História
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Há 33 anos, Vasco aplicava a maior goleada da sua história em campeonatos brasileiros: 9 a 0 na Tuna Luso

No dia 19 de fevereiro de 1984 o Vasco da Gama alcançou a sua maior goleada na longa trajetória já percorrida pelo time cruzmaltino nos Campeonatos Brasileiros. O adversário massacrado por 9 a 0 foi a paraense Tuna Luso, campeã estadual do ano anterior e clube que, como o Vasco, fora fundado por portugueses e adotou a faixa diagonal e a Cruz de Malta.
 
A partida valeu pela primeira fase da Taça de Ouro e foi disputada em São Januário. No ano anterior, valendo pela mesma competição, o Corinthians Paulista bateu o piauiense Tiradentes por 10 x 1, goleada que permanece até hoje como a maior de todos os tempos nos Brasileirões.
 
Arthurzinho foi o grande destaque do encontro ao fazer quatro gols, sendo o derradeiro aos 48 minutos da etapa final, levando a torcida vascaína ao delírio. Empolgados no intuito de bater o recorde do clube de São Paulo, torcedores e jogadores empurraram o time até o último instante. O zagueiro uruguaio Daniel González (falecido cerca de um ano depois num acidente de carro) queria um placar maior e foi quem mais incentivou o talentoso e aguerrido baixinho “Rei Arthur” a dar seu sangue até o segundo final.
 
Marcelo, companheiro de ataque de Roberto Dinamite (que desfalcou o time nesse dia), assinalou três tentos. Geovani, o “Pequeno Príncipe”, e Airton completaram a artilharia. 
 
Revista Placar (20/02/1984)

“O baixinho, veloz e irresistível Arthurzinho foi o grande herói dos massacrantes 9 x 0 que o Vasco aplicou no esforçado e leal Tuna Luso, domingo, em São Januário. Foi a maior goleada desta Copa Brasil e a primeira derrota do time paraense, que havia tomado apenas dois gols em seus quatro primeiros jogos. Arthurzinho levou a torcida ao delírio ao marcar quatro gols e criar as jogadas que resultaram nos três gols do centroavante Marcelo, o substituto de Roberto Dinamite, que não jogou porque passou a semana com dores lombares.

“Estava devendo esta exibição à torcida”, comentava, emocionado, Arthur dos Santos Lima, 27 anos, 1,62 m, sem parar de beijar e acariciar seu crucifixo de ouro, gestos com que comemorou principalmente seu primeiro gol no jogo e no torneio, ele que veio do Bangu para o Vasco por 400 milhões de cruzeiros depois de ter sido vice-artilheiro do último Campeonato Carioca, com 18 gols. E tinha boas razões para a emoção: “A vitória afastou definitivamente a suspeita de que eu sentia o peso da camisa. Agora, estou de moral alta”.

Marquinho (E), um dos melhores, festeja mas um gol de Arthurzinho. (Jornal do Brasil – 20/02/1984)

QUATRO GOLS COM AS BENÇÃOS DO PADRE MAX

Sua alegria começou logo aos 5 minutos, quando completou com um chute rasteiro e indefensável o cruzamento do ponta-direita Jussiê: “Ali terminava o meu pesadelo. Só pensei em Deus, pois sou um cara que tem muita fé”. O pesadelo era a falta de gols nos primeiros cinco jogos do Vasco e a falta de uma grande exibição ante a torcida, pois ele só havia jogado bem fora do Rio. Na sexta-feira, 48 horas antes do massacre, Arthurzinho procurou o padre Max, da paróquia de Bangu: “Fui me benzer porque estava me faltando sorte. Sabe que joguei com o tornozelo inchado? Pois é, fui para o sacrifício porque pressentia uma grande exibição”.

A exibição foi facilitada pela volta do incansável ponta-esquerda Marquinho, que renovou seu contrato na semana passada e “garantiu melhor marcação no meio-campo, liberando o Arthurzinho para criar e marcar gols”, como explicava depois do jogo o técnico Edu. Aliás, Marquinho, 1,68 m, e Pires, 1,69 m, formaram, com o Rei Arthur, o irresistível trio de baixinhos que levou o Vasco à goleada, com que o time já havia se desacostumado desde os primeiros meses de 1982, quando vencera seguidamente o Moto Clube (7 x 0), o Internacional-SM (7 x 0) e o Operário (7 x 1) e que é a segunda maior de toda a história da Taça de Ouro, perdendo apenas para os 10 x 1 que o Corinthians aplicou no Tiradentes no ano passado.

DANIEL NÃO PAROU DE GRITAR. E PEDIA DEZ

O Vasco jogou bem desde o início e terminou o primeiro tempo vencendo por 4 x 0, com gols de Arthurzinho aos 5 e aos 40, Geovani aos 22, cobrando pênalti, e Aírton aos 29. Mas foi irresistível no segundo tempo, depois que Arthurzinho pôs definitivamente banca de Rei ao marcar seu terceiro gol logo aos 4. Com a disposição de quem não acredita em bola perdida, aproveitou-se de uma indecisão do zagueiro-central Bira, roubou-lhe a bola e achou o resto muito fácil: “Só precisei dar três passos e colocar a bola no cantinho”. A partir desse gol, a torcida entrou em delírio total, exigindo a ampliação da goleada. O Vasco embalou e colocou o time da Tuna Luso na roda, sempre em jogadas de velocidade que partiam dos pés de Arthurzinho, Marquinho e Pires. Assim, saíram os três gols de Marcelo, aos 8, aos 9 e aos 29.

Arturzinho passa por Bira, e na saída de Ocimar, toca a bola por cima, no quinto gol. (Jornal do Brasil – 20/02/1984)
Mas nem o time nem a torcida estavam satisfeitos. O capitão Daniel González continuava gritando. “Eu queria chegar a 10 x 0 e superar os 10 x 1 do Corinthians no ano passado”, justificava o alegre uruguaio depois, com a felicidade de quem participou das duas goleadas. Arthurzinho estava de acordo: “Entendi o que o Daniel queria e por isso, mesmo sentindo o tornozelo, continuei lutando e fechei a goleada”. Foi o gol mais bonito: ele entrou na área com a bola dominada, rolou-a por entre as pernas de Bira e colocou-a suavemente fora do alcance do desolado goleiro Ocimar.

O jogo terminou em seguida e dezenas de torcedores invadiram o campo, carregaram Arthurzinho nos ombros até o alambrado de São Januário, enquanto a torcida gritava em coro: “Ei, ei, ei, Arthurzinho é o nosso Rei”. O novo herói vascaíno estava feliz: “O que importa é que fiz as pazes com a artilharia e ganhei a credibilidade da torcida. A vitória nos deu moral para nos desforrarmos do São Paulo”. (O jogo está marcado para este sábado, no Morumbi.)

Eufórica, a torcida não estava sequer ligando para as palavras do presidente Antônio Soares Calçada, que passou o fim de semana repetindo que admite vender para a Itália o passe do maior ídolo de São Januário, o centroavante Roberto Dinamite, por 1 milhão de dólares. Afinal, esta torcida já está acostumada com a alma de comerciante do seu principal cartola, mas há muito tempo não vivia um domingo tão feliz. Principalmente em São Januário.” (Revista Placar – 20/02/1984)

Jornal do Brasil (20/02/1984)
Jornal do Brasil (20/02/1984)
Jornal do Brasil (20/02/1984)
O Globo (20/02/1984)
O Globo (20/02/1984)

As atuações segundo o jornal “O Globo”:

ACÁCIO — Praticamente não foi exigido. Na única intervenção mais difícil, machucou-se quando saiu da área e se chocou com o ponta Luis Carlos. (Sem Nota). Foi substituído por Roberto Costa, que não teve trabalho. (Sem Nota).

EDEVALDO — Mostrou um vigor físico impressionante no apoio às jogadas de ataque. No entanto, complicou nas saídas de bola, Nota 7.

DANIEL GONZALEZ — Excepcional no combate, apoiou o ataque com categoria, indo à área do Tuna Luso várias vezes. Nota 9.

NENÊ — Mesmo com toda facilidade, confundiu-se em alguns momentos. De qualquer maneira mostrou espirito de luta. Nota 7.

AIRTON — Fez uma grande partida. Seu gol foi inesquecível e apoiou o time de forma incansável. Nota 10.

PIRES — Atravessa uma forma excepcional. Defende e ataca com facilidade, organizando o time. Nota 10.

GEOVANI — Um talento privilegiado, com jogadas de alta categoria. Prendeu a bola duas vezes, durante toda a partida, mas esforçou-se para compensar Isto. Nota 10.

ARTURZINHO — Quatro gols e uma exibição de gala. Nota 10.

JUSSIÊ — É um ponta veloz, que procura sempre a linha de fundo, embora muitas vezes não dê seqüência as jogadas. Nota 7.

MARCELO — Atacante habilidoso, sabe tocar bem a bola. Foi, acima de tudo, oportunista nos três gols que marcou. Nota 9.

MARQUINHO — Deu uma outra feição ao time do Vasco. Incansável no apoio, um dos destaques na ajuda à defesa. Nota 10. Foi substituído no final por Cláudio José, que manteve o ritmo do time. Nota 7.

Os gols da partida:

Ficha do Jogo:
VASCO DA GAMA 9 X 0 TUNA LUSO-PA 
Data: Domingo, 19 de fevereiro de 1984 
Estádio: São Januário, Rio de Janeiro (RJ) 
Árbitro: Roque José Gallas (RS) 
Público: 12.855 pagantes 
Renda: CR$ 21.007.000,00 
Cartão Vermelho: Ronaldo aos 18′ no 2º tempo. 
Gols: Arthurzinho aos 5′, Geovani aos 22′, Aírton aos 29′ e Arthurzinho aos 40′ no 1º tempo; Arthurzinho aos 4′, Marcelo aos 8′, 9′ e 29′ e Arthurzinho aos 48′ no 2º tempo.
 
VASCO DA GAMA: Acácio (Roberto Costa); Edevaldo, Daniel González, Nenê e Aírton; Pires, Geovani e Arthurzinho; Jussiê, Marcelo e Marquinho (Claúdio José). Técnico: Edu Coimbra.
 
TUNA LUSO-PA: Ocimar; Quaresma, Bira, Paulo Guilherme (Ronaldo), Mario; Samuel, Ondino, Jorginho; Tiago, Miltão e Luis Carlos. Técnico: Ari Grecco.
 
Fonte: Almanaque do Vasco da Gama, Youtube, O Globo e Jornal dos Sports.

3 comentários sobre “Há 33 anos, Vasco aplicava a maior goleada da sua história em campeonatos brasileiros: 9 a 0 na Tuna Luso

  1. Essa GOLEADA ELÁSTICA DE 9 X 0 , como eu poderia esquecer?

    Foram 9 x 0 sim e a mulambada, nos zoavam naquele ano de 1984, que entramos pela janela a convite da CBF e é verdade que começamos mal o início daquela competição, pois haviámos perdido para o São Paulo em pleno Maracanã por 3 x 2, isso foi devido ainda a falta de entrosamento desse FANTÁSTICO time que a DIRETORIA havia montado trazendo o ARTHURZINHO, MOCOCA, PIRES, AÍRTON, MÁRIO, ROBERTO COSTA, e o EDEVALDO ( ex- FluminenC e Internacional-RS) e na COMISSÃO TÉCNICA o EDU COIMBRA.

    Perdemos para o Tricolor Paulista em pleno Maracanã e no Morumbí pelo mesmo marcador, isso era devido aquele ROLO COMPRESSOR VASCAÍNO JOGAR OFENSIVAMENTE, e o balde de água fria, foi cairmos no Grupo da morte na segunda fase composto pelo VASCO da GAMA, Joínville-SC, Gremio-RS e Atlético Mineiro, e me lembro que teoricamente o nosso time se classificou em segundo lugar no nosso grupo isso porque perdemos o primeiro posto para o São Paulo e por cair nessa chave difícil onde tinham somente os Times Campeões Estaduais do ano anterior como Joínville-SC, Atlético Mineiro e o Gremio de Porto Alegre Campeão do Mundo, achei que cairíamos fora da competição, mas o nosso time derrotou o time do Atlético Mineiro por 3 x1 de VIRADA, com dois Gols do Ponta Esquerda Marquinhos e Mário, o nosso time com muita PERSONALIDADE, RAÇA e com muita GARRA, atuaram e surpreendemos o Galo Mineiro, e a gente passamos pra Terceira Fase em primeiro lugar do grupo, ao lado do Gremio de Porto Alegre aquele time INESQUECÍVEL de 1983 CAMPEÃO do MUNDO, e que nos encontraríamos nas semi-finais da competição daquele ano e por capricho do destino não ganhamos o Campeonato Brasileiro daquele ano. Do que perdermos a Final pra o FluminenC, e ter chegado as finais, pra quem começamos a competição, meio tibuteando e na primeira fase apesar de golearmos a Tuna Luso Brasileira por 9 x 0 e depois repetimos a dose em cima do Campeão Catarinense dentro do SÃO JANUÁRIO enfiando os 7 x 0 sem dó e piedade foi inesquecível também essa goleada.

  2. Tive um pressentimento e escolhi esse jogo para levar pela primeira vez meu filho Bruno Novaes a São Januário. Quando saí do estádio, não tive mais dúvidas quanto a sua escolha e o prosseguimento (terceira geração) da paixão do avô e do pai pela nossa instituição. E deu no que deu!!!!

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