O Vasco revolucionara o futebol carioca já há alguns anos, com a presença de um elenco eclético e sem preconceitos, representando suas cores.
O clube tinha em seus quadros atletas de todas as linhagens sociais e intelectuais. Um negro e um branco atuavam no mesmo plantel em harmonia, um analfabeto e um literato que fosse podiam jogar juntos. A linguagem do futebol vascaíno era a bola.
Reforçaram o time para aquela temporada quatro atletas:
– Leitão, zagueiro, oriundo do Bangu;
– Bráulio “half” esquerdo, com passagem pelo Andarahy;
– Paschoal, ponta-direita, destaque da Liga Suburbana, vindo do S.C. Rio de Janeiro;
– Claudionor Correia, o “Bolão”, centroavante, também vinculado ao Bangu até então.
Nos bastidores, todavia, o Vasco se via prejudicado em sua tentativa de ascensão desde 1920 e o maior rival para o acesso em 1922 era o Vila Izabel, campeão da Série B no ano anterior e que só não estava jogando na primeira divisão por ter perdido a disputa contra o lanterna da Série A, Fluminense, por 3 x 1 em partida única disputada no estádio de General Severiano.
A rivalidade entre os clubes de Santa Luzia e do Boulevard norteou inclusive após o jogo um entrevero próximo à sede do Vila entre adeptos das duas agremiações. A provocação dos vascaínos em passeata ao local foi recebida por pedras dos derrotados e até mesmo alguns feridos foram registrados após o embate nas ruas adjacentes.
A segunda divisão carioca era composta na época por sete clubes. Os adversários do Vasco eram o Americano (da capital), Carioca, do Jardim Botânico, Mackenzie, Mangueira, Palmeiras (do Rio, claro) e Vila Izabel.
No turno o Vasco perdeu uma única partida e foi justamente contra o adversário que enfrentaria a 04 de junho. Derrota por 1 x 0. Nos demais confrontos, quatro vitórias e um empate diante do Americano.
O Vila se mantinha com 100% de aproveitamento. Diante disso a vitória cruzmaltina era fundamental para as pretensões de acesso.
O Vasco tinha um campo alugado na Rua Moraes e Silva e a reforma custara muito a seus cofres, mas era hora de pô-lo funcionando na prática. Com a capacidade aumentada para 5.000 pessoas o clube exerceu seu mando diante do adversário daquela tarde de domingo.
Os cruzmaltinos lotariam o estádio, cientes de que as chances de o time dirigido por Ramon Platero poder obter o título da segunda divisão naquele ano passavam por um triunfo naquele confronto. Era vencer ou vencer.
O Vasco começa em cima do adversário. Bolão desfere violento tiro defendido pelo arqueiro Balthazar e no rebote Negrito chuta a gol, mas erra o alvo por muito pouco. Grande oportunidade desperdiçada.
O Jornal (06/06/1922)
Os visitantes respondem com Alô, mas Nelson Conceição pratica sua primeira grande defesa da partida.
Voltam os anfitriões a atacar e Bolão quase marca atirando próximo ao arco contrário, mas para fora.
O Vila responde. Alô centra da direita para Cid, que recebe no meio, cai pela meia esquerda e bate violento, enviesado, sem chances para Nelson. Silêncio no estádio. Vila 1 x 0.
Insiste outra vez o Vasco e Balthazar evita o gol em chute de Torterolli.
Mas o jogo é lá e cá. Cid obriga Nelson a praticar mais uma intervenção.
Logo em seguida, Bolão, após receber centro da esquerda, escora com estilo e marca para o Vasco, fazendo delirar a plateia.
Pouco depois, Bolão fatura mais um, em falha de Balthazar, virando o jogo. Vasco 2 x 1.
A partida permanece equilibrada e Nelson aparece bem novamente, segurando um chute de Alô e em seguida repete a performance após arremate de Henrique.
Encerrada a primeira etapa com o Vasco na frente do marcador em partida bastante equilibrada.
Na volta do intervalo o onze dirigido por Ramon Platero aparece mais disposto ainda e Braúlio, após falta cometida por Cid, quase amplia. Balthazar esteve seguro no lance.
A defesa cruzmaltina se vira para impedir que a meta de Nelson seja vazada, mas ao mesmo tempo os contra-ataques dos locais são cada vez mais perigosos. Num deles Bolão obriga Balthazar a defender com brilhantismo, merecendo aplausos do público presente.
De um lado Balthazar agarra um chute de Torterolli, de outro Nelson impede a igualdade no marcador, após catar tiro de Cyro.
O Vasco parece melhor em campo, mas cabe à equipe alvinegra mais uma boa oportunidade, já perto do final. É a vez de Nelson brilhar, após conclusão de Waldemar.
O árbitro Carlito Rocha encerra o jogo pouco depois para alegria de sócios e torcedores vascaínos.
Na estreia em seu campo o Vasco derrubara a invencibilidade do líder. Já cabia sonhar com o tão almejado acesso à elite do futebol carioca.
A partir de então, era ganhar os seus jogos e torcer por um revés do rival, afinal a diferença em pontos perdidos caíra para um ponto apenas.
O Imparcial (05/06/1922)
O Imparcial (05/06/1922)
Jornal do Brasil (05/06/1922)
Gazeta de Notícias (05/06/1922)
Outros jogos do Vasco em 04 de junho:
04/06 – Vasco 1 x 0 Bonsucesso (Carioca 1939)
04/06 – Combinado de Trondheim-NOR 0 x 10 Vasco (Amistoso 1961)
04/06 – Al-Mourada-SUD 1 x 4 Vasco (Amistoso 1963)
04/06 – Vasco 2 x 0 Botafogo (Carioca 1969)
04/06 – Vasco 2 x 0 Campo Grande (Carioca 1975)
04/06 – Vasco 1 x 0 Friburguense (Carioca 2000)
04/06 – Vasco 2 x 1 Santa Cruz (Brasileiro 2006)
Casaca!