Por: Walmer Peres, Centro de Memória do Vasco da Gama
São Januário, Rio
Hoje, o Club de Regatas Vasco da Gama comemora 119 anos de existência. No apagar das luzes do século XIX, impulsionados pelos ares da modernidade, pelo desejo de praticarem um esporte símbolo dos novos tempos, homens que na sua maioria trabalhavam no comércio do Centro da Cidade do Rio de Janeiro decidiram criar um novo clube para a prática do remo.
Na tarde de 21 de agosto de 1898, 62 idealistas, reunidos na Rua da Saúde nº. 293, fundaram o Club de Regatas Vasco da Gama. As comemorações do IV Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias, feito realizado pelo Almirante Vasco da Gama, influenciaram no nome da nova instituição náutica e nos seus símbolos.
Muito tempo se passou desde aquele dia e após mais de um século de existência o nosso Vasco constitui-se como um Gigante. No entanto, mesmo torcendo para um dos maiores clubes do mundo, alguns questionam o motivo do nosso amor pelo Vasco. Geralmente, a pessoa que quer nos questionar inicia com a seguinte:
“Por que você é Vasco?”
Quando me perguntam isso eu respondo com outra pergunta.
“Por que não ser Vasco?”
Algum (a) amigo (a) seu (sua) pode responder: “Ah, porque tem que torcer para um clube que ganha títulos”. Pois, bem… vamos nos ater ao esporte mais popular do Brasil, o futebol (masculino). Diga para ele (a) que em 103 anos desenvolvendo o esporte bretão, o Vasco acumula 125 títulos, contando apenas competições oficiais e amistosas vencidas pela equipe principal… uma média superior a 1 título por ano (lembre-se que Nosso Clube institucionalizou a prática do futebol em 1915 e só realizou partidas no ano seguinte).
Desses 113 títulos, destaca-se o Campeonato Sul-Americano de Campeões, que conquistamos de forma invicta em 1948, no Chile. Sabia que com isso o Vasco se tornou o primeiro Campeão da América?
Não satisfeito, o Vasco venceu outro continental, a Copa Libertadores de 1998, no ano do Centenário da Instituição. Pois bem, somos o clube carioca com maior número de títulos continentais.
Que tal nossos quatro CAMPEONATOS BRASILEIROS?… Digo, BRASILEIRO MESMO! Não um amontoado de títulos sem critérios que distribuíram feito bala no trem por aí… e nem aqueles conquistados com a ajudinha marota dos homens de preto e amarelo… mas, vamos deixar isso pra lá… (em 1974 seguimos o regulamento… o choro é azul celeste, digo, livre).
Faça o (a) amigo (a) se recordar da virada histórica contra o Palmeiras em 2000. Um 4 a 3 em pleno Parque Antártica… para desespero dos secadores de plantão. Fale sobre o Torneio de Paris de 1957, que o Vasco conquistou em cima do Real Madrid, então bicampeão europeu. Aquele que diziam que era o melhor time do mundo… pena que não transmitiam o Campeonato Carioca na Europa naquele tempo… ora, pois, saberiam que o maior do mundo era (é) o Vasco!
Em 1957 também conquistamos o Troféu Teresa Herrera sobre o Athletic Bilbao. Na mesma Espanha fomos tricampeões do Troféu Ramón de Carranza, vencendo-o nos anos de 1987, 1988 e 1989.
Você sabia que o Vasco já enfrentou equipes de todos os continentes? Além disso, é o clube brasileiro que mais enfrentou e venceu equipes europeias, tendo derrotado 11 campeões europeus?
Às vezes, esses argumentos não dão conta da chatice de alguns… que emplacam com uma certa propriedade dos tolos: “Você tem que torcer para um clube que tem a maior torcida do Brasil”… ou “do Mundo”.
Nesses casos, você, vascaíno (a), tem que parar e respirar bem fundo! Depois, comece a explicar ao (a) inocente torcedor (a) rival que o Vasco é o VERDADEIRO CLUBE DO POVO e possui uma “imensa torcida bem feliz, norte-sul, norte-sul desse país”. Fale pra ele (a) que sua torcida é gigantesca porque cresceu com o Clube, na medida em que ele se tornava, por conta própria, um fenômeno de massa.
Com cuidado, pois não queremos magoar ninguém, diga que, com toda certeza, dos grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro, O ÚNICO QUE NÃO TEM A MANCHA DO RACISMO EM SUA HISTÓRIA É O VASCO. Ao contrário dos outros “grandes”… que institucionalizaram práticas deploráveis como o racismo e o preconceito social… manchas eternas!
Explique para o (a) seu (sua) amigo (a) que o Vasco foi o primeiro clube a conquistar o Campeonato Carioca com jogadores das camadas populares, eram os negros e brancos de baixa condição social que os “clubes das elites” desprezavam… Esclareça que o Vasco se insurgiu contra essas elites e com sangue, suor e lágrimas ergueu o maior estádio da América do Sul em 1927: o Estádio de São Januário (oficialmente Estádio Vasco da Gama). Um símbolo da luta do Vasco pela igualdade e contra o racismo e preconceito social no esporte.
O Estádio de São Januário, para além do futebol, tornou-se um patrimônio nacional ao ser sede de eventos culturais e políticos que marcaram a vida do país. No estádio vascaíno, Getúlio Vargas assinou a lei que instituiu o Salário Mínimo, anunciou a instalação da Justiça do Trabalho, pronunciou discursos no Dia do Trabalho (1º de Maio) e no Dia da independência (07 de Setembro).
Geralmente, na comemoração da independência, o maestro Heitor Villa Lobos regia corais orfeônicos com milhares de jovens e crianças. Além de Getúlio, a Tribuna de Honra teve a presença de outras figuras importantes da política nacional, como Luiz Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Eurico Gaspar Dutra, João Goulart e outros. Na “casa vascaína” também foram realizados desfiles de escolas de samba e shows de bandas internacionais.
Termine dizendo que através da união de membros da colônia portuguesa e de brasileiros, independentemente da classe social ou de raça, o Vasco foi se fazendo grande, apesar das tentativas infrutíferas de diminuir o Vasco, executadas por uma parte da imprensa que era racista, preconceituosa, xenófoba e segregacionista, COMPOSTA POR SÓCIOS DAQUELES CLUBES QUE EXCLUÍAM OS TAIS JOGADORES SEM “CONDIÇÕES MORAIS”…
Será que é tão diferente de hoje? Acredito que nem tanto, pois, agora tentam difamar o Vasco como parte do objetivo de “espanholizar” o futebol brasileiro… outra guerra que precisamos vencer. No Rio, especificamente, não podemos deixar que se torne um “fru-fras” da vida…
Se o (a) amigo (a) ainda estiver te ouvindo… haja vista que a verdade assusta… e ainda possuir forças para uma última tentativa, ele (a) pode dizer : “Mas tem que torcer para um clube que não seja só de futebol!”.
Caso isso ocorra, lembre-o que o Vasco nasceu para a prática do remo, em 21 de agosto de 1898. Mas, desde então, também é um clube de futebol, atletismo, futsal, natação, ciclismo, esgrima, futebol de areia, futebol de mesa, ginástica artística, boliche, polo aquático, pugilismo, saltos ornamentais, tênis, tênis de mesa, tiro esportivo, vôlei, tiro com arco, caratê, taekwondo, judô… dentre outros.
Ah! Recorde ao (a) seu (sua) amigo (a) que outra prática de inclusão social desenvolvida pelo Vasco é manter desde 2004 um colégio para os atletas do Clube: o COLÉGIO VASCO DA GAMA!
Considerado um marco na história dos clubes de futebol do Estado do Rio de Janeiro, o Colégio Vasco da Gama surgiu da necessidade de se criar uma escola regular, na qual o planejamento anual das atividades escolares seria feito em comum acordo com o planejamento dos departamentos profissional e amador.
Assim, procura-se solucionar as dificuldades enfrentadas pelos atletas em conseguir conciliar o esporte com os estudos, tendo o objetivo de facilitar a vida educacional dos esportistas de todas as modalidades, acompanhando-os integralmente. Essa verdadeira ação social garante a assiduidade dos alunos às aulas, contribui para um melhor desempenho escolar e auxilia na construção de uma consciência de cidadania por parte dos atletas vascaínos.
Acredito que o (a) amigo (a), ao menos, desistirá de tentar indagar o motivo de você ser Vasco…
Porém, na data de hoje, se algum (a) amigo (a) vier lhe indagar a razão de você ser vascaíno (a), diga para ele (a) que não gostaria de entrar em detalhes. Porque pretende aproveitar bastante o dia. Afinal, você vai festejar os 119 anos do Club de Regatas Vasco da Gama!
Fonte: Site oficial
Espetacular! De vez em quando colocar aqui novamente. O Sérgio Frias, no próximo livro pode até reproduzir lá…