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95 anos da “Resposta Histórica”

O ano de 1924 seria de grande importância para a história vascaína e o futebol nacional, dada a atitude do clube diante do preconceito da elite contra os seus atletas.

Em fevereiro, após muitos entreveros com a LMDT por não terem a maioria qualitativa desejada e ainda por quererem adotar critérios em defesa da pequena elite formada por América, Botafogo, Flamengo e Fluminense, surge entre esses clubes a ideia de sair daquela entidade para fundar a AMEA (Associação Metropolitana dos Esportes Athleticos).

Inicialmente, o Vasco se associaria à nova entidade, mas ao sair o estatuto dela o clube percebe não ser bem-vindo àquela pequena oligarquia formada também pelo Bangu , além dos quatro grandes. O parágrafo único do artigo 5º já trazia um problema ao clube, pois nele era dito claramente que a praça de esportes do clube filiado à Liga não poderia ser arrendada de qualquer outra associação desportiva, vinculada ou não à AMEA. Deveria partir o Vasco para a compra do estádio da Rua Moraes e Silva, alugado até o ano de 1927, ou de algum outro que desejasse e pô-lo em condições de absorver sua torcida a mais popular do Rio de Janeiro à época.

Independentemente disso , no próprio documento formal que regeria a Liga havia uma clara tentativa de impossibilitar atletas menos abastados de participar dela, bem como era imposta uma responsabilização dos dirigentes por tais presenças em seus respectivos times. A questão mais uma vez era atingir os analfabetos, obrigados a passar por novos constrangimentos, e implicitamente impedir esmagadora maioria dos negros de atuar, pois era bastante reduzido na capital federal o número de atletas dessa cor alfabetizados.

Diante do impasse, o Vasco teria que fazer uma escolha. A opção se deu a favor dos seus jogadores e contrária à permanência da AMEA, que considerava os atletas vascaínos – embora campeões e superiores tanto física quanto tecnicamente, desde o ano anterior, aos adversários – inaptos a figurar naquela presunçosa oligarquia. Diante disso a mais famosa resposta dada pelo clube aos intolerantes e intoleráveis foi assinada pelo presidente vascaíno José Augusto Prestes, circulando para além da Liga e sendo, desde então, um marco na história do time, posto como um troféu emblemático (em meio à sala hoje repleta deles), pois retrato de defesa da igualdade social no esporte e do não preconceito. Ei-la:

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Officio No 261

Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,

  1. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.

Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever

De V. Exa. Atto   Vnr., Obrigado. 

(a) José Augusto Prestes

Presidente

Fonte: “Todos contra ele” (Autor: Sérgio Frias)


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One thought on “95 anos da “Resposta Histórica”

  1. Essa CARTA RESPOSTA HISTÓRICA além de ser uma RELÍQUIA e que narram a NOSSA EXISTENCIA é uma PROVA MAIOR de que o NOSSO AMADO CLUB de REGATAS VASCO da GAMA já nasceu perseguido E odiado desde a sua FUNDAÇÃO e essa DOCUMENTO foi o BATISMO de FOGO e é a RAZÃO de nos ORGULHARMOS sempre em sermos VASCAÍNOS, um CLUBE VERDADEIRAMENTE POPULAR e somos o ÚNICO CLUBE GENUINAMENTE de POVO !

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