Coluna do Torcedor
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Correndo atrás do próprio rabo

 

Resolvi por assim intitular estas minhas elucubrações acerca da entrevista do postulante a presidente do Vasco em eleição próxima. Isto porque achei similaridade com o fato atinente ao comportamento canino e a mesma.

Por que cachorro corre atrás do próprio rabo?
Se você tem um cachorro de estimação, provavelmente já deve ter flagrado alguma cena do animalzinho correndo atrás do próprio rabo, em círculos. Mas você já parou para pensar qual a razão dessa atitude?
De acordo com veterinários e terapeutas de animais, há mais de uma justificativa para esse comportamento, algumas até preocupantes para a saúde do bicho. Uma das explicações, conforme os especialistas, seria a percepção de que correr em círculos desperta a atenção do dono. O cachorro pode transformar isso numa estratégia.

Também por tédio ou falta de estimulação ambiental, cães com forte instinto de caça podem canalizar essa necessidade não realizada “caçando o próprio rabo”, explicam.
Outra possibilidade é a tentativa de aliviar algum desconforto presente na região do ânus ou do rabo, como pulgas, dermatites ou inflamações da glândula paranal.
Acho que descarto esta possibilidade.

Pulando das afetações e sintomatologias dos pets ao nosso dia a dia. Dos caninos aos racionais (de eleitores ansiosos e postulantes ao cargo de supremo mandatário da nau vascaína):

Se o rapaz alvo da entrevista, que almeja presidir o Vasco, entende que o clube esteja na UTI, apesar de grandes e perceptíveis recuperações em vários níveis, patrimoniais, tributárias, etc, então estamos diante de alguém muito visionário, competente e porque não dizer ungido por certa magia que contempla pessoas pra lá de especiais, que militam num mundo e mercado mais que capitalistas.

De pessoas que conseguiram amealhar riquezas, poderio econômico, num mundo extremamente competitivo, desigual e de poucas oportunidades para tanto e tantos.

Claro que não me refiro aos que embolsam dinheiro alheio, fruto de corrupção e golpes. Nem a narcotraficantes ou traficantes de seja lá o que for. Também não falo daqueles que herdaram grandes fortunas para as quais trabalharam seus antecessores.

Me refiro aos que conseguiram sucesso fruto de seu próprio trabalho, seu suor, sua capacidade autoral.

Assim entendo, pelo que expõe, do que tão aparentemente com eloquência discorre, com a facilidade de quem dá um espirro mediante um quadro alérgico, que estamos diante de grande sumidade do mundo dos CEOs. Dos que ostentam esta sigla. Originada neste mundo moderno.

Percebo certos devaneios: morava na Europa, em Portugal, e via como se fazia isso e aquilo. Ouvia falar de grandes empresas, empreiteiras, e tal e coisa…
Mas, em qual delas participou de algo? Da magnitude daquelas empresas?

Moro aqui no Brasil e isto não me torna parceiro ou turbinador das maiores empreiteiras deste país.

Seria bom também, reforçando os discursos de sua campanha, que elencasse sua trajetória como gestor de uma delas ao menos. Foi CEO de qual grande empresa?
Atuou em qual área de qual clube? Ainda que tenha sido um Futebol Clube. O Vasco é bem mais que isso

Entendam: É a parte curricular de qualquer um que pleiteia um patamar qualquer. Um emprego de babá, de serviços gerais, de chefe de DP…
Um concorrente a um cargo de supremo mandatário de qualquer segmento que seja então, mais ainda carece mostrar seu currículo.

Como hoje não amanheci muito bem (acho que mudei um pouco minha rotina ontem à noite: não tomei minha sagrada dose de xarope de milho, ao qual intitulamos cerveja aqui nesta maracutaia de país, estimada em 473ml, pois adormeci antes de cumprida esta etapa), não entendi partes de suas declarações em tal entrevista:

1 – O Club de Regatas Vasco da Gama é olhado – por ele – apenas como um clube de futebol?

2 – Ele disse: “A deterioração do quadro do Vasco é crescente e forte a cada tempo que se passa. Esta semana saiu uma reportagem mostrando o valor de marca dos principais clubes do Brasil. O Vasco está em 10º lugar. Você vê os cinco primeiros clubes (Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Grêmio) e o Vasco fazia parte disso e vem caindo a cada ano.”

Ele acredita de fato nas pesquisas que rolam por aqui neste país?
Se sim, engana-se redondamente. Esqueça. Descandidate-se, porque lá na frente, se eleito for, perceberá que a coisa não funciona assim. Uma pesquisa verossímil? Honesta? Não se, principalmente, envolver o Vasco.
Pesquisa nenhuma, nunca, em tempo algum, funciona ou funcionará neste país.
Escolha um tópico, foi feita aqui? Por quem?
Algo que contemple e insira alguma supremacia do Vasco? Jamais.
Se ele não aprendeu isso ainda demonstra que precisa estudar mais.
Aprender mais do futebol que pretendem espanholizado.

3 – Ele disse: “Exatamente, as marcas hoje são os grandes ativos de qualquer empresa. Então, as marcas fortes atraem outras marcas. E aí surgem grandes projetos de parcerias, que viabilizam outros grandes projetos.”

Então por quê, exatamente, estas grandes marcas – clubes -, aliadas a outras grandes marcas – parceiros – são as maiores devedoras?
Principalmente as que aparecem em primeiro e segundo lugares?
Exatamente as que não têm e nunca tiveram um estádio próprio?
Que não se fale em Itaquerão! Pois ali tem ao menos um parafuso que foi custeado por mim sem que me perguntassem se eu queria ser parceiro daquele clube no financiamento daquele parafuso.
Se colocarmos o valor de sua construção, superfaturado sabidamente, acrescido ao valor da dívida fiscal, apenas, pois não sei as outras, daquele clube paulista, aí fudeu.

4 – “Então, a primeira coisa é se aprofundar em como estão as contas. A segunda coisa é refazer os processos de gestão do clube, para que o clube entre na normalidade o mais rápido possível. Ou seja, os departamentos precisam voltar a funcionar, como financeiro, controladoria, comunicação, suprimentos, logística, por ser uma empresa como qualquer outra. E precisa funcionar para que o esporte possa funcionar de forma tranquila, sem sobressaltos.”

No meu entendimento isto seria mais do mesmo. Se conseguisse manter como está atualmente.
Faz parte da retórica do candidato político desqualificar o oponente e seu mandato.
Sem maiores comentários.

5 – “Para quê eu vou contratar um jogador, pagar até R$ 120 mil em um jogador de mercado, que não faz tanta diferença no nosso modelo de jogar, se eu posso trazer gente da base, mesclar esses meninos da base e fazer com que eles aprendam, comecem a ganhar experiência com jogadores que de fato fazem a diferença, jogadores de qualidade.”

Aqui, sinceramente, entendi menos ainda – acho que nem foi a falta da minha dose habitual do xarope de milho (473ml) antes de dormir.
Vamos mesclar então quem com quem?
Quem seriam “jogadores que de fato fazem a diferença”?
Quanto ganhariam então? Mil, dez mil, vinte…?
De onde viriam?
Ou eles seriam da base, aprenderiam com os experientes(?) e por sua vez ficariam no clube, não sairiam, para dar continuidade no processo?
Ficou difícil pra mim, confesso.

Antes, disse: “…é preciso que os profissionais da base se falem e sejam remunerados, vivendo um contexto similar aos que vivem no profissional do clube. Então, essa integração é fundamental. E aí vem o que eu falei dos 33%.”

Quem trabalha na base do Vasco hoje trabalha de graça? Recebe um salário mínimo?

E complementou: “Aí sim a gente pode focar um pouco mais. Tendo mais recurso, a gente pode contratar melhor e fazer com que, esses jogadores da base, sejam expostos e joguem ao lado de jogadores de melhor qualidade. A tendência de você construir jogadores de mais qualidade, é muito maior.”
“Contratar melhor” não significa mais caro?
Se já se mesclou a base com os experientes, então para quê “contratar melhor”?

6 – Ele disse: “O Vasco sempre teve essa tradição de formar grandes jogadores, grandes ídolos. Precisa voltar a formar como foi no passado, essa é nossa história.”

Sempre pensei que isto fosse uma coisa aleatória. Fruto da casualidade. Do acaso. Da sorte aliada ao trabalho, claro. Afinal não se formam grande ídolos como se assam pães franceses no forno da padaria. Uma porrada numa fornada só. Uma após outra.
Mas há clubes que não pensem da mesma forma? Há quem não pense ou queira isto?

7 – Ele disse (aqui eu preciso pegar toda a resposta da tal entrevista): “Vamos começar a construção do centro de treinamento e a reforma de São Januário o mais rápido possível. É óbvio que a gente precisa fazer isso em fases, para não causar um problema no funcionamento do clube. Ou seja, primeiro a construção do centro de treinamento para transferir o trabalho que hoje é feito em São Januário e, depois, durante a reforma, por ter que parar o estádio, ter um espaço para treinar e outro para jogar. O Rio de Janeiro tem estádios como Maracanã e outros para jogar. Mas, a gente precisa de um lugar para treinar. Então, a gente precisa fazer um cronograma de trabalho para não causar sobressaltos no trabalho do profissional.”

Construir um CT para reformar São Januário – se tem um parceiro para a reforma de São Januário não teria um outro para construir um simples CT? Antes de partir para o “grande projeto!? Terrenos o clube já dispõe, embora outros pretendentes ao cargo nos tenha dificultado. Jogado contra para ser claro.
Não poderia também ser o mesmo parceiro? Afinal, parceiro tem que ser parceiro, não? Meio parceiro não é parceiro.
A reforma incluiria também o gramado ou iriam usar o mesmo para fazer a massa para o concreto? Canteiro de obras?

Se se considera o Maracanã como “opção de jogar” então o estádio – São Januário – não precisa de reforma. Não condeno a ideia, mas não a alcancei.

8 – Ele disse: “A gente quer entrar sendo campeões, a gente acha que é possível.”

Esta meta já foi batida em condições bem piores que as de hoje.
Afinal, carioca vale ou não vale? Vascaínos chegados a uma oposição por oposição dizem que não.

9 – Ele disse: “Já temos contatos com alguns clubes, identificando potenciais jogadores para encaixar nas posições que a gente entende que são necessárias para o clube, jogadores que virão e não viriam com a atual administração. Mas, em um projeto que tem Edmundo, Pedrinho e Felipe envolvidos, eles conhecem, admiram e são fãs desses caras também. Então, faz toda a diferença.”

Interessante isto. Entendo então que viriam por menos de 120.000. Experientes o necessário para ajudar na formação dos atletas oriundas de nossa base.
E que, neste caso também, caso não consigam receber do clube, em situações de atrasos, recorreriam aos parceiros Edmundo, Pedrinho, Felipe… para tal. Para um aporte para o clube.

Esta parte eu gostei.

Paulo Salles.

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