No dia 27 de janeiro de 1935, Vasco e Boca Jrs se enfrentaram em partida amistosa em São Januário, registrando o primeiro confronto da história entre as duas equipes.
Em tarde chuvosa, os argentinos chegaram a estar vencendo por 3 a 1, mas graças a grande atuação de Hugo Lamanna (autor dos 3 tentos cruzmaltinos), o Vasco conseguiu uma grande reação, empatando a peleja. Foi o confronto entre o bi-campeão argentino e o campeão carioca.
O jornal “A Noite” do seguinte dizia que: “a temporada do Boca Jrs ao Brasil está revivendo a época de ouro do futebol brasileiro. O match de ontem do campeão argentino com o Vasco, presenciado por uma das maiores assistências de football que temos visto, como soccer, pode ser classificado de primeira ordem.”
O “Jornal dos Sports” também exaltava o grande espetáculo futebolístico ocorrido naquela tarde no estádio do Vasco:
“O prélio que reuniu os quadros do Vasco e do Boca Juniors no Stadium São Januário constituiu , inegavelmente, um espetáculo soberbo que o numeroso público que lá esteve soube devidamente apreciar. Efetivamente, a competição foi fértil de atrativos magníficos e aspectos sugestivos que o nosso público de raro em raro tem a oportunidade de assistir”.
Os argentinos, que tinham o goleiraço Yustrich defendendo sua meta, abriram o placar logo aos 5 minutos de jogo, com Cherro. O Vasco empatou aos 27 com Lamanna, atacante argentino contratado em 1934 junto ao Racing Club. O Boca Jrs passou novamente a frente no placar aos 38 e aos 41 minutos com Varallo. E assim, terminou o 1º tempo: Boca 3 a 1.
Porém, na segunda etapa, o Vasco partiu com tudo para cima dos argentinos em busca da reação. O “Jornal dos Sports” descreveu assim os últimos 45 minutos de jogo:
“O público estava vivamente impressionado com a excelente técnica dos argentinos e previa uma grande derrota para o Vasco. Ninguém poderia supor outra coisa diante da superioridade manifesta dos boquenses sobre os cruzmaltinos. Entretanto, as impressões do público foram rapidamente dissipadas no segundo tempo da sensacional partida.”
Logo aos 10 minutos da etapa final, Lamanna fez o 2º gol vascaíno, após belo passe de Orlando. Mas ainda era pouco, e o Vasco continuava pressionando. O tento de empate era questão de tempo. E veio faltando 5 minutos para o fim:
“A torcida delirava com os lances empolgantes oferecidos pelo sensacional prelo. Quando veio o terceiro gol de Lamanna, a gritaria recrusdeceu, infernal. Kuko, de posse da pelota, abriu o jogo estendendo um passe a Novamuel. O ponta vascaíno escapa, perseguido por Munt e consegue, oportunamente centrar alto. Lamanna corre, pula na frente de Moysés e alcança de cabeça a bola, desviando a sua trajetória para o fundo das redes. Foi um tento recebido com aplausos demorados. Garantido o empate!”
Após o jogo, o treinador do Boca Mario Fortunato se derreteu em elogios a equipe vascaína, em especial ao zagueiro Domingos:
“Reconheço no Vasco um grande team. O quadro carioca faria sucesso em Buenos Aires como conjunto. O que tem de notável, porém, é a classe de certos valores individuais. Domingos é um zagueiro excepcional, completo em recursos, comparável aos backs mais notáveis que já vi jogar. Desconcerta uma defesa com a sua calma, a precisão de suas entradas. É um zagueiro que nunca se precipita. Com uma condição admirável, apanha a chave dos lances com uma facilidade desconcertante. Para mim, Domingos é na atualidade o melhor back sul-americano.”
Até o árbitro da partida, o argentino D´Esposito, tinha elogios a equipe vascaína, dando destaque ao atacante Fausto:
“De todos os jogadores, guardo impressão raras vezes sentida sobre Fausto! Seria ídolo em Buenos Aires. É verdadeiramente maravilhoso!”
O jornal “A noite” também discorreu sobre a atuação do artilheiro vascaíno:
“Figura sobre a qual quaisquer dúvidas não podiam surgir, pelas qualidades de sua classe, um dos quatro maiores center-halves de mundo, Fausto dos Santos, na peleja continental de ontem, surgiu confirmando nossas previsões, exibindo-se como craque, incapaz de paralelos.”
Os times atuaram sob a seguinte organização:
Vasco: Rey, Domingos e Itália; Gringo, Fausto e Calocero; Novamuel, Kuko, Lamana, Nena e Orlando.
Boca Jrs: Yustrich, Moysés e Bibi (Valussi); Varnieres, Luzzati e Suarez (Munt); Zatelli, Benavides (Caceres), Varallo, Cherro e Cussati.
Que comentários e análise de jogadores feita pelos entrevistados! Essa elegância e classe já praticamente abandonou o futebol hoje em dia. Infelizmente. Precisa-se da volta de “leitores” do futebol