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Análise: Carille pode virar escudo político da gestão Pedrinho em momento de turbulência no Vasco.

Por Tiago Scaffo

Com a SAF sob o controle total do associativo, o Vasco da Gama entrou oficialmente em uma nova era. Sem a 777 Partners, toda a responsabilidade pelas decisões (esportivas, financeiras e institucionais) agora recai sobre a gestão comandada por Pedrinho. E, junto com o poder, vieram os ruídos.

As últimas semanas têm sido marcadas por declarações desencontradas, falta de clareza sobre o planejamento, contratações e cobranças crescentes por parte da torcida. Em campo, os resultados ainda não apareceram como esperado. E, nos bastidores, cresce a leitura de que Fábio Carille pode acabar sendo usado como escudo político para desviar o foco das críticas que, inevitavelmente, começam a atingir a cúpula vascaína.

Carille chegou com o selo de técnico vencedor, experiente, e com carta branca para implementar seu estilo. Foi uma escolha da gestão. Recebeu apoio institucional e teve autonomia. A expectativa, naturalmente, era de que fosse o nome da reconstrução em campo.

Mas com o time ainda oscilando em vários jogos, sem padrão claro e com dificuldades ofensivas evidentes, o ambiente começa a mudar. E a velha fórmula do futebol brasileiro de empurrar o peso da crise para o treinador, começa a se desenhar também em São Januário.

A diretoria já ensaia o discurso: “fizemos nossa parte”. Ofereceu estrutura, estabilidade e respaldo. Se o desempenho não apareceu, a culpa não é da gestão, mas da comissão técnica.

É uma estratégia conhecida. Funciona no curto prazo, pois redireciona a pressão para o vestiário e compra tempo institucional. Mas também é arriscada: em um cenário onde SAF e clube associativo são uma coisa só, não há mais desculpas. Não existe mais a 777 para dividir a responsabilidade. Agora, é tudo com o Vasco e seus gestores.

Se a diretoria decidir seguir por esse caminho e empurrar Carille ao centro da crise, pode até aliviar o calor momentaneamente. Mas a torcida não esquecerá quem está com a caneta na mão e com o poder de decisão centralizado.

Carille pode não ser a solução definitiva em campo. Mas também não pode ser o bode expiatório de um clube que ainda tenta se entender fora das quatro linhas.

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