“O baixinho, veloz e irresistível Arthurzinho foi o grande herói dos massacrantes 9 x 0 que o Vasco aplicou no esforçado e leal Tuna Luso, domingo, em São Januário. Foi a maior goleada desta Copa Brasil e a primeira derrota do time paraense, que havia tomado apenas dois gols em seus quatro primeiros jogos. Arthurzinho levou a torcida ao delírio ao marcar quatro gols e criar as jogadas que resultaram nos três gols do centroavante Marcelo, o substituto de Roberto Dinamite, que não jogou porque passou a semana com dores lombares.
“Estava devendo esta exibição à torcida”, comentava, emocionado, Arthur dos Santos Lima, 27 anos, 1,62 m, sem parar de beijar e acariciar seu crucifixo de ouro, gestos com que comemorou principalmente seu primeiro gol no jogo e no torneio, ele que veio do Bangu para o Vasco por 400 milhões de cruzeiros depois de ter sido vice-artilheiro do último Campeonato Carioca, com 18 gols. E tinha boas razões para a emoção: “A vitória afastou definitivamente a suspeita de que eu sentia o peso da camisa. Agora, estou de moral alta”.
QUATRO GOLS COM AS BENÇÃOS DO PADRE MAX
Sua alegria começou logo aos 5 minutos, quando completou com um chute rasteiro e indefensável o cruzamento do ponta-direita Jussiê: “Ali terminava o meu pesadelo. Só pensei em Deus, pois sou um cara que tem muita fé”. O pesadelo era a falta de gols nos primeiros cinco jogos do Vasco e a falta de uma grande exibição ante a torcida, pois ele só havia jogado bem fora do Rio. Na sexta-feira, 48 horas antes do massacre, Arthurzinho procurou o padre Max, da paróquia de Bangu: “Fui me benzer porque estava me faltando sorte. Sabe que joguei com o tornozelo inchado? Pois é, fui para o sacrifício porque pressentia uma grande exibição”.
A exibição foi facilitada pela volta do incansável ponta-esquerda Marquinho, que renovou seu contrato na semana passada e “garantiu melhor marcação no meio-campo, liberando o Arthurzinho para criar e marcar gols”, como explicava depois do jogo o técnico Edu. Aliás, Marquinho, 1,68 m, e Pires, 1,69 m, formaram, com o Rei Arthur, o irresistível trio de baixinhos que levou o Vasco à goleada, com que o time já havia se desacostumado desde os primeiros meses de 1982, quando vencera seguidamente o Moto Clube (7 x 0), o Internacional-SM (7 x 0) e o Operário (7 x 1) e que é a segunda maior de toda a história da Taça de Ouro, perdendo apenas para os 10 x 1 que o Corinthians aplicou no Tiradentes no ano passado.
DANIEL NÃO PAROU DE GRITAR. E PEDIA DEZ
O Vasco jogou bem desde o início e terminou o primeiro tempo vencendo por 4 x 0, com gols de Arthurzinho aos 5 e aos 40, Geovani aos 22, cobrando pênalti, e Aírton aos 29. Mas foi irresistível no segundo tempo, depois que Arthurzinho pôs definitivamente banca de Rei ao marcar seu terceiro gol logo aos 4. Com a disposição de quem não acredita em bola perdida, aproveitou-se de uma indecisão do zagueiro-central Bira, roubou-lhe a bola e achou o resto muito fácil: “Só precisei dar três passos e colocar a bola no cantinho”. A partir desse gol, a torcida entrou em delírio total, exigindo a ampliação da goleada. O Vasco embalou e colocou o time da Tuna Luso na roda, sempre em jogadas de velocidade que partiam dos pés de Arthurzinho, Marquinho e Pires. Assim, saíram os três gols de Marcelo, aos 8, aos 9 e aos 29.
O jogo terminou em seguida e dezenas de torcedores invadiram o campo, carregaram Arthurzinho nos ombros até o alambrado de São Januário, enquanto a torcida gritava em coro: “Ei, ei, ei, Arthurzinho é o nosso Rei”. O novo herói vascaíno estava feliz: “O que importa é que fiz as pazes com a artilharia e ganhei a credibilidade da torcida. A vitória nos deu moral para nos desforrarmos do São Paulo”. (O jogo está marcado para este sábado, no Morumbi.)
Eufórica, a torcida não estava sequer ligando para as palavras do presidente Antônio Soares Calçada, que passou o fim de semana repetindo que admite vender para a Itália o passe do maior ídolo de São Januário, o centroavante Roberto Dinamite, por 1 milhão de dólares. Afinal, esta torcida já está acostumada com a alma de comerciante do seu principal cartola, mas há muito tempo não vivia um domingo tão feliz. Principalmente em São Januário.” (Revista Placar – 20/02/1984)
As atuações segundo o jornal “O Globo”:
ACÁCIO — Praticamente não foi exigido. Na única intervenção mais difícil, machucou-se quando saiu da área e se chocou com o ponta Luis Carlos. (Sem Nota). Foi substituído por Roberto Costa, que não teve trabalho. (Sem Nota).
EDEVALDO — Mostrou um vigor físico impressionante no apoio às jogadas de ataque. No entanto, complicou nas saídas de bola, Nota 7.
DANIEL GONZALEZ — Excepcional no combate, apoiou o ataque com categoria, indo à área do Tuna Luso várias vezes. Nota 9.
NENÊ — Mesmo com toda facilidade, confundiu-se em alguns momentos. De qualquer maneira mostrou espirito de luta. Nota 7.
AIRTON — Fez uma grande partida. Seu gol foi inesquecível e apoiou o time de forma incansável. Nota 10.
PIRES — Atravessa uma forma excepcional. Defende e ataca com facilidade, organizando o time. Nota 10.
GEOVANI — Um talento privilegiado, com jogadas de alta categoria. Prendeu a bola duas vezes, durante toda a partida, mas esforçou-se para compensar Isto. Nota 10.
ARTURZINHO — Quatro gols e uma exibição de gala. Nota 10.
JUSSIÊ — É um ponta veloz, que procura sempre a linha de fundo, embora muitas vezes não dê seqüência as jogadas. Nota 7.
MARCELO — Atacante habilidoso, sabe tocar bem a bola. Foi, acima de tudo, oportunista nos três gols que marcou. Nota 9.
MARQUINHO — Deu uma outra feição ao time do Vasco. Incansável no apoio, um dos destaques na ajuda à defesa. Nota 10. Foi substituído no final por Cláudio José, que manteve o ritmo do time. Nota 7.
Os gols da partida: