Num espaço de seis anos exatos duas Taças Rio foram conquistadas pelo Vasco. Em 1993 após um confronto frente ao Fluminense e em 1999 contra o Flamengo.
O tradicional segundo turno do Campeonato Estadual foi ganho pelo Gigante da Colina ao todo em nove oportunidades: 1984, 1988, 1992 (invicto), 1993, 1998, 1999 (invicto), 2001 (invicto), 2003 (invicto), 2004.
Em 1993, o clássico diante do tricolor definiria a sorte do Flamengo na competição. O Flu, já campeão da Taça Guanabara, estava fora e tinha apenas a motivação de vencer o Vasco e, com isso, provocar uma partida extra entre os dois outros rivais.
O empate bastava para a equipe de São Januário levantar o caneco e ir com vantagem de um ponto para a decisão a ser definida em até três jogos, enquanto uma derrota o classificaria para ela, mas sem a certeza da vantagem do ponto extra contra o time das Laranjeiras, pois só seria confirmado isso caso passasse pelo Flamengo no confronto suplementar, que definiria finalmente o campeão da Taça Rio.
No dia do jogo, entretanto, ainda pela manhã, algumas rádios anunciavam ter o Flamengo uma interpretação diferente do regulamento, manifestando entendimento no sentido de o Vasco só ter garantida a vaga nas finais caso não perdesse para o Fluminense.
A norma da competição previa que se uma equipe fizesse a melhor campanha no somatórios dos dois turnos, teria vaga garantida na fase decisiva e se tivesse ainda ganho um dos turnos, levaria um ponto de vantagem na disputa contra o campeão do outro turno.
Em caso de empate de duas ou mais equipes na pontuação geral, valeriam os critérios de desempate: vitórias, saldo de gols, gols pró.
Como o Vasco havia somado dois pontos a mais que o Fluminense em todo o campeonato até ali e tinha 15 vitórias contra 13 do adversário, já estava automaticamente classificado para a decisão, mesmo se sofresse uma derrota na última rodada.
Mas os dirigentes rubro-negros entenderam diferente. Para eles só estaria classificada uma equipe que não ganhasse os dois turnos caso ela fosse isoladamente a maior pontuadora do certame.
A tese oriunda da Gávea caía por terra em se considerando a hipótese de cada clube ganhar um turno e na soma geral terminarem ambos empatados. Não haveria ponto de bonificação neste caso? Claro que sim, utilizando-se os critérios de desempate.
A manifestação flamenga tinha como objetivo encher de brios o Fluminense. Baseado na tese, o tricolor, caso vencesse o Vasco impediria cabalmente que o rival tivesse alguma vantagem na final. Enfrentaria, então, a equipe dirigida por Edinho, Vasco ou Flamengo – quem fosse o Campeão da Taça Rio após o jogo extra – em igualdade de condições, embora o regulamento, voltando a frisar, não permitisse isso.
A infantil interpretação tomou razoável espaço na mídia e o Vice-Presidente de Futebol do Vasco, Eurico Miranda – à época também segundo Vice-Presidente Administrativo do clube – foi a algumas rádios tranquilizar o torcedor cruzmaltino sobre o direito do clube estar garantido e passar otimismo quanto à conquista da Taça Rio naquele mesmo dia, dada a vantagem do empate caber ao Vasco no embate.
O jogo começou animado e logo na primeira chance clara de gol, aos 11 minutos, Valdir faturou o primeiro do Vasco, encobrindo Ricardo Pinto em chute forte e bem colocado, após bola levantada por Alê do campo de defesa e dupla falha da zaga tricolor, a última delas do zagueiro Luís Fernando, responsável por enviar a pelota de presente para o artilheiro do Campeonato Carioca.
Aos 22 minutos, em escanteio, cobrado da direita por Sérgio Manoel, Ézio, próximo à primeira trave, se antecipa à zaga cruzmaltina e raspa de cabeça, mandando às redes. Tudo igual no clássico.
Aos 24 Valdir faz falta feia na direita do campo de defesa vascaíno, próximo à linha lateral e leva o cartão amarelo.
Aos 32 quase a virada tricolor. Pires dividiu com Leandro Ávila e a bola chegou a Sérgio Manoel na esquerda. Dali partiu o cruzamento. Ézio entrou de cabeça, mas errou o alvo, perdendo grande chance de marcar.
O segundo tempo seria envolto por uma grande polêmica. O árbitro Aluísio Viug não se apercebe, mas dá o segundo cartão amarelo para Valdir, achando que havia aplicado apenas o primeiro e não expulsa o atleta. Alguns jogadores do Fluminense alertam Viug para o fato, mas o árbitro não toma conhecimento.
Logo em seguida, o repórter da Rádio Globo, Pierre Carvalho, atrás do gol defendido por Ricardo Pinto, chama à atenção para o fato com certo alarde, o que leva alguns atletas do Vasco a confrontá-lo, quando insistia em chamar a atenção para o fato. O atacante ficaria indevidamente mais 16 minutos em campo, até o juiz ser alertado pelo quarto árbitro do erro cometido.
Aos 27 o tricolor ataca e após cruzamento da esquerda, Macalé cabeceia para o meio da área e Ézio dá uma meia bicicleta em direção ao arco vascaíno, mas Márcio defende firme.
Aos 33 Geovani leva entrada dura de Serginho e revida com uma cotovelada, mas Aluísio Viug, embora visse tudo, não manda ninguém para o chuveiro mais cedo.
Após o fim da partida, sururu em campo. Vários jogadores de Vasco e Fluminense partiram para agressões mútuas e o garoto Hernande saiu com a boca ferida, fruto de um soco desferido pelo tricolor Serginho, após ter sido empurrado por Lira. O jogador tricolor, por sua vez, afirmou ter ido tomar satisfações com Hernande pelo fato de ter levado um tapa na cara do atleta, que atingira Sérgio Manoel, sem bola, próximo do apito final. Dirigentes vascaínos interferiram e o preparador físico do Fluminense, Alexandre Monteiro também foi agredido.
O Vasco chegava ao seu primeiro bicampeonato da Taça Rio e partia para a final do estadual com um ponto de vantagem sobre o Fluminense, numa melhor de até três jogos. O Flamengo, por sua vez, era bi-vice da Taça Rio e estava fora da decisão do campeonato.
Uma série de faltas antidesportivas, agressões sem bola, cotoveladas e indisciplinas foram vistas de ambas as partes durante toda a partida e não seria exagero nenhum terem ocorrido cinco, seis expulsões no jogo. As consequências da falta de atitude do árbitro em campo levaram às agressões pós jogo. Não se sabia, entretanto, o que prevaleceria nos duelos decisivos: futebol ou pancadaria.
O Globo (07/06/1993)
Seis anos depois, Vasco e Flamengo fariam uma decisão direta pelo título da Taça Rio.
Para o rubro-negro, que já conquistara a Taça Guanabara, uma vitória daria o título de Campeão Carioca daquele ano, enquanto um simples empate levaria o Vasco à conquista do bicampeonato da Taça Rio pela segunda vez e, por conseguinte, à decisão do Estadual contra o mesmo adversário.
O Flamengo tinha Romário como seu maior ícone e na Taça Guanabara o artilheiro fora importante marcando belo gol contra o rival, o segundo, na vitória por 2 x 1, válida pela última rodada. Naquela oportunidade as circunstâncias eram as mesmas. O Vasco jogava apenas pelo empate.
Durante o segundo turno a equipe de São Januário ficou sem Luizão, que saiu para o exterior, mas trouxe Edmundo, numa contratação vultosa.
A estreia, com pompa, ocorreu na última rodada, quando bastava ao Vasco derrotar o Botafogo para chegar ao título da Taça Rio, mas a atuação discreta do craque e o empate em 1 x 1 causaram dupla frustração na torcida e puseram o Flamengo no páreo novamente.
Além da briga pelo título da Taça Rio havia também a luta pela vantagem nas finais do estadual. Embora o Vasco precisasse apenas do empate para garantir o título do returno e o ingresso à decisão, somente em caso de vitória levaria a vantagem de jogar por dois resultados iguais. Se a partida terminasse empatada, caberia ao Flamengo o handicap.
Era a hora da verdade para dois craques. Capitães das duas equipes. No cara ou coroa deu Edmundo contra Romário. Agora era ver de quem seria a vitória quando a bola rolasse.
Logo aos 2 minutos, Rodrigo Mendes escapou pela esquerda e cruzou à meia altura. Géder afastou, mas o rebote sobrou para Beto, dentro da área, chutar em gol. A bola bateu no peito de Odvan, posicionado próximo à marca do pênalti. Felipe puxou o contra-ataque e serviu a Edmundo, que teve de dividir com a zaga rubro-negra o lance, próximo ao meio campo. Paulo Miranda também envolto na briga pela bola bateu prensado, buscando Donizete. O toque muito longo chegou às mãos de Clemer, mas o zagueiro rubro-negro Luís Alberto, responsável pela cobertura, deixou o braço no atacante vascaíno – quando este acelerava para chegar na bola – a um passo da grande área. O árbitro Vagner Tardelli deixou o lance seguir.
Aos 17 Vágner gira em cima do marcador e dá a Edmundo na direita, que invade a área e cruza com muita força para a pequena área. A bola bate na coxa de Donizete e vai para fora.
Aos 25, em manobra ofensiva rubro-negra pela esquerda, cruzamento na área do Vasco, na direção de Caio. A pelota passa pelo atacante e Romário ainda consegue tocá-la com a ponta do pé, mas sem obter o domínio da redonda. Felipe, que marcava Romário no lance, puxa o baixinho em seguida e este aproveita para cair no solo, quando chegar até a bola já era difícil, dada a cobertura da zaga. O juiz manda o jogo correr.
As duas equipes atuam de forma dura e alguns entreveros ocorrem entre os atletas, mas apaziguados pelo árbitro.
Aos 44 Donizete recebe frente à frente com Clemer, mas atira para fora, perdendo uma oportunidade incrível. O bandeirinha, no entanto, marcara um impedimento absurdo do atleta vascaíno, quando dois adversários davam condição a ele. Para a sorte do auxiliar, Donizete perdera o gol.
Na volta do intervalo se esperava mais emoção e menos faltas. No campo pesado, consequência do tempo chuvoso, sobrara até ali muita discussão, mas pouco futebol.
Aos dois minutos Zé Maria cruza da direita, mas Donizete, já dentro da área, não consegue ter domínio da bola, que sai pela linha de fundo, quando era boa a condição para o arremate, apesar da marcação próxima de um adversário.
Aos 17 Zé Maria cobra falta da direita, Clemer sai mal do gol e Edmundo cabeceia para as redes. Delírio da galera cruzmaltina. Vasco 1 x 0.
Aos 22 Donizete é lançado e toca a Edmundo livre, que tenta um lance de efeito, batendo por cobertura, mas pega muito mal na bola, perdendo grande chance de aumentar o placar.
Aos 29, Fabiano Cabral é lançado em completo impedimento e atira para o gol, mas o bandeirinha assinala a infração, frustrando a vibração rubro-negra.
Aos 39 Ramon, que entrara no lugar de Vágner, lança Paulo Miranda. O meia avança e já próximo à área tem a opção de dar a Zé Maria, posicionado livre, junto à linha lateral, mas prefere travar a pelota e busca o passe a Edmundo mais atrás. A devolução de primeira deixa Paulo Miranda cara a cara com Clemer, mas o chute de esquerda é salvo pelo goleiro, com os pés.
Aos 43 o Fla parte para o abafa. Em cobrança de falta efetuada por Beto, Pimentel consegue efetuar o cabeceio, mas Carlos Germano, seguro, pratica a defesa.
Aos 47 Athirson cobra falta próxima à entrada da área, mandando para o tumulto. Há o cabeceio. A bola passa por Carlos Germano, mas vai para fora.
Aos 48 Maricá, substituto de Zé Maria, lança Paulo Miranda. O meia dá a Ramon que avança pela direita e cruza. Edmundo surge e cabeceia firme para o fundo das redes. Fatura liquidada. Vasco 2 x 0.
Ao fim do jogo, Edmundo repetia o enredo do último confronto dele contra o Flamengo um ano e meio antes. Tal qual no Brasileirão de 1997 fora decisivo e letal. Se naquela oportunidade só não havia feito chover, desta vez o tempo deixou dúvidas sobre o poder do craque.
O Globo (07/06/1999)
Outros jogos do dia 06 de junho:
Vasco 4 x 3 Bonsucesso (Carioca 1934)
Combinado de Skeid-NOR 0 x 2 Vasco (Amistoso 1961)
Central de Barra do Piraí 0 x 3 Vasco (Amistoso 1976)
Vasco 3 x 1 Bonsucesso (Carioca 1979)
Sampaio Correia 2 x 5 Vasco (Torneio Governador Ivar Saldanha 1982)
Taguatinga 0 x 1 Vasco (Amistoso 1984)
Vasco 1 x 0 Grêmio (Libertadores 1998)
Vasco 4 x 2 Náutico (Brasileiro 2012)
Casaca!