O Torneio Rio-São Paulo de 1953 chegava próximo ao fim, completamente indefinido.
O Vasco pegaria o líder Corínthians na penúltima rodada e estava na vice-liderança, junto ao São Paulo, três pontos atrás do seu adversário naquela tarde de domingo. O time do Parque São Jorge tinha, entretanto, um jogo a mais que seus concorrentes diretos pelo título.
Vencendo o clássico, o Vasco chegaria à liderança da competição por pontos perdidos (isolada ou dividida com o São Paulo dependendo do resultado a ser colhido pelo tricolor paulista na mesma tarde frente ao Flamengo no Pacaembu).
Antes dos jogos de domingo da penúltima rodada a situação era esta:
1º Corínthians – 12 pontos em 8 jogos
2º Vasco e São Paulo – 9 pontos em 7 jogos
2º Botafogo – 10 pontos em 9 jogos
3º Vasco e São Paulo – 9 pontos em 7 jogos
5º Fluminense – 9 pontos em 9 jogos
6º Palmeiras – 8 pontos em 9 jogos
7º Flamengo – 7 pontos em 7 jogos
A equipe cruzmaltina ainda se ressentia da ausência de Ademir, lesionado, substituído por Genuíno, autor de três gols em sete jogos, dois deles fundamentais para a vitória diante do São Paulo (1 x 0) e empate contra o Palmeiras, fora de casa (1 x 1).
Maneca e Sabará com dois tentos marcados cada eram também esperanças de gol no time, enquanto, Ely, Friaça e Chico haviam deixado suas marcas uma única vez no torneio.
O Vasco vinha invicto há 34 jogos, mas uma surpreendente derrota na rodada anterior por 4 x 1 diante do Fluminense parecia pôr tudo a perder.
O Expresso da Vitória já havia garantido o Campeonato Carioca de 1952 no início da temporada, vencera o Quadrangular Internacional do Rio, derrotando o Flamengo na final por 5 x 2 e ainda conquistara o Torneio de Santiago pouco depois, superando na decisão o time da casa, Colo-Colo, por 2 x 0.
Logo após a disputa interestadual, seria jogado no Rio e em São Paulo o Torneio Rivadávia Corrêa Meyer e os dois melhores cariocas na tabela se classificariam para o certame intercontinental.
A partida trouxe tamanho interesse a ponto de a torcida corintiana agrupar-se em cerca de 5.000 veículos, entre camionetes, carros de praça e particulares para ir ao Rio assistir seu time, afinal uma vitória sobre o Vasco garantiria o título para o clube. Estimou-se um público de 10 a 15 mil corintianos presentes ao jogo. O público total da partida foi de 77.881 pessoas.
A Noite (01/06/1953)
Flávio Costa surpreendeu na escalação pondo Alvinho no lugar de Ipojucan e Vavá na vaga de Genuíno.
Após um início pouco objetivo, mas mesmo assim com o comando das ações, o Vasco passou a chegar mais próximo da meta adversária e numa bola de Alvinho a Chico quase abriu o placar. O ponta tentou deslocar o arqueiro Cabeção mas tocou fraco, perdendo boa oportunidade.
Aos 42 minutos Alvinho recebeu bola esticada por Chico, atirou certeiro no canto esquerdo, mas inesperadamente surgiu o zagueiro Olavo, evitando a queda iminente da cidadela defendida por Cabeção.
O panorama na segunda etapa não foi modificado. Vasco no ataque, Corínthians atuando à base de contragolpes.
Aos 8 minutos do segundo tempo, Baltasar, partindo em arrancada, desferiu potente chute em direção à meta vascaína. Osvaldo Baliza já estava batido no lance, mas Bellini, de cabeça, impediu a abertura da contagem.
Aos 12 Vavá, perseguido de perto por um defensor contrário, esticou a pelota ao ponteiro Chico, que partiu célere para a área corintiana, sofreu falta, levou vantagem no lance, avançou e atirou violentamente, consignando o tento, mas o árbitro João Etzel anulou a jogada marcando falta no início da jogada, para irritação do ponteiro vascaíno.
Aos 17 Genuíno e Ipojucan entraram nos lugares de Alvinho e Vavá, enquanto no Corínthians Lorenzo substituía a Roberto Belangero.
Aos 23 e 25, duas mexidas no Corínthians: Julião entrou no lugar de Idário e dois minutos depois Nardo ocupou a vaga deixada por Baltasar.
Logo em seguida Genuíno perdeu grande chance de abrir o escore a favor do Vasco. O lance mais uma vez foi paralisado de forma incorreta pela arbitragem, com a marcação de impedimento inexistente do atacante vascaíno.
Aos 30, em cobrança de falta, quase Claudio vence o goleiro Osvaldo Baliza. A bola bateu no travessão.
A partir daí o time de São Januário foi todo ataque, mas encontrava dificuldades para chegar ao gol da vitória.
A dois minutos do fim, Mirim passou a Sabará, o ponteiro desvencilhou-se de Olavo e a meio metro da linha de fundo cruzou para a área. A pelota encontrou Ipojucan e este inteligentemente abriu as pernas, vislumbrando a chegada de Chico, que vinha na corrida e fuzilou para o gol, enlouquecendo a massa cruzmaltina. Vasco 1 x 0.
Quase no apagar das luzes o Corínthians atacou e Carbone, de virada, arrematou para o gol. A bola passou por debaixo do corpo de Osvaldo Baliza, mas saiu pela linha de fundo.
Final de partida e a vitória vascaína por 1 x 0, combinada com o empate no Pacaembu entre São Paulo e Flamengo (0 x 0), punham o Almirante dependendo apenas de si para se sagrar campeão.
A imprensa fez muitos elogios à atuação de Bellini, considerando alguns que o beque ganhara a condição de titular em definitivo devido à performance apresentada. Dos jornais sobraram elogios também a Augusto, Mirim, Jorge, Sabará, Maneca, Ipojucan e Chico, autor do tento decisivo. No Corínthians os destaques foram Cabeção, Olavo e Goiano, todos elementos de defesa.
Encerrado o duelo, João da Silva, dirigente vascaíno, exclamou emocionado uma frase que seria manchete no jornal “Última Hora”: “Esse além de ladrão é cínico”.
Os jornais foram unânimes em afirmar que o árbitro João Etzel havia prejudicado o Vasco na partida.
A vitória cruzmaltina classificou matematicamente o Vasco para o Torneio Octogonal Intercontinental Rivadávia Corrêa Meyer. A segunda vaga ficaria entre Flamengo e Botafogo. O rubro-negro precisaria vencer o Bangu na última rodada para fazer uma partida extra contra o alvinegro para se definir qual seria o segundo representante carioca na competição.
O Vasco teria de vencer o Santos na Vila Belmiro em partida válida pela última rodada para, enfim, ser campeão. Caso houvesse empate no confronto decidiria o título diretamente contra o Corínthians, ou num triangular do qual participaria também o São Paulo, na hipótese de o tricolor paulista derrotar a Portuguesa de Desportos na mesma data.
Três dias depois do triunfo obtido no Maracanã, mais uma vez a arbitragem prejudicou o Vasco, desta feita contra o Santos, não assinalando o auxiliar impedimento de Vasconcelos no lance do terceiro gol praiano (o jogo estava empatado em 2 x 2 com o Vasco pressionando incessantemente a meta adversária). Nicácio seria o autor do tento irregular, após rebote dado por Osvaldo Baliza em conclusão de Vasconcelos. O placar final foi mesmo 3 x 2 para a equipe da Vila.
Com a surpreendente derrota vascaína e outra do São Paulo para a Portuguesa de Desportos, o Corínthians se sagraria Campeão do Torneio Rio-SP.
Menos de um mês depois o Expresso da Vitória repararia a injustiça, derrotando a equipe do Parque São Jorge por duas vezes consecutivas, eliminando-a da competição intercontinental e chegando à final. O Vasco seria o Campeão Invicto do Torneio Rivadávia Corrêa Meyer, derrotando o São Paulo por duas vezes, no Pacaembu e no Maracanã, dias depois.
E quanto ao Flamengo? Para desespero do presidente Fadel Fadel na última rodada do Rio-São Paulo o bando rubro-negro foi derrotado pelo Bangu por 2 x 1, dando de bandeja a vaga do Octogonal Intercontinental para o Botafogo. O alvinegro, por sinal seria mais uma das vítimas do Vasco na referida competição, perdendo a vaga para as semifinais após ser derrotado pelo tradicional algoz na fase inicial por 2 x 1.
A Noite (01/06/1953)
O Globo (01/06/1953)
O Globo (01/06/1953)
Jornal dos Sports (01/06/1953)
Outros jogos do Vasco em 31 de maio:
Vasco 4 x 0 Helênico (Carioca 1925)
Andarahy 0 x 2 Vasco (Amistoso 1936)
Vasco 2 x 0 Canto do Rio (Carioca 1942)
Vasco 1 x 0 América (Carioca 1931)
Andarahy 0 x 2 Vasco (Amistoso 1936)
Vasco 2 x 0 Canto Do Rio (Carioca 1942)
Vasco 3 x 1 Portuguesa (Carioca 1969)
Vasco 4 x 1 Caxias-RS (Brasileiro 1978)
Sport Club Juiz de Fora-MG 0 x 1 Vasco (Taça Cidade Juiz de Fora 1987)
São Cristovão 0 x 2 Vasco (Carioca 1993)
Vasco 2 x 1 Grêmio (Brasileiro 2008)
Casaca!
Eu tenho orgulho de ser vascaino ate minha morte.