratação inquestionável para o meio campo e não interessa se vai estar apto em uma, duas ou três semanas. O reforço pega ainda metade do turno para atuar. Não há porque ter medo de se apostar nisso por questões de adaptação ou algo similar.
A reação do Vasco só virá se houver coragem. Do time, da direção e da torcida. Sem dúvida, mais exposta, a direção demonstra coragem ao voltar para o mercado, sem medo de errar, em busca de um “9” para ajudar a resolver a questão dos gols da equipe ou ser a solução. Ela própria decidirá sobre a chegada ou não de novos reforços, mas acredito que os traga ainda, pois se a permissão dada pelo regulamento da competição é contratar até 15 de setembro isto significa não ser qualquer problema trazer atletas até a data limite. A regra existe exatamente para isso: delimitar o razoável.
Voltando à questão do “medo”. O Vasco faz até aqui a terceira pior campanha de sua história em Brasileiros, pois foi lanterna em 1969 e 1970, ganhando dois jogos apenas em 16 por dois anos consecutivos, com uma pequena diferença. Aqueles campeonatos acabaram, este não.
Então o primeiro fantasma foi embora. Já foi sim pior, e o presidente Agathyrno da Silva Gomes foi eleito para presidir o Vasco até 1973 ( triênio 1970/73) pela conquista do estadual de 1970, 11 anos depois, embora tivesse assumido o clube no final de 1969, terminado dois anos na lanterna do Brasileiro da época. Para completar, ainda experimentaria no Campeonato Carioca de 1971 o maior número de derrotas consecutivas do clube na história da competição, sete.
O Vasco vinha de uma década horrenda, na qual cairia duas vezes, caso as regras fossem essas, na qual perdera nos confrontos diretos contra todos os grandes cariocas, na qual se disse à época que o clube falira por conta da falência do Banco Pan-americano, onde teoricamente o Vasco guardava toda a sua receita com o maior plano de sócios da história do clube pós construção de São Januário (os títulos patrimoniais vendidos a partir de 1964); na qual houve impeachment de um presidente (Reinaldo Reis), na qual fomos tão somente a uma final de Campeonato Carioca, levando uma sova do Botafogo de 4 x 0, na qual se contabilizou, entre 1960 e 1969, por nove vezes, o título de quarto do Rio entre os grandes na referida competição
Mas a torcida cruzmaltina não desistia. O rebaixamento era anual, simbolizado nos mais diversos e consecutivos fracassos, mas o Vasco continuava sendo o clube da massa e o Flamengo o do povo. O vascaíno não tinha medo. Ele se revoltava, se indignava, mas frequentava os estádios, enfrentava os adversários e não deixava de acreditar. Dessa crença obteve-se o título da Taça GB de 1965 contra o quase imbatível Botafogo de Garrincha, dessa crença o técnico Tim conseguiu algo miraculoso: uma virada improvável de vitórias consecutivas que deram ao Vasco a conquista do Estadual de 1970, após um começo trôpego e uma Taça GB anterior lamentável.
A imprensa tratava o Vasco da mesmíssima maneira como faz agora, embora as baterias fossem carregadas contra o clube e não usando um dirigente como camuflagem de suas pérfidas intenções. Éramos indiscutivelmente (para eles) a quarta força do Rio e por vezes levávamos surras de América ou Bangu.
Numa época na qual as convocações para Copas do Mundo eram feitas apenas com atletas que atuavam no Brasil passamos três seguidas com apenas um jogador cedido para o “scratch”, Brito em 1966.
Um samba de Martinho da Vila (Calango vascaíno – 1974) dizia: …”minha única alegria é ver o Vasco jogar. Minha alegria é ver o Vasco jogar. Eu tô cansado de derrotas mas não vou me entregar”…
Eurico Miranda transformou novamente o Vasco num clube tão grande, tão enorme, que nada feito por ele na situação catastrófica encontrada no fim de 2014 agrada. E nem vai agradar. A torcida do Vasco abandonou o time no começo do campeonato após ser campeã depois de 11 anos, viu o campeão vencer três vezes seguidas o Flamengo, mas não compareceu da forma devida em nenhuma delas, goza com a eliminação do adversário, mas virtualmente. Ao vivo foram poucos os que demonstraram acreditar.
Há 10 anos, exatos 10 anos, o mais queridinho estava virtualmente rebaixado, a oito rodadas do fim. Nem Maracanã havia na época. Obteve 6 vitórias e dois empates e escapou. Isso após ser derrotado pelo Vasco a 10 jogos do epílogo daquele certame. Faltando oito apenas para o encerramento da competição figurava em vigésimo primeiro (entre 22 participantes), na zona de rebaixamento.
E o “horroroso” time do Vasco de 2005? Aquele da derrota para o Atlético-PR de 7 x 2. Aquele que dependia de Alex Dias para tudo. Pois bem. Nas últimas oito rodadas, sem Alex, ganhou cinco partidas e empatou duas, contando com um artilheiro a um, dois meses de completar 40 anos de idade para conduzi-lo. Falamos aí de 17 pontos em oito jogos, ou de 23 em 11, caso contemos três rodadas para trás naquele mesmo ano.
Não se pode ter medo de ajudar a conduzir o clube a sair dessa fase, que é um contrassenso em relação à Copa do Brasil, que surge num ano de conquista do Estadual, que ocorre diante de um momento no qual o Vasco institucionalmente volta a se reerguer, com muito trabalho e dedicação.
Não importa quem errou, se alguém errou mais ou menos, não importa o que passou. Importa como lição apenas.
De forma pragmática o time deixou de somar quatro pontos nas primeiras duas rodadas e precisará recuperá-los em jogos subsequentes. Perder do Internacional e empatar contra Atlético-MG em casa e Ponte Preta fora era a princípio algo aceitável neste início de turno. Que se recupere pontos nos próximos três jogos e se não for possível nos posteriores. O Vasco deve lutar pelos resultados e sua torcida carregar no colo o time em todas as partidas disputadas no Rio de Janeiro, contando ainda com a colaboração que puder nos jogos fora. Sem medo, sem previsões, sem resignação.
E que se danem as estatísticas atuais. Que se danem os futurólogos, os mesmos que cravavam Flamengo classificado na Copa do Brasil, Vasco quarta força do Rio, Nenê e Jorge Henrique contratações que não dariam certo e cravam Leandrão como um fracasso.
Não tenham medo do verão carioca, nem do frio da Sibéria. Tenham orgulho de poder torcer por um clube que só fez se superar em sua história, bem como bisou várias vezes isso no próprio ano de 2015.
Sérgio Frias