Ramon Platero, técnico bicampeão pelo Vasco em 1923/24, estava preocupado com razão para o clássico daquele domingo em São Januário.
A performance cruzmaltina na competição era inconvincente e até ali o time já tinha sofrido dois revezes, diante de Fluminense e América.
O Vasco havia iniciado o campeonato com dois triunfos , mas não vencia há três jogos e no último embate, diante do Madureira, decepcionara a sua torcida, obtendo apenas um empate, dentro de São Januário.
Já o Botafogo vinha se constituindo numa das grandes forças do certame até ali. Com exceção da derrota por 4 x 1 sofrida diante do Flamengo e do surpreendente empate com o Bonsucesso (2 x 2), seus outros adversários apanharam feio nos confrontos frente ao alvinegro. São Cristóvão e Madureira tomaram de cinco e o Fluminense caiu de quatro.
Tudo levava a crer que seria a forte defesa vascaína, composta pelo bom goleiro Nascimento, os dois beques, Florindo e Jahu e uma linha média de respeito, onde se destacava Zarzur, a grande arma do Vasco para segurar o ataque adversário no qual três figuras despontavam: Carvalho Leite Perácio e Patesko.
O alvinegro tinha ainda os irmãos Aymoré e Zezé Moreira, o primeiro como goleiro e o segundo na posição de médio, Nariz, destaque da zaga e Canali fechando com competência o setor defensivo pela esquerda, mas o ataque adversário era ainda uma incógnita. Gandulla e Emeal, trazidos do Ferro Carril Oeste, da Argentina, por uma pá de dinheiro ainda não haviam convencido, a posição de extrema direita já fora ocupada por Orlando, Armandinho e Lindo e as duas outras do ataque já preenchidas por cinco jogadores: Alfredo, Villadoniga, Gabardinho, Niginho e Fantoni. Antes da estreia de Emeal, quem atuava pela ponta esquerda era Luna, sacado do time para a entrada do compatriota, logo na terceira rodada.
O Vasco parecia ter um bom elenco, mas não tinha, de fato, ainda um time.
No clássico daquele domingo a vitória vascaína seria não só um sinal de melhora, mas também a chance de se igualar ao rival na tabela, enquanto para o Botafogo era a oportunidade de permanecer na liderança e se distanciar ainda mais do adversário.
A partida é lá e cá no início, mas as defesas prevalecem sobre os ataques.
Aos 9 minutos um lance de emoção e polêmica. Emeal dribla Zezé Moreira e avança pela esquerda. Já sobre a linha de fundo cruza. Aymoré falha e põe o balão de couro para dentro de seu próprio gol, mas o árbitro assinala saída de bola e o tento é anulado.
Melhor em campo o Vasco pressiona e aos 20 minutos Villadoniga cruza, mas Emeal atira mal, por cima da trave, perdendo ótima chance de inaugurar o marcador.
Volta a insistir o Vasco. Servido por Argemiro, Emeal avança e arremata para o gol, mas Aymoré defende com firmeza.
Finalmente um contragolpe do Botafogo funciona e Canali chuta no alto obrigando o goleiro Nascimento a mandar a bola para escanteio.
Logo em seguida, em novo ataque cruzmaltino, Gandulla passa a Gabardo, que corta para a direita e entrega atrás a Orlando. O chute tem endereço certo, mas Aymoré frustra a torcida vascaína praticando ótima defesa.
O Botafogo melhora na cancha e os últimos cinco minutos da etapa inicial pertencem ao onze de General Severiano, que faz a defesa cruzmaltina trabalhar para evitar sair atrás do placar antes do intervalo.
Na volta para a etapa derradeira o equilíbrio é grande e a volúpia pelo gol por parte das duas equipes aumenta.
O Vasco perde a primeira oportunidade de marcar com Villadoniga, que após receber passe de Emeal na boca do arco desperdiça a chance.
Logo em seguida, falta perigosa para o Gigante da Colina, cometida por Engel sobre Gabardo. Villadoniga cobra, mas não leva sorte. A bola estoura na trave superior de Aymoré e sai pela linha de fundo. O 0 x 0 teimoso permanece.
O time da estrela solitária não está morto e a prova disso é uma arrancada de Perácio, que atravessa boa parte do campo com a bola e cruza para Carvalho Leite cabecear por cima da trave, perdendo ótima oportunidade.
Aos 30 minutos surge o lance que definiria o jogo. Emeal desce pela esquerda e atira forte, Aymoré dá rebote e Orlando aparece para faturar. Vasco 1 x 0.
O Botafogo ainda tenta a reação, mas nem mesmo atrás do marcador consegue ser mais incisivo que o Vasco nas ações ofensivas.
A partida termina com a merecida vitória do quadro de São Januário.
Enquanto no Botafogo os destaques foram o goleiro Aymoré, além de Engel, Canali e Nariz, Emeal foi o grande nome do ataque cruzmaltino e Zarzur o maior destaque da partida, pelo equilíbrio em campo e grande espírito de luta.
A vitória vascaína punha a equipe empatada com o Botafogo e o deixava, por pontos perdidos, a um do Fluminense e dois do Flamengo. O campeonato se mostrava ainda indefinido àquela altura, quanto a seu favorito para vencê-lo.
Jornal do Brasil (29/05/1939)
O Globo (30/05/1939)
Outros jogos do Vasco em 28 de maio:
Vasco 2 x 1 Mangueira (Carioca – 2ª divisão 1922)
Nybro-SUE 1 x 4 Vasco (Amistoso 1959)
Vasco 2 x 1 São Cristovão (Carioca 1975)
Coritiba 0 x 2 Vasco (Brasileiro 1978)
Vasco 2 x 0 Portuguesa-SP (Taça Cidade Juiz de Fora 1986)
Casaca!